Alimentos recuam em junho, mas BC descumpre meta para IPCA
Em junho, o IPCA teve alta de 0,24%, depois de subir 0,26% em maio, segundo dados do IBGE
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os preços dos alimentos recuaram em junho e compensaram o impacto da energia elétrica na inflação, mas ainda assim a taxa em 12 meses permaneceu acima de 5% e levou o Banco Central a descumprir a meta contínua adotada neste ano mesmo em meio a uma política monetária restritiva.
Em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 0,24%, depois de subir 0,26% em maio, mostraram os resultados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com isso, a taxa acumulada em 12 meses passou a subir 5,35%, de 5,32% em maio, permanecendo acima da meta contínua -- 3,0% medida pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos -- em todos os meses de 2025.
O Brasil adotou a meta contínua de inflação a partir deste ano, prevendo que o Banco Central deverá se explicar ao governo se o alvo for descumprido por seis meses consecutivos. A autoridade monetária vai divulgar carta aberta ao presidente do Conselho Monetário Nacional às 18h.
O BC precisa divulgar publicamente as razões do descumprimento, detalhando as causas, as medidas necessárias para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo esperado para que as medidas produzam efeito.
Os resultados do IPCA de junho ficaram um pouco acima das expectativas em pesquisa da Reuters de altas de 0,20% na comparação mensal e de 5,32% em 12 meses.
ALIMENTOS E TARIFAS
Depois de provocar preocupações no início do ano, os preços do grupo Alimentação e Bebida, com forte impacto no bolso das famílias, recuaram 0,18%, marcando a primeira queda em nove meses, depois de alta de 0,17% no mês anterior
A alimentação no domicílio caiu 0,43% em junho, com quedas nos preços de ovo de galinha (-6,58%), arroz (-3,23%) e frutas (-2,22%). Já a alta da alimentação fora do domicílio desacelerou para 0,46%.
"Após 9 meses de taxas positivas, a alimentação caiu devido à maior safra e oferta de produtos relevantes", disse Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE.
Entra no radar agora também a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de adotar uma taxa de 50% sobre as exportações brasileiras, que podem afetar produtos alimentícios-- cerca de um terço do café consumido nos EUA vem do Brasil, assim como mais da metade de todo o suco de laranja vendido nos EUA.
"Em tese, pode aumentar a oferta de produtos aqui como café e laranja, mas tem que aguardar porque outros mercados podem ser abertos para esses produtos brasileiros", comentou o gerente do IBGE.
ENERGIA E SERVIÇOS
Em junho, por outro lado, os custos da energia elétrica residencial dispararam 2,96% no mês uma vez que as contas de luz tiveram bandeira tarifária vermelha patamar 1 no mês de junho, o que implica cobrança adicional de R$4,46 a cada 100 kW/h consumidos. Essa bandeira seguirá em julho, decidiu a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
“Com alta de 6,93% no primeiro semestre do ano, a energia elétrica residencial tem pesado no bolso das famílias. Esta variação é a maior para um primeiro semestre desde 2018, quando foi de 8,02%”, destacou Gonçalves.
Com isso, o Grupo Habitação passou a mostrar avanço de 0,99% nos preços, embora tenha desacelerado ante a taxa de 1,19% de maio.
A alta de 0,27% do grupo dos Transportes, após recuo de 0,37% em maio, também pesou no resultado do IPCA. Mesmo com a queda de 0,42% dos combustíveis, as altas de 13,77% no transporte por aplicativo e de 1,03% no conserto de automóvel impulsionaram a alta. Já a passagem aérea registrou avanço de 0,80% em junho, depois de queda de 11,31% em maio.
A inflação de serviços segue como ponto de atenção, dada a resiliência do mercado de trabalho no Brasil e a renda elevada. Em junho, a inflação de serviços chegou a 0,40%, de 0,18% no mês anterior. Contribuíram para esse resultado os avanços da passagem aérea e do transporte por aplicativo, além da alimentação fora do domicílio.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, teve em junho queda a 54%, de 60% antes, marcando o menor nível desde julho de 2024 (47%). Entre os alimentícios, o índice caiu de 60% para 46% e entre os não alimentícios, manteve-se a taxa de 60%.
O Banco Central elevou no mês passado a taxa básica de juros Selic em 0,25 ponto percentual, a 15% ao ano, considerando que ela deve permanecer inalterada por "período bastante prolongado". A autarquia volta a se reunir no final de julho.
"Para o início do ciclo de cortes dos juros serão necessárias novas leituras nessa direção (de acomodação da inflação), com a continuidade da melhora do qualitativo, mas, principalmente, sinais de que a atividade e o mercado de trabalho estão sentindo os efeitos dos juros", avaliou André Valério, economista sênior do Inter.
"Esperamos que esses sinais sejam mais evidentes ao longo do terceiro e quarto trimestre, potencialmente criando condições para o Copom iniciar o ciclo de cortes na reunião de dezembro."
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