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Jovem negro morto por PM ao correr para pegar ônibus é vítima de erro e racismo, denuncia viúva

Segundo a viúva da vítima, Sthephanie dos Santos Ferreira Dias, o assassinato aconteceu "a sangue-frio"

Guilherme Ferreira, de 26 anos, foi baleado na cabeça quando corria para pegar o ônibus em Parelheiros, Zona Sul de SP; PM foi solto após pagar fiança de R$ 5.600 (Foto: Reprodução)
Laís Gouveia avatar
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247 - A morte do jovem negro Guilherme Dias Santos Ferreira, de 26 anos, segue gerando revolta e questionamentos em São Paulo. Na noite de sexta-feira (4), o rapaz foi baleado na cabeça por um policial militar quando voltava do trabalho e corria para pegar o ônibus, na Estrada Ecoturística de Parelheiros, na Zona Sul da capital paulista. As informações são do G1.

Segundo a viúva da vítima, Sthephanie dos Santos Ferreira Dias, o assassinato aconteceu "a sangue-frio" e o policial atirou pelas costas do jovem, motivado pelo preconceito racial. “Só porque é um jovem negro, preto e estava correndo para pegar o ônibus, [ele] atirou. O que é isso? Que mundo é esse? Era o único jovem preto que estava no meio [do ponto] e foi atingido. A gente quer esse policial na cadeia, ele tem que pagar. Está solto, pagou a fiança que, para ele, não é nada”, desabafou Sthephanie.

O autor do disparo, o policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, foi preso em flagrante na noite do crime, mas liberado após o pagamento de fiança no valor de R$ 5.600. Ele responde em liberdade por homicídio culposo — quando não há intenção de matar.

Morto após o expediente

Guilherme trabalhava há quase três anos como marceneiro na fabricação de camas e baús. Ele estava no segundo dia de trabalho após retornar das férias e, segundo a família, fazia diariamente o trajeto onde foi morto.

Pouco antes do crime, às 22h38, ele enviou uma mensagem para a esposa avisando que já estava indo embora. “Deu 22h e eu dormi, e do nada acordei às 2h. Olhei meu WhatsApp e tinha mensagem dele: ‘estou indo embora’ às 22h38. [Era] Duas e meia da manhã e ele não tinha chegado. Ele nunca foi de chegar tarde em casa, sempre chegou no horário. Se ocorresse alguma coisa, ele me avisava”, contou Sthephanie.

O corpo de Guilherme foi encontrado na rua pelo cunhado. “Ele estava lá jogado, não pudemos chegar perto do corpo dele. O corpo ficou até umas 7h. O povo falando que era bandido, estava o pessoal examinando o local, sem entender o que tinha acontecido”, relatou a viúva.

"Um homem de Deus"

Para a família, Guilherme deixa o legado de ser um homem trabalhador, religioso e dedicado à família. “Nunca se envolveu com nada, era do serviço para casa, da casa para a igreja e da igreja para o serviço. Era sempre assim, estava na casa dos pais ou em casa. Ele não é isso o que o povo está falando”, afirmou Sthephanie.

O casal estava junto há quase dois anos e fazia planos para o futuro, como reformar a casa, viajar e ter filhos. “O sonho dele era ser pai. A gente estava fazendo tratamento para poder gerar um filho”, disse emocionada.

A versão da polícia

O policial responsável pelos disparos alegou que estava pilotando sua moto quando foi abordado por suspeitos armados, reagiu à suposta tentativa de assalto e, durante a confusão, atirou em Guilherme, acreditando ser um dos criminosos.

Uma mulher de 26 anos que passava pelo local também foi baleada, mas socorrida. O estado de saúde dela não foi informado.

Testemunhas e colegas de trabalho de Guilherme apresentaram provas que confirmam que o jovem havia acabado de sair do serviço no momento da ocorrência. Ele registrou o ponto eletrônico às 22h28, e o crime aconteceu por volta das 22h35. Pouco antes, o próprio Guilherme publicou no status do WhatsApp uma foto do relógio de ponto marcando o horário da saída.

A Polícia Civil atualizou o boletim de ocorrência e, diante das evidências apresentadas, passou a tratar Guilherme oficialmente como "vítima" e não mais como suspeito.

Erro de percepção ou preconceito?

De acordo com o boletim, o policial pode ter cometido um erro de "percepção", atirando por engano, o que afastaria a hipótese de legítima defesa e enquadraria o caso como homicídio culposo. A arma usada — uma pistola Glock calibre .40 da Polícia Militar — foi apreendida e será periciada.

O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) conduz as investigações, com apoio da perícia técnica, que analisará os estojos de munição e demais evidências.

Revolta e cobrança por justiça

Nas redes sociais, o caso tem gerado comoção e protestos contra o racismo estrutural e a letalidade policial. A família exige que o policial seja responsabilizado e preso preventivamente. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou, em nota, que acompanha o caso e que o PM responderá ao processo em liberdade, como prevê a legislação brasileira.

Para Sthephanie, o que aconteceu com o marido é reflexo do racismo que atravessa a sociedade brasileira. “Era só um jovem negro correndo para pegar o ônibus. Só isso bastou para ele ser assassinado”, lamentou a viúva.

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