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Apple avalia usar IA do ChatGPT ou Claude no lugar da própria tecnologia para impulsionar a Siri

Gigante da tecnologia negocia com OpenAI e Anthropic para tentar reverter atraso em inteligência artificial e modernizar seu assistente de voz

Logo da Apple em Nova York (Foto: Mike Segar / Reuters)
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247 - A Apple está reconsiderando sua estratégia de inteligência artificial e pode fazer uma mudança drástica: substituir seus próprios modelos por tecnologias desenvolvidas pela OpenAI (criadora do ChatGPT) ou pela Anthropic (criadora do Claude) para atualizar a Siri, seu assistente virtual. 

Segundo informações reveladas pela agência Bloomberg, a companhia negocia a implementação de grandes modelos de linguagem (LLMs) de terceiros em sua infraestrutura de nuvem — medida que marcaria uma guinada significativa em relação à política atual de priorização de tecnologias internas.

A empresa de Cupertino, que tradicionalmente aposta em soluções desenvolvidas em casa, inclusive os chamados Apple Foundation Models, vinha preparando uma nova versão da Siri baseada nessa tecnologia própria com previsão de lançamento para 2026. No entanto, após múltiplos testes comparativos conduzidos por executivos como Mike Rockwell (chefe do projeto Siri) e Craig Federighi (líder de engenharia de software), a Apple concluiu que a tecnologia da Anthropic apresenta maior compatibilidade com as demandas do assistente de voz.

Apple ensaia ruptura com sua abordagem tradicional

A iniciativa para revisar a dependência de modelos internos ganhou tração após Rockwell e Federighi assumirem o controle da Siri, anteriormente sob responsabilidade de John Giannandrea, executivo que liderava os esforços em IA da empresa. Sua saída do comando do projeto ocorreu após críticas às funcionalidades lançadas sob sua gestão e atrasos no cronograma de entregas. Agora, a Apple avalia incorporar o Claude, da Anthropic, ou o ChatGPT, da OpenAI, à arquitetura da Siri a partir do próximo ano.

Ainda não há decisão final sobre a adoção das soluções externas, mas a pressão interna é crescente. Executivos como Rockwell passaram a considerar inevitável recorrer a terceiros para acelerar a modernização do sistema de voz e reposicionar a Apple na corrida da IA. A empresa tem testado, inclusive, a viabilidade de rodar esses modelos em sua própria infraestrutura, a Private Cloud Compute, que utiliza chips avançados fabricados pela Apple e promete garantir maior segurança e privacidade aos dados dos usuários.

Siri em crise: atrasos, promessas não cumpridas e perda de talentos

Lançada em 2011, a Siri perdeu relevância na última década e, mesmo após promessas de reformulação, continua distante das capacidades oferecidas por rivais como o Google Gemini ou a Alexa+. Em 2023, a Apple anunciou melhorias que prometiam permitir à assistente acessar dados pessoais e controlar aplicativos com mais precisão, mas essas funções foram adiadas indefinidamente. A nova previsão é que cheguem apenas na primavera de 2026.

Além dos entraves técnicos, há um clima de desânimo entre os engenheiros que trabalham nos modelos próprios. A equipe, composta por cerca de 100 pessoas sob a liderança de Ruoming Pang (ex-Google), tem manifestado frustração com a possibilidade de substituição por soluções terceirizadas. Há receio de que a medida represente um sinal de fracasso interno. “A moral da equipe está abalada”, relatou uma fonte à Bloomberg.

As tensões se intensificaram com a saída recente de Tom Gunter, um dos principais especialistas em LLM da companhia. Ele deixou a Apple após oito anos, e colegas avaliam que será difícil substituí-lo — especialmente diante de propostas milionárias de concorrentes como a Meta e a própria OpenAI, que oferecem pacotes anuais entre US$ 10 milhões e US$ 40 milhões para recrutar talentos em IA.

Negociações com OpenAI e Anthropic enfrentam entraves

Apesar da disposição para firmar parcerias, a Apple tem enfrentado obstáculos nas negociações. A Anthropic estaria exigindo um contrato bilionário com aumento escalonado nos valores a cada ano, algo que ainda trava a possibilidade de um acordo. A Apple, por sua vez, também cogita trabalhar com a OpenAI ou buscar outros fornecedores, caso os termos com a Anthropic se mostrem inviáveis.

A OpenAI já fornece funcionalidades limitadas para a Apple desde dezembro de 2024, como respostas a perguntas de conhecimento geral e sugestões de texto via os recursos do Writing Tools. Com o lançamento do iOS 26, ainda este ano, a integração com o ChatGPT será expandida para incluir geração de imagens e análise de conteúdo visual em tempo real.

Projeto Swift Assist é cancelado; Apple abre portas a IAs externas no Xcode

Outro reflexo da nova política é o cancelamento do Swift Assist, ferramenta anunciada em 2023 que usaria modelos da Apple para ajudar desenvolvedores a programar com o Xcode. Em seu lugar, será lançado um novo Xcode compatível com modelos externos — permitindo aos desenvolvedores escolher entre Claude e ChatGPT para apoio em codificação.

Embora os modelos locais da Apple — utilizados em tarefas simples como resumir e-mails ou criar emojis — continuem ativos e sejam liberados para uso por terceiros a partir do fim do ano, há temor entre engenheiros de que o uso de IA de terceiros na Siri abra precedente para mais substituições no futuro.

Mudanças de gestão escancaram transição na estratégia

As alterações na gestão de equipes ligadas à IA refletem o novo momento da companhia. Além da perda de autonomia sobre a Siri, Giannandrea também foi afastado da área de robótica e viu seus times de Core ML e App Intents serem transferidos para a supervisão de Federighi. A fundação de modelos ainda é chefiada por Daphne Luong, aliada de Giannandrea, mas seu espaço no organograma está encolhendo.

Apesar dos desafios, a Apple segue investindo pesado em IA. A empresa mantém planos de lançar produtos como um robô de mesa e óculos inteligentes baseados nessa tecnologia, além de cogitar aquisições estratégicas — como a startup Perplexity e a Thinking Machines Lab, fundada pela ex-CTO da OpenAI Mira Murati.

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