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Lula critica "hipocrisia dos que se calam" diante do genocídio palestino

Ao lado do presidente da Indonésia, Lula reforça defesa do multilateralismo e condena o silêncio internacional sobre as "atrocidades" em Gaza

Presidente da República da Indonésia, Prabowo Subianto e o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert / PR)
Guilherme Levorato avatar
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247 - Em declaração conjunta à imprensa nesta quarta-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou duramente a omissão de países e instituições diante das atrocidades cometidas contra a população palestina. A fala ocorreu durante a recepção oficial ao presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, em Brasília. Segundo Lula, "nunca tivemos medo de apontar a hipocrisia dos que se calam diante das mais flagrantes violações do nosso tempo". A cobertura é da Agência Brasil.

Solidariedade à Palestina e defesa da ONU - Durante a coletiva, Lula reiterou o apoio do Brasil ao reconhecimento do Estado Palestino e sua entrada plena na Organização das Nações Unidas, afirmando que esse passo é essencial para viabilizar uma solução de dois Estados. Ele destacou a convergência entre Brasil e Indonésia na denúncia das violações em Gaza: "Nossos países também têm denunciado incansavelmente as atrocidades cometidas contra a população palestina em Gaza".

Entrada da Indonésia no BRICS e crítica ao uso da força - Ao comentar a recente entrada da Indonésia no BRICS, o presidente brasileiro celebrou a afinidade histórica entre os dois países: "Dar as boas-vindas à Indonésia ao BRICS foi como abrir a porta de casa para um amigo de longa data", disse Lula. Ele também elogiou a crítica feita por Prabowo durante a Cúpula do bloco, quando o líder indonésio condenou a submissão do direito internacional ao uso da força. Para Lula, "a defesa do multilateralismo é mais necessária hoje do que em qualquer outro momento".

Lula reforçou ainda o apoio à adesão da Indonésia ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), mais conhecido como Banco dos BRICS, destacando seu papel no financiamento de projetos no Sul Global.

Cooperação pela paz e por soluções sustentáveis - O presidente afirmou que Brasil e Indonésia "são vozes importantes em favor da paz" e lembrou que os dois países defendem o diálogo como única via para encerrar a guerra na Ucrânia. Agradeceu ainda a participação da Indonésia no grupo de Amigos da Paz, iniciativa conjunta com a China.

Na esfera econômica e ambiental, Lula ressaltou os avanços no comércio bilateral — que atingiu em 2024 seu maior patamar histórico — e defendeu uma aliança para o desenvolvimento sustentável da bioenergia. Segundo ele, "é possível produzir bioenergia de forma sustentável, mas a definição de padrões deve ser feita na esfera multilateral, e não unilateralmente por alguns países ou blocos".

Também foi abordado o interesse brasileiro em aprofundar o intercâmbio sobre minerais estratégicos, com Lula destacando os incentivos locais promovidos pelo governo indonésio como referência.

Democracia, diversidade e combate à desigualdade - Ao destacar os laços históricos e valores compartilhados entre Brasil e Indonésia, Lula mencionou o fato de ambos os países serem "duas das maiores democracias do mundo, formadas por sociedades multiétnicas forjadas na tolerância e no respeito às diferenças". O presidente ainda frisou o compromisso comum com o combate à fome, à pobreza e às mudanças climáticas.

Por fim, Lula expressou o desejo de facilitar o comércio da carne bovina brasileira com a Indonésia, como forma de contribuir para a segurança alimentar do país asiático.

Leia a íntegra do pornunciamento do presidente Lula:

"É um imenso prazer receber o presidente Prabowo Subianto em Brasília, depois de participar a seu lado da Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro.

Dar as boas-vindas à Indonésia como membro do BRICS foi como abrir as portas de casa para um amigo de longa data.

Somos duas das maiores democracias do mundo, formadas por sociedades multiétnicas, forjadas na tolerância e no respeito às diferenças.

Possuímos rico patrimônio natural e grande parte da biodiversidade do planeta.

Há 70 anos, na Conferência de Bandung, a Indonésia já empunhava a bandeira da luta por uma ordem internacional mais justa.

Ouvi atentamente quando o presidente Prabowo criticou, na Cúpula do BRICS, que o direito internacional esteja sendo subjugado pela força.

Por isso, a defesa do multilateralismo é mais necessária hoje do que em qualquer outro momento.

O Brasil apoia a entrada da Indonésia no Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, que tem suprido importantes lacunas de financiamento no Sul Global.

Ambos somos vozes importantes em favor da paz.

Assim como o Brasil, a Indonésia sempre defendeu que o diálogo é a única saída para a guerra na Ucrânia. 

Agradeci ao presidente Prabowo pela participação indonésia no Grupo de Amigos da Paz proposto por Brasil e China.

Nossos países também têm denunciado incansavelmente as atrocidades cometidas contra a população palestina em Gaza.

Nunca tivemos medo de apontar a hipocrisia dos que se calam diante das mais flagrantes violações do nosso tempo.

Reconhecer o Estado palestino e permitir seu ingresso como membro pleno da ONU é garantir a simetria necessária para viabilizar a solução de dois Estados.

As afinidades entre Indonésia e Brasil se expressam também na abordagem de dois desafios da atualidade: o combate à fome e à pobreza e o enfrentamento à mudança do clima.

O Programa “Refeição Nutritiva Gratuita”, promessa de campanha do Presidente Prabowo, lançado este ano, é uma das maiores iniciativas de alimentação escolar do mundo, com a meta de alcançar 83 milhões de beneficiários até 2029.

A Aliança Global contra a Fome a Pobreza, criada pela presidência brasileira do G20, vai contribuir para transformar esse plano em realidade.  

Coloquei à disposição do Presidente Prabowo a experiência brasileira do Programa Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE, referência mundial sobre o tema.

Nossos países contam com duas das maiores bacias tropicais do planeta, a Amazônica e a de Bornéu.

A Indonésia está conosco no Grupo “Unidos por Nossas Florestas”, lançado em 2023, na Cúpula da Amazônia, para demandar maior financiamento ambiental.

Estamos trabalhando juntos para o lançamento, na COP30, do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que vai remunerar países em desenvolvimento que mantêm suas florestas em pé.

Também estamos entre os maiores produtores de bioenergia do mundo.

Juntos, podemos criar um mercado global de biocombustíveis, que contribuirá para descarbonizar os setores marítimo e de aviação.

É possível produzir bioenergia de forma sustentável.

Mas a definição de padrões de sustentabilidade deve ser feita na esfera multilateral, e não imposta unilateralmente por alguns países ou blocos.

Brasil e Indonésia se opõem a classificações arbitrárias que desequilibram o comércio e aprofundam assimetrias entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento.

Expressei ao Presidente Prabowo o interesse brasileiro de aprofundar o diálogo sobre minerais estratégicos.

O Brasil pode se inspirar no exemplo indonésio, em especial nos incentivos para que o beneficiamento desses recursos ocorra localmente.

No ano passado, atingimos o maior fluxo de comércio bilateral em nossa história.

A Indonésia já é o quinto maior destino dos produtos do agronegócio brasileiro.

Queremos facilitar o comércio de carne bovina brasileira, que pode contribuir para a segurança alimentar do povo indonésio.

Conversamos sobre a diversificação do nosso intercâmbio comercial, incluindo nas áreas de aviação civil e de produtos de defesa.

Uma aproximação entre o Cone Sul e o Sudeste Asiático seria benéfica para o comércio global.    

Agradeci ao Presidente Prabowo o contínuo apoio que tem dado ao estreitamento das relações entre o Brasil e a ASEAN.

A ASEAN é um bloco de 680 milhões de habitantes e tem experimentado crescimento econômico acelerado e rápida evolução tecnológica.

Seu PIB agregado é de 4 trilhões de dólares, o que representa a quarta economia do mundo, atrás de Estados Unidos, China e Japão.

Espero consolidar esses laços na próxima Cúpula do grupo, em outubro, na Malásia.

A presidência brasileira do MERCOSUL retomará, com os sócios, as tratativas sobre a celebração de um acordo com a Indonésia.

O interesse de brasileiros pela Indonésia e de indonésios pelo Brasil já é muito positivo.

Esperamos, em breve, assinar Acordo de Cooperação Educacional, que permitirá maior mobilidade estudantil entre nossos países.

A relação entre o Brasil e a Indonésia é a prova de que a sintonia entre dois países é mais relevante do que a distância que nos separa.

Esta visita renova a parceria estratégica que firmamos em 2008 e lança as bases para um relacionamento ainda mais próximo e robusto.

Deixo ao Presidente Prabowo Subianto, ao governo e ao povo da Indonésia meu sincero agradecimento, com a expectativa de que possamos nos rever em breve em Jacarta.

“Terima kasih” (Muito Obrigado)".

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