Presidente da África do Sul defende Declaração do BRICS e pede ação global urgente para aliviar a crise da dívida na África
Cyril Ramaphosa critica sistema financeiro internacional e convoca G20 a liderar solução justa e sustentável para países em desenvolvimento
247 - O presidente da África do Sul e atual líder do G20, Cyril Ramaphosa, fez um apelo contundente por uma ação internacional urgente para enfrentar a crescente crise da dívida que sufoca países em desenvolvimento, em especial os africanos. Em sua carta semanal à nação, divulgada após a 4ª Conferência de Financiamento para o Desenvolvimento, realizada em Sevilha, na Espanha, Ramaphosa alertou que o peso insustentável da dívida ameaça comprometer o futuro de bilhões de pessoas. As informações são do site RT.
Ramaphosa afirmou que “o mundo está enfrentando desafios mais assustadores do que em qualquer outro momento”, citando como principais fatores a crise climática a pobreza crescente e a instabilidade econômica global. Para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU até 2030, ele lembrou que será necessário mobilizar cerca de US$ 4 trilhões adicionais por ano — uma meta, segundo ele, só possível mediante financiamento acessível e sustentável de longo prazo.
O presidente também apontou a consonância entre os compromissos assumidos em Sevilha e a recente Declaração do Rio de Janeiro, aprovada na Cúpula dos Líderes do BRICS. Ambas destacam a necessidade de ampliar o espaço fiscal dos países em desenvolvimento, combater a armadilha da dívida e reduzir os custos de capital.
Ao abordar diretamente o drama das nações altamente endividadas, o presidente sul-africano foi enfático: “Cerca de 3,4 bilhões de pessoas agora vivem em países que estão gastando mais em pagamentos de juros aos credores do que em saúde e educação”.
Ramaphosa citou a Comissão do Jubileu criada pelo falecido Papa Francisco para alertar sobre a urgência de um novo pacto econômico global: “Embora poucos países tenham deixado de pagar suas dívidas, eles estão deixando de pagar seus povos, seu meio ambiente e seu futuro”.
Para ele, a dívida, quando usada com sabedoria, pode ser uma alavanca de desenvolvimento. No entanto, “uma sucessão de choques externos – incluindo a pandemia de COVID-19, o efeito desestabilizador de vários conflitos ao redor do mundo e o aperto das condições de financiamento – fez com que o custo da dívida aumentasse rapidamente para muitas economias em desenvolvimento”.
Durante sua presidência do G20, a África do Sul tomou iniciativas concretas para buscar soluções estruturais. Ramaphosa destacou a criação de um Painel de Especialistas em África, presidido pelo ex-ministro das Finanças Trevor Manuel, com a missão de elaborar recomendações práticas para garantir a sustentabilidade da dívida.
“Desde então, temos nos concentrado em soluções práticas para alcançar a sustentabilidade da dívida, como melhorar o Quadro Comum do G20 para tratamentos de dívida, a fim de permitir uma reestruturação da dívida oportuna e adequada”, explicou.
Entre essas soluções, ele destacou mecanismos financeiros inovadores, como as chamadas cláusulas de dívida resilientes ao clima, que permitem a suspensão automática de pagamentos em caso de desastres naturais — uma medida que pode ajudar países vulneráveis a evitar o colapso econômico em momentos críticos.
Para Ramaphosa, é essencial garantir “intervenção oportuna e alívio adequado” às nações que enfrentam sérios desafios de liquidez. “Não faltam soluções para enfrentar o peso da dívida. O que precisamos é de vontade política para traduzir as propostas em ações e fazê-lo em uma escala que corresponda à magnitude do desafio”, sublinhou.
Ao concluir sua mensagem, Ramaphosa insistiu em que a comunidade internacional adote “uma abordagem abrangente e sistemática” para administrar as vulnerabilidades financeiras dos países de baixa e média renda.
“O mundo não pode ficar parado assistindo enquanto o aumento dos custos do serviço da dívida impede o desenvolvimento por uma geração ou mais”, alertou. Segundo ele, a África do Sul permanece comprometida em buscar, junto ao G20 e à comunidade internacional, “uma solução justa, eficaz e sustentável para a crise da dívida global”.
A fala de Ramaphosa soma-se a críticas crescentes de líderes africanos ao atual sistema financeiro internacional. Em ocasiões recentes, o presidente dos EUA, Donald Trump, e instituições como o FMI e o Banco Mundial também foram alvo de contestações por parte de lideranças do Sul Global, acusadas de priorizar interesses geopolíticos em detrimento das necessidades urgentes de países africanos.
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