'Dilma recolocou o banco do BRICS no mapa', afirma Paulo Nogueira Batista Jr.
Ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento elogia gestão de Dilma e critica o G7
247 - Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o economista Paulo Nogueira Batista Jr., ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), elogiou o papel de Dilma Rousseff à frente da instituição financeira do BRICS e fez duras críticas à participação de países do bloco em cúpulas ocidentais como o G7.
Batista Jr., que também já foi diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), destacou que Dilma devolveu protagonismo ao NBD desde que assumiu a presidência do banco em março de 2023. Reeleita ao cargo neste ano com o apoio do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ela foi reconhecida pelo economista por recolocar a instituição no radar geopolítico internacional.
“Dilma fez algumas coisas importantes: colocou o banco em evidência de novo. Quando nós criamos o banco, ele estava em evidência. Causou uma grande preocupação no Ocidente, um rival preocupante”, afirmou Batista Jr.
Alternativa ao FMI e Banco Mundial - O Novo Banco de Desenvolvimento foi concebido para ser uma alternativa às tradicionais instituições multilaterais dominadas por países ocidentais, como o FMI e o Banco Mundial. Segundo o economista, ainda que os países do BRICS devam manter presença nesses fóruns, é fundamental que construam mecanismos próprios, mais alinhados aos seus interesses.
“Se nós queremos realmente ter influência positiva, temos que continuar lá no FMI, no Banco Mundial, nos mecanismos dominados pelo Ocidente. Marcamos a nossa presença lá. [Mas] nós vamos fazer o nosso próprio processo, os nossos próprios mecanismos e, entre eles, o mais importante foi o Novo Banco de Desenvolvimento”, afirmou.
Desdolarização e moeda alternativa - Outro tema abordado foi a desdolarização — processo pelo qual o dólar é substituído por moedas locais em transações internacionais. O economista apontou que esse movimento já está em curso, especialmente entre Rússia, China e Irã, e considerou que, embora uma moeda comum nos moldes do euro seja improvável, é possível criar uma unidade de reserva paralela.
“Nós temos que continuar com nossos bancos centrais, com as políticas monetárias defendidas em âmbito nacional com as nossas moedas. […] O que se pode criar é uma moeda de reserva paralela às moedas nacionais e ao sistema ocidental, que funcionaria para viabilizar as transações entre países”, explicou.
BRICS não precisa crescer para ganhar força - Composto por dez países atualmente — África do Sul, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Irã, Indonésia e Rússia —, o grupo do BRICS não necessita de novos membros para ampliar sua influência, na avaliação de Batista Jr. Segundo ele, é possível fortalecer o bloco por meio de parcerias estratégicas sem comprometer a governança atual.
“É perfeitamente possível acomodar países como a Venezuela, não como membros plenos, mas como países parceiros — categoria criada durante a presidência russa em 2024. Bolívia e Cuba, por exemplo, entraram como países parceiros”, observou.
Mudança no processo decisório - Para que o BRICS avance com mais eficácia, o ex-dirigente defende a flexibilização das regras de decisão, que atualmente exigem unanimidade. Ele propõe iniciativas voluntárias entre países interessados, permitindo que os demais ingressem posteriormente.
“Iniciativas podem ser voluntárias e não vinculantes, podem não necessariamente envolver todos os países do grupo numa primeira etapa. Digamos: a Índia não quer entrar, por exemplo. Bem, a Índia não entra e, mais à frente, ela pode mudar de ideia. Entendeu? Não pode a Índia ou qualquer outro país dizer: ‘não, isso eu não quero’”, criticou.
Críticas à ida de Lula ao G7 - Batista Jr. também se mostrou contrário à participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última cúpula do G7, realizada no Canadá, em junho. Ele considera a presença dos líderes do Brasil, Índia e África do Sul um erro estratégico, por não terem voz ativa nas decisões do grupo.
“Achei um despropósito a ida do Lula ao G7. Lá estiveram o presidente brasileiro, o primeiro-ministro da Índia [Narendra Modi] e o presidente da África do Sul [Cyril Ramaphosa] como convidados, sem direito a influir sobre nada. O que esses três foram fazer lá valorizando o G7, quando nós criamos o G20 […] para ser um contraponto ao G7 justamente? Agora, o Lula está indo lá como convidado. Perda de tempo. No mínimo, perda de tempo”, disparou.
Brasil deve priorizar os aliados do Sul Global - Embora não defenda a ruptura com o Ocidente, o economista recomenda que o Brasil concentre esforços no fortalecimento das relações com os países do BRICS, especialmente com a China, principal parceira comercial do país.
“A posição do Brasil tem que ser vista com sutileza. Nós não temos interesse em hostilizar Estados Unidos, Europa. Nós temos interesse em estar próximos do BRICS porque o BRICS, especialmente a China, tem o que oferecer ao Brasil. O Ocidente nada tem a oferecer, a não ser problemas, interferências, estragos… Essa é a grande verdade”, declarou.
Críticas ao "protecionismo verde" europeu - Por fim, Batista Jr. apontou o “protecionismo verde” europeu como um obstáculo às exportações da América Latina. Ele avalia que o impasse no acordo entre Mercosul e União Europeia, provocado por exigências ambientais da França, pode, paradoxalmente, beneficiar o Brasil.
“Os europeus querem se reservar ao direito de assinar acordos de livre comércio conosco, mas com livre comércio só do nosso lado. Nas áreas em que nós somos competitivos, eles fazem pouquíssimas concessões”, concluiu.
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