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“Cúpula dos BRICS no Rio marca virada histórica rumo a uma nova ordem global", diz Pepe Escobar

Com avanços em plataformas financeiras, mídia independente e cooperação Sul-Sul, encontro reforça unidade dos BRICS diante do declínio do Ocidente

Pepe Escobar, no Rio de Janeiro (Foto: Reprodução Youtube)
Redação Brasil 247 avatar
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247 – Durante dois dias intensos no Rio de Janeiro, a cúpula de meio de ano dos Brics – ampliado agora a dez países – transformou expectativas modestas em um marco estratégico para a geopolítica e a geoeconomia globais. As declarações, debates e iniciativas lançadas ao longo do evento indicam um salto qualitativo do bloco rumo a uma nova arquitetura global. O balanço foi apresentado pelo jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar, em seu Pepe Café.

“O balanço desses dois dias, especialmente dos dois ou três anteriores à cúpula, é excelente”, afirmou Escobar. Segundo ele, apesar de críticas infundadas na mídia hegemônica brasileira e ocidental, que acusavam o encontro de estar “esvaziado” pela ausência de Xi Jinping e Vladimir Putin, o que se viu foi um “trabalho sério” e “cuidadosamente articulado” por parte da presidência brasileira, com colaborações decisivas da Rússia, Índia e China.

Avanços financeiros: rumo ao pós-Swift

Um dos principais anúncios partiu do ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov. Após reuniões com a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, Siluanov revelou o lançamento de uma plataforma de pagamentos inter-Brics, tecnicamente concebida para contornar o sistema Swift, símbolo da hegemonia financeira ocidental. “Segundo Siluanov, a plataforma já foi aprovada entre todos os membros. Falta apenas formalizar o grupo de trabalho”, relatou Escobar.

A medida faz parte do que o analista vem chamando de "Brics Lab" — um laboratório geoeconômico onde são testados novos arranjos de pagamento, comércio e contratos, com foco na soberania financeira e no afastamento das estruturas dominadas pelo Ocidente.

Mídia Brics: soberania da informação e checagem global

Outro ponto surpreendente da cúpula foi o início de articulações para criar um ecossistema mediático próprio dos Brics. A proposta envolve tanto veículos de comunicação quanto sistemas de verificação de fatos independentes da influência de big techs e conglomerados ocidentais. “Estamos discutindo a constituição de uma agência de notícias Brics gigante”, afirmou Escobar.

Ele também destacou o papel da Global Fact-Checking Network, fundada na Rússia e que agora busca ramificação nos países do bloco. “Queremos levar esse sistema de checagem para todos os membros e parceiros dos Brics”, afirmou o jornalista, que participa diretamente da iniciativa.

Cooperação acadêmica e expansão estratégica

A cúpula contou com forte presença de acadêmicos chineses de alto nível, ligados a instituições como a Universidade de Tsinghua, Fudan, Renmin, e à Academia Chinesa de Ciências Sociais. Debates estratégicos ocorreram inclusive fora do cronograma oficial, como uma sessão fechada promovida pelo Beijing Club na PUC-Rio. “Foram discussões ao mais alto nível, forjando uma aproximação acadêmica que deverá se expandir à Rússia”, disse Escobar.

A presença marcante da delegação indiana, liderada por representantes próximos do primeiro-ministro Narendra Modi, também sinalizou o início de uma parceria estratégica com o Brasil, com foco especialmente na área econômica.

Business Council e protagonismo feminino

O ponto alto fora das reuniões diplomáticas foi o Brics Business Council, que reuniu empresárias e empresários de todos os continentes, incluindo África, Sudeste Asiático e América Latina. Projetos de cooperação e financiamento entre países em desenvolvimento foram debatidos e apresentados, reforçando a vitalidade do bloco.

“É onde se sente o pulso do Sul Global”, comentou Escobar. Segundo ele, houve notável protagonismo das associações femininas de empresárias dos Brics, com delegações de países como Nigéria e Egito. A desigualdade de gênero no mundo dos negócios foi destacada pelo presidente Lula, que reconheceu os avanços e a importância dessas lideranças.

Lula, a AEAN e o Sul Global

O presidente Lula anunciou que o Brasil participará da cúpula da AEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), em Kuala Lumpur, na Malásia, em outubro. Trata-se de um passo estratégico para aprofundar a aliança entre América do Sul e Sudeste Asiático, ambas regiões onde a China é a principal parceira comercial.

Em sua fala de encerramento no Business Council, Lula também rechaçou tentativas de ingerência dos Estados Unidos. Após o presidente Donald Trump anunciar a imposição de tarifas contra países dos Brics, Lula respondeu: “Ele que dê palpite na terra dele, não aqui”.

Declaração final: firmeza diplomática e denúncia global

A declaração final da cúpula, com 126 pontos, foi considerada robusta e incisiva. Denunciou o genocídio em Gaza, os ataques terroristas contra a Rússia e os ataques americanos contra instalações nucleares no Irã. “Foi uma denúncia clara do terrorismo de Estado patrocinado pelos Estados Unidos e seus aliados”, avaliou Escobar.

O chanceler russo, Sergei Lavrov, sintetizou: “O sistema montado pelo Ocidente após a Segunda Guerra Mundial está em colapso, o que explica o desespero crescente”. Para Escobar, é “a melhor definição diplomática da decadência ocidental”.

Unidade e projeção global dos Brics

A cúpula consolidou a unidade dos dez membros dos Brics – agora com Indonésia e Irã –, além dos dez países parceiros, como Bolívia, Cuba, Vietnã e Tailândia. Destaque também para o discurso de Anwar Ibrahim, primeiro-ministro da Malásia, no início do fórum empresarial. Em menos de 10 minutos, explicou com clareza a razão de ser do bloco: “Nós somos um mundo novo, não somos contra ninguém”.

Ao final do encontro, sob um raro pôr do sol carioca após dias de chuva, a mensagem foi clara: o mundo pós-Ocidente está sendo construído – e os Brics estão no centro desse processo, articulando um futuro justo, equânime, multilateral e baseado na cooperação entre povos. Assista:

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