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Eugênio Bucci: Gaza é o símbolo de uma humanidade em colapso

Jornalista e professor denuncia o horror em Gaza, discute o papel das palavras diante da desinformação e alerta para os perigos da barbárie atual

Ministério da Saúde palestino identificou o homem como Mohammed Halawa, 32, e disse que ele foi baleado por soldados a leste do campo de refugiados de Jabalya; fatalidade deste domingo é a primeira 50 dias após o encerramento em agosto da guerra de Gaza (Foto: Gisele Federicce)
Redação Brasil 247 avatar
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247 – Em entrevista ao programa Giro das 11, da TV 247, conduzido pelo jornalista Gustavo Conde, o professor e ensaísta Eugênio Bucci refletiu sobre a barbárie na Faixa de Gaza, o colapso do discurso público e o avanço de uma lógica instrumental que desumaniza a política e a comunicação. A conversa girou em torno do lançamento de seus dois livros mais recentes: A razão desumana (Autêntica) e Que não se repita (Seja Breve).

Indagado sobre a tragédia humanitária em Gaza, Bucci não hesitou em classificar os acontecimentos como inaceitáveis: "O que acontece em Gaza não é aceitável em função da agressão contra uma população desarmada, indefesa e que vem sofrendo violências indescritíveis", afirmou, denunciando os bombardeios a alvos civis, como cafés, e a morte de dezenas de pessoas. Ele é integrante da Comissão ARMs, que recentemente publicou nota denunciando os crimes contra civis palestinos com termos como “extermínio”.

Para Bucci, o que está em jogo vai além da geopolítica: trata-se de um ponto de ruptura com os valores mais básicos da civilização. "Cada criança morta lá é uma civilização que morre. Nós precisamos ter isso presente", disse. Ele alertou para o risco da normalização do horror, em meio a um noticiário que, segundo ele, banaliza as mortes diárias de mulheres e crianças palestinas: "São assassinadas. São transformadas em alvo de uma poderosa artilharia".

A luta pelas palavras e o desafio da desinformação

O autor também destacou o papel central da linguagem na construção da realidade democrática: "Não há uma ação civilizatória que não seja embasada em palavras", declarou. Segundo ele, a guerra em Gaza é também uma batalha semântica: "Existe uma disputa pelas palavras que é da maior importância. Que caracterização deve ser dada ao que vem se passando em Gaza?". Bucci defendeu o uso responsável e preciso de termos como “genocídio”, alertando para o poder simbólico e político das escolhas linguísticas.

Essa preocupação com o esvaziamento do sentido das palavras é central no livro A razão desumana, cujo subtítulo é "Cultura e informação na era da desinformação inculta e sedutora". Para Bucci, vivemos um tempo em que "a desinformação não pode mais ser entendida como ausência de informação". Ela se tornou um sistema autossuficiente, que bloqueia o acesso ao conhecimento e contamina o debate público com falsificações deliberadas.

O perigo da razão desumana e o avanço técnico sem ética

Na entrevista, Bucci explicou o conceito que dá título à sua obra: "Existe uma razão se movendo que não é humana. Mais do que isso, ela é desumana". Inspirando-se na metáfora do monstro de Frankenstein, ele descreve a técnica — surgida do engenho humano — que se desprende de seus criadores e se alinha ao capital para sustentar formas de dominação e destruição.

Ele citou as casas de apostas e seu domínio sobre veículos de comunicação como exemplo: "Em razão do que emissoras sérias se dispõem a veicular esse tipo de malefício que destrói vidas? Em razão de uma lógica que se torna desumana".

Críticas ao obscurantismo e aos monopólios digitais

Ao final, Bucci comentou a votação no STF sobre a regulação das plataformas digitais. Considerou que há falhas no texto e que o julgamento deve ser revisto, mas apontou um problema estrutural: "Não pode haver uma situação em que um grupo, que é um monopólio global, interfira nas decisões da esfera pública brasileira". Segundo ele, liberdade de expressão é um direito humano das pessoas — e não das corporações.

Questionado se esse processo seria uma forma de neoobscurantismo, Bucci concordou: "A ignorância, o obscurantismo e o fanatismo convêm a um pacto de poder".

O chamado à indignação

A entrevista se encerrou com um apelo à consciência ética: "Humanidade não é um coletivo de seres humanos. É uma condição acima disso, que nos faz ter respeito, acolhimento e pertencimento em relação às outras pessoas", disse. E concluiu, com firmeza: "Se isso [o massacre em Gaza] está acontecendo, isso precisa ser interrompido. Ou nós não somos humanos". Assista:

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