'Não vou cortar gasto para mostrar número no azul', afirma Wolney Queiroz
Ministro da Previdência diz que prioridade é pagar aposentados vítimas de fraudes e reduzir fila do INSS, não ceder à pressão fiscal do Congresso
247 - Dois meses após assumir o comando do Ministério da Previdência Social, Wolney Queiroz (PDT) afirma que está próximo de concluir uma das principais tarefas delegadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): ressarcir aposentados e pensionistas prejudicados por descontos indevidos. A informação foi dada em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta sexta-feira (27). Segundo o ministro, os pagamentos devem começar até setembro, tão logo o Supremo Tribunal Federal (STF) valide os critérios estabelecidos para os repasses e o Congresso aprove o crédito extraordinário necessário.
“Estou mergulhado nessa missão”, declarou Queiroz, ao comentar o pedido feito por Lula para reparar os prejuízos causados a milhares de beneficiários do INSS, vítimas de associações fraudulentas. A devolução do dinheiro seguirá a ordem cronológica das reclamações registradas no sistema do INSS. “Receberá primeiro quem entrou no sistema e reclamou primeiro, porque não está faltando dinheiro para pagar”, garantiu.
Fraude sistêmica e falhas do Estado - O ministro reconheceu que o Estado brasileiro falhou ao permitir que essas irregularidades se prolongassem ao longo dos anos. “As primeiras denúncias começaram em 2017 e 2018, passaram pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, mas não foram adiante”, explicou. Para Queiroz, o episódio abriu espaço para a criação de um ambiente institucional favorável à auditoria de benefícios e revisão de processos. “Onde eu vejo indício, já despacho ofício para a inteligência”, disse, em referência ao trabalho articulado com a PF e o MPF.
Embora ele tenha participado de uma reunião em 2023 onde o tema foi mencionado por Tonia Galleti, ex-conselheira do Conselho Nacional de Previdência Social, Queiroz afirmou que, na época, o caráter da informação não configurava uma denúncia formal. “O que ela fez foi um comentário de que estava sabendo de descontos. Não tinha esse caráter de denúncia para achar que, por conta daquilo que foi falado, haveria uma investigação".
'O ladrão entrou na casa em 2019' - Questionado sobre o período em que se intensificaram as fraudes, o ministro foi direto: “para poder haver a escalada, a tomada do território foi ali em 2019. Ali o ladrão entrou na casa”. Ele atribui o avanço das irregularidades ao período entre 2019 e 2022, quando houve crescimento significativo no número de acordos de cooperação com entidades suspeitas. Embora o Supremo investigue a eventual participação de pessoas com foro privilegiado, Queiroz disse não dispor de informações sobre envolvimento de parlamentares.
Sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que poderá ser instalada no Congresso para investigar o caso, ele demonstrou preocupação com possíveis atrasos no cronograma de pagamento. “Pode haver atraso no ressarcimento. E haveria uma briga de narrativa eleitoral que não interessa à sociedade, não interessa ao aposentado".
Prioridade: reduzir a fila do INSS - A outra grande missão assumida pelo ministro é eliminar o represamento de concessões de benefícios. “O ministério herdou um represamento artificial, proposital, com objetivo claro de economizar”, disse. Para reverter esse quadro, a meta é reduzir a espera para concessão de aposentadorias para menos de 45 dias — atualmente a média está em 44.
Em meio à pressão do Congresso por cortes de gastos, Wolney Queiroz se mantém firme. “Minha função é conceder os benefícios a quem os merece. A prioridade é essa. Eu não vou cortar gasto para poder apresentar número no azul”, afirmou.
Críticas à reforma da Previdência e plano de mudança estrutural - Questionado sobre a necessidade de uma nova reforma, o ministro foi crítico à última aprovada. “Foi muito equivocada porque ela não levava em conta o tema da Previdência em si, e sim a economia que se geraria". Embora se declare contrário à ideia de nova reforma, Queiroz vê distorções no modelo atual. Ele defende, por exemplo, que aposentadorias rurais deixem de ser contabilizadas como despesa previdenciária, passando à área de assistência social. “O sistema de Previdência é eminentemente contributivo".
Segundo o ministro, mudanças mais profundas nos processos e estruturas internas do INSS estão entre suas metas a médio prazo. “Quero mexer nas estruturas e fazer uma mudança efetiva dos processos".
Relação com o PDT e futuro político - Apesar de o PDT ter se declarado independente após sua nomeação, Queiroz minimizou a posição do partido e afirmou que irá se reunir com a bancada para “amenizar isso”. Afirmou ainda que a legenda apoiará a reeleição do presidente Lula.
Sobre uma possível candidatura em 2026, ele foi cauteloso. “Não estou pensando nisso agora. Se eu conseguir entregar o que estou pensando, construir esse ambiente novo no ministério até abril, posso ser candidato".
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