Luciana Costa defende alocação estratégica de capital para financiar a transição climática global
Diretora do BNDES destaca papel dos bancos públicos e do Sul Global na mobilização de recursos para enfrentar as desigualdades da crise climática
247 – Durante o seminário “A transição energética e a sustentabilidade do futuro”, realizado no dia 9 de julho no Rio de Janeiro, a diretora do BNDES, Luciana Costa, fez um forte apelo pela alocação eficiente de capital global na luta contra a mudança climática. O evento foi promovido pelo BNDES com apoio do Brasil 247 e do portal chinês Guancha.
Luciana ressaltou o compromisso do banco com a agenda de sustentabilidade e usou como referência a declaração final da cúpula dos BRICS, classificando o documento como uma “bússola” para um futuro ambientalmente responsável. “Se um pouco do que tá ali acontecer, o mundo caminha na direção correta”, afirmou. Mas alertou: “O aquecimento global não é igualitário. Países tropicais e produtores de commodities agrícolas, como o Brasil, vão ser muito mais impactados”.
A urgência da justiça climática e o papel dos BRICS
A diretora enfatizou a necessidade de uma transição justa, uma vez que os países mais vulneráveis são também os que menos contribuíram para a crise climática. “Se a Amazônia chegar no tipping point, o Cerrado vira deserto. O alerta para um país como o nosso é muito grande”, alertou. Luciana destacou que muitos países dos BRICS compartilham essas mesmas vulnerabilidades climáticas por estarem em zonas tropicais, o que reforça a urgência da cooperação entre eles.
Ela também reafirmou o compromisso do BNDES e dos demais bancos dos BRICS com o Acordo de Paris, mesmo diante do ceticismo global quanto à sua plena implementação: “Isso é urgente. A gente sabe que é muito difícil, muita gente já não acredita que a gente vai cumprir, mas é urgente”.
Capital global existe — o desafio é de escolha
Luciana chamou atenção para a enorme disponibilidade de capital no mundo e a contradição entre essa abundância e a escassez de investimentos efetivos em sustentabilidade. “O mundo tem mais de 350 trilhões de dólares em ativos financeiros e precisamos de 10 trilhões por ano até 2050 para a transição climática. Não é falta de dinheiro, é uma questão de alocação e escolha”, pontuou.
A diretora defendeu que o sistema financeiro global precisa mudar. “A arquitetura financeira atual dificulta a alocação de recursos onde eles são mais necessários. Países do Sul Global enfrentam ratings ruins e, por isso, pagam juros mais altos. Isso encarece os investimentos em energia limpa nesses países.”
Luciana apontou os bancos públicos como instrumentos essenciais para reverter essa lógica. “Mesmo que não tenhamos a maior parte dos recursos, temos o poder de catalisar o capital privado. Essa é a função do BNDES e dos bancos dos BRICS: atrair recursos para onde o retorno social e ambiental é mais necessário.”
O papel estratégico do BNDES
Luciana lembrou que o BNDES foi responsável por financiar boa parte da infraestrutura energética do Brasil nas últimas décadas, incluindo usinas hidrelétricas, projetos de etanol, energia eólica e solar. “O Brasil só é uma potência energética hoje porque o BNDES financiou a base disso tudo. O custo da energia renovável brasileira é metade da média da OCDE.”
Agora, o desafio é outro: apoiar o desenvolvimento de novas tecnologias como hidrogênio verde, baterias de armazenamento, fertilizantes verdes e HBI verde. “Essas tecnologias são caras no início e têm riscos elevados. O mercado não entra sozinho. Precisamos de política pública e bancos públicos atuando juntos”, defendeu.
Ela citou o exemplo da energia solar, que antes da sua escalada em larga escala, custava dez vezes mais do que hoje. “O que não é viável hoje pode ser extremamente rentável no futuro. Temos que cumprir nossa função catalítica de atrair o setor privado agora.”
Projetos, programas e geração de valor
A diretora também destacou iniciativas recentes do BNDES como prova da capacidade do banco de unir política pública e eficiência financeira. Entre os projetos mencionados estão o Fundo Amazônia — classificado por ela como o maior fundo REDD+ do mundo —, o recém-criado BNDES Azul, o programa Sertão Vivo e a operação de recursos do Ecoinvest.
“O BNDES entrou no mercado de capitais, estruturou produtos inovadores, é um banco premiado no Brasil e no exterior. E mais: dá lucro. Em 2023, teve o terceiro maior lucro do sistema financeiro”, disse Luciana, para concluir: “A gente faz política pública com eficiência e gerando valor”.
Uma questão de decisão política
Encerrando sua fala, Luciana Costa foi direta ao apontar que o verdadeiro debate não está na escassez de capital, mas na vontade de direcioná-lo corretamente. “O mundo não discute falta de recurso. O mundo discute alocação e escolha. Se queremos um futuro sustentável, temos que escolher investir nele agora”. Assista:
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