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Sobretaxa dos EUA causa embaraço na bancada ruralista, que cobra Lula, mas silencia sobre Trump

Alinhada a Bolsonaro, FPA evita criticar Trump, mas cobra ação do governo diante da ameaça de prejuízos bilionários ao agronegócio brasileiro

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e agronegócio (Foto: Joédson Alves/ABr | Jorge Adorno/Reuters)
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247 - A ameaça do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma sobretaxa de 50% a produtos brasileiros a partir de 1º de agosto mergulhou a bancada ruralista em um dilema político. Com forte alinhamento ao bolsonarismo e vínculos históricos com o trumpismo, deputados e senadores da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) preferem mirar suas críticas no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas evitam condenar publicamente a medida que pode gerar prejuízos bilionários ao agronegócio.

Segundo reportagem do jornal O Globo, a apreensão é grande entre os parlamentares do agro, principalmente pela importância dos Estados Unidos como segundo maior parceiro comercial do Brasil. Os setores mais vulneráveis à nova tarifa são justamente os mais influentes na base bolsonarista: produtores de café, carne e laranja.

Embora a FPA tenha emitido nota defendendo uma “resposta firme e estratégica” do governo federal e pedindo uma “diplomacia afiada”, o grupo tem evitado qualquer crítica direta à família Bolsonaro ou ao ex-presidente americano. A explicação é política: boa parte desses parlamentares foi eleita sob a chancela de Jair Bolsonaro, que ainda exerce forte influência no campo e nos estados produtores.

O presidente da FPA, deputado Pedro Lupion (PP-PR), resumiu o tom adotado pela bancada: “A postura (da oposição) de culpa do governo federal é correta. Houve um derretimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos. O desafio deve permanecer na linha diplomática para que se resolva tecnicamente o assunto. É necessário equilíbrio e não confundir economia com política ou ideologia”.

Internamente, ruralistas citam como gatilhos da reação americana declarações de Lula, como a defesa de uma moeda alternativa ao dólar durante a cúpula dos Brics. “Eu acho que o mundo precisa encontrar um jeito de que nossa relação comercial não precise passar pelo dólar”, afirmou o presidente na semana passada, criticando a centralidade da moeda americana nas transações globais.

O desconforto se agrava diante de outras posturas da política externa do governo Lula, como o apoio à causa palestina e a recusa em criticar regimes autoritários como os de Cuba, Venezuela e Irã — o que, na visão de parlamentares do agro, fragiliza as relações com países ocidentais.

Apesar do atrito com Lula, os ruralistas mantêm diálogo com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD-MT), considerado um interlocutor pragmático e disposto a conter danos. Fávaro classificou a medida anunciada por Trump como “indecente” e afirmou já ter contatado as principais entidades do setor. O ministro também prometeu buscar novos mercados para as exportações brasileiras.

Para evitar prejuízos mais profundos, a bancada do agro defende que o governo brasileiro atue com cautela e firmeza, sem agravar ainda mais a tensão. Uma das alternativas legais é o uso da Lei da Reciprocidade Econômica, sancionada neste ano após tramitar com apoio unânime no Congresso. A norma, relatada pela senadora Tereza Cristina (PP-MS), permite ao Brasil aplicar medidas comerciais contra países que adotem barreiras discriminatórias a produtos nacionais.

Além de criar instrumentos de retaliação, a lei também confere à Câmara de Comércio Exterior (Camex) poderes para suspender concessões e investimentos de países que prejudiquem a competitividade brasileira.

Mesmo assim, analistas alertam para os riscos de respostas precipitadas. O tom político da ameaça de Trump e a eleição presidencial nos EUA em 2024 colocam o Brasil em posição delicada: precisa defender seus interesses sem comprometer suas relações em um dos mercados mais estratégicos do planeta.

Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 40 bilhões aos EUA, com destaque para produtos como petróleo, carne bovina, café, aeronaves e aço. Por outro lado, o país também depende de importações essenciais, como máquinas, combustíveis e carvão.

O constrangimento ruralista revela o quanto os laços com Bolsonaro e Trump limitam a autonomia política da FPA. Enquanto o agronegócio pede cautela, a diplomacia brasileira caminha sobre uma corda bamba, tentando preservar seus mercados e manter a estabilidade em um cenário internacional cada vez mais volátil.

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