UE decide se cede a Trump por acordo rápido ou enfrenta risco de guerra tarifária com os EUA
Bloco europeu avalia aceitar tarifas unilaterais de 10% impostas por Washington ou reagir com medidas de reequilíbrio e sanções econômicas próprias
BRUXELAS, 26 de junho (Reuters) – Os líderes da União Europeia devem informar à Comissão Europeia nesta quinta-feira se desejam firmar rapidamente um acordo comercial com os Estados Unidos em termos que favorecem Washington ou continuar lutando por um tratado mais vantajoso.
Um acordo rápido parece ser a opção preferida da maioria, segundo autoridades e diplomatas, pois permitiria à UE buscar, posteriormente, formas de compensar o viés desfavorável por meio de medidas de reequilíbrio próprias.
“Eu apoio a Comissão, apoio a presidente da Comissão Europeia em seus esforços para avançar na competitividade. Também apoio a Comissão Europeia em todos os seus esforços para alcançar rapidamente um acordo comercial com os EUA”, disse o chanceler alemão Friedrich Merz.
“Quero que façamos o acordo com o Mercosul avançar e que concluamos outros tratados comerciais. A Europa enfrenta semanas e meses decisivos”, acrescentou.
A Comissão, que negocia acordos comerciais em nome da UE, consultará os líderes dos 27 países do bloco reunidos em Bruxelas sobre como devem responder ao prazo de 9 de julho fixado pelo presidente Donald Trump para fechar o acordo — agora a menos de duas semanas.
O bloco europeu afirma buscar um entendimento mutuamente benéfico, mas como Washington parece determinado a manter tarifas de 10% para a maioria dos produtos da UE e ameaça aumentar ainda mais essas taxas se as negociações se prolongarem, diplomatas europeus dizem que um número crescente de países agora prefere uma solução rápida.
“Uma guerra comercial empobrece os dois lados do Atlântico e é simplesmente estúpida. Por isso, apoio a abordagem da presidente da Comissão, que sempre manteve a calma e negociou em busca de um resultado”, afirmou o primeiro-ministro belga Bart De Wever.
“Se isso resultar em tarifas unilaterais e injustas, então teremos que adotar contramedidas proporcionais e muito direcionadas.”
Atualmente, o bloco já enfrenta tarifas norte-americanas de 50% sobre aço e alumínio, 25% para automóveis e autopeças, além da tarifa geral de 10% sobre a maioria dos outros produtos europeus — percentual que Trump ameaça elevar para 50% se não houver acordo.
Até o momento, o único acordo comercial finalizado pelos Estados Unidos é com o Reino Unido, mantendo a tarifa geral de 10%. Autoridades norte-americanas afirmam que essa taxa não será reduzida para nenhum parceiro comercial.
Dos 27 chefes de governo e Estado, 23 chegarão a Bruxelas diretamente da cúpula da OTAN em Haia. Poucos estarão dispostos a sair de um acordo militar para iniciar uma guerra econômica.
“Há um grupo de países da UE que quer proteger suas empresas ao aparentemente aceitar algo a que já se acostumaram — uma tarifa básica de 10%”, disse um diplomata europeu.
Medidas de reequilíbrio
Uma das dúvidas que os líderes europeus enfrentarão é se o bloco deve responder com medidas próprias à manutenção dessa tarifa de base.
A União Europeia já aprovou, mas ainda não impôs, tarifas sobre 21 bilhões de euros em produtos norte-americanos, e discute um novo pacote que pode atingir até 95 bilhões de euros em importações dos EUA. Alguns países do bloco são favoráveis a suavizar essas ações.
Entre as medidas de reequilíbrio em debate está a taxação da publicidade digital, que afetaria grandes empresas norte-americanas como Google (Alphabet), Meta, Apple, X e Microsoft, reduzindo o superávit comercial dos EUA em serviços com a UE. No comércio de bens, a balança é favorável à União Europeia.
A Comissão Europeia propôs um acordo bilateral com os EUA que eliminaria tarifas sobre bens industriais, além de envolver potenciais compras adicionais de gás natural liquefeito e soja por parte dos europeus.
Washington, no entanto, demonstrou pouco interesse até agora, preferindo destacar pontos que considera barreiras, como o imposto sobre valor agregado (IVA) europeu, normas ambientais e regras para plataformas digitais — pontos nos quais a UE não pretende ceder.
À margem da cúpula, os líderes da UE também tentarão aliviar as preocupações de Eslováquia e Hungria sobre o fim do acesso ao gás russo, como previsto no plano europeu de eliminar todas as importações de gás russo até o fim de 2027.
Segundo diplomatas do bloco, as garantias dos líderes sobre fornecimento de gás devem permitir que os dois países aprovem o 18º pacote de sanções contra a Rússia, que atualmente estão bloqueando.
Antes do início da cúpula, no entanto, o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, afirmou que exigirá o adiamento da votação sobre as sanções até que as preocupações de seu país sejam atendidas.
Reportagem de Philip Blenkinsop, Jan Strupczewski, Bart H. Meijer, Friederike Heine, Jan Lopatka, Milan Strahm, Andreas Rinke; Texto de Philip Blenkinsop e Matthias Williams; Edição de Raju Gopalakrishnan e Hugh Lawson
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