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Agro aciona diplomacia para conter impacto de tarifas de Trump

Exportadores brasileiros veem motivação política na medida dos EUA e temem prejuízos em cadeia para carne, café, suco de laranja e papel e celulose

(Foto: Reprodução/CNI)
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247 - O agronegócio brasileiro entrou em alerta máximo após o anúncio do ex-presidente Donald Trump de que imporá uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A medida, considerada abrupta e politicamente motivada, gerou forte reação de representantes do setor, que agora pressionam o governo brasileiro por uma resposta diplomática firme. As informações são da DW. 

A sobretaxa atinge diretamente produtos de peso na balança comercial, como carne bovina, café, suco de laranja, papel e celulose. Frigoríficos brasileiros já reduziram o ritmo da produção destinada aos Estados Unidos, e embarques de pescados estão parados nos portos, após cancelamentos em massa de pedidos de empresas americanas.

“O setor está procurando entender como a gente precisa atuar para reescalonar e redirecionar essas cargas e a produção. As indústrias brasileiras decidiram pausar temporariamente a produção destinada aos Estados Unidos”, afirmou Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Carne Bovina (Abiec), em entrevista à imprensa internacional.

Em missão nos EUA, Perosa relatou surpresa também por parte de importadoras americanas, que devem enfrentar aumento de preços. “Agora nos apresentam uma decisão política desta, fomentada inclusive por um grupo político no Brasil. É assustador, é muita imprevisibilidade. Os limites da atuação política não podem causar prejuízos à população do nosso país”, completou, sem citar diretamente a família Bolsonaro.

A carne brasileira, especialmente a dianteira do boi – pouco consumida no Brasil, mas base para hambúrgueres nos Estados Unidos –, tem sido essencial para suprir a demanda americana, agravada pela seca em regiões produtoras. Só no primeiro semestre de 2025, o Brasil já exportou 190 mil toneladas de carne bovina aos EUA, quase igualando todo o volume de 2024.

O café também está no centro da crise. “É um momento de muita tensão, muita preocupação. Mas um não vive sem o outro. O Brasil é o maior fornecedor de café para os Estados Unidos, que têm 76% de sua população que toma a bebida, o que faz deles os maiores consumidores do planeta”, disse Marcos Matos, diretor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), à DW.Das 24 milhões de sacas de café consumidas nos EUA em 2024, 8,1 milhões vieram do Brasil. O grão verde brasileiro movimenta uma indústria bilionária no país norte-americano: para cada dólar importado, são gerados 43 dólares na economia local, segundo estudo da National Coffee Association.

Enquanto isso, o setor de suco de laranja enfrenta risco de colapso. A CitrusBR alertou que a tarifa tornaria inviável a exportação ao mercado americano, principal destino do suco brasileiro na safra 2024/25, com 41,7% do total exportado. "Trata-se de uma condição insustentável para o setor, que não possui margem para absorver esse tipo de impacto", diz a entidade, que vê risco de paralisação de colheitas e desorganização das fábricas.A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) avalia que a medida americana prejudicará toda a cadeia produtiva e aposta numa solução diplomática. “Se trata de uma questão política que precisa ser debatida entre os países. Afinal, tal ação não vai só desfavorecer o exportador brasileiro, mas também o próprio consumidor americano”, afirmou a entidade.

O governo brasileiro, por ora, evita retaliar e aposta na via diplomática. “Vamos esperar ‘abaixar a poeira’. Se não houver consenso, o Brasil é soberano, não aceitará imposições unilaterais”, afirmou Luís Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Ele acrescentou que o governo já acelerou a diversificação de mercados desde a volta de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência e que 393 novas oportunidades de exportação foram abertas desde 2023.

O presidente da Abiec, por sua vez, sinaliza o redirecionamento da produção para outros mercados. “O rearranjo deve ser feito com países para os quais já exportamos”, disse, citando países asiáticos e do Oriente Médio. O Mapa informou que está em contato direto com as entidades do agro e pretende adotar medidas para reduzir os impactos da crise.A decisão de Trump, que classificou como “insuficientes” os esforços do Brasil no combate ao narcotráfico, deixou em suspenso produtos já embarcados e gerou incerteza entre empresários e produtores. Com menos de um mês para a entrada em vigor da medida, o tempo corre contra o setor, que vê com urgência a necessidade de um recuo americano — ou, ao menos, de uma negociação que suavize os danos à economia brasileira.

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