Esquerda ou direita? Pergunte aos seus amigos
'Penso que a sociedade brasileira é, majoritariamente, de esquerda ou centro-esquerda. Essa maioria precisa ser ativada de forma adequada'
Você acredita que as desigualdades sociais devem ser combatidas ativamente pelo Estado? Acredita que todas as pessoas, independentemente de sua origem, devem ter acesso igualitário à saúde, à educação e às oportunidades de trabalho? Na sua visão, as diferenças econômicas refletem mais o esforço individual ou as disparidades geradas por injustiças estruturais? O Estado deve intervir na economia para reduzir as injustiças sociais? Os movimentos sociais - como o feminismo, o antirracismo, o ambientalismo, os que combatem a LGBTfobia - são, para você, instrumentos legítimos de transformação da realidade?
No esteio do debate iniciado na semana passada, quando a sociedade brasileira foi provocada a refletir sobre as realidades de pobres e ricos - especialmente em torno da discussão sobre a taxação de bilionários, bancos e casas de apostas - pode ser um exercício interessante conversar com familiares e amigos para identificar onde suas visões de mundo se situam no espectro político: à esquerda ou à direita.
As perguntas apresentadas no primeiro parágrafo são inspiradas no pensamento do intelectual italiano Norberto Bobbio, e surgem a partir da leitura da obra Esquerda e Direita – Guia Histórico para o Século XXI, do historiador e político português Rui Tavares. A elas, caberia, talvez, ainda uma outra, absolutamente atual e reveladora para a realidade brasileira: Você acha justo que o governo taxe mais os ricos para financiar serviços públicos para os mais pobres, isentando a classe média e as camadas populares?
Tavares, ao longo de sua obra, também dialoga com Perry Anderson, filósofo e historiador marxista britânico. À luz de sua abordagem, seria possível reformular o mesmo teste a partir de uma outra perspectiva. Eis algumas perguntas possíveis: Você acredita que a história das sociedades humanas é, em grande parte, a história da luta entre dominantes e dominados? Acredita que vivemos em uma sociedade estruturada por lutas entre classes sociais? Na sua opinião, o capitalismo é um sistema que deve ser reformado ou superado? Considera que as grandes decisões econômicas devem ser tomadas democraticamente ou deixadas ao mercado? A propriedade privada deve ser protegida mesmo quando gera concentração extrema de renda e poder? Você vê os interesses do capital financeiro como compatíveis com os interesses da maioria da população?
Sinceramente, não ficaria nada surpreso se, mesmo ao optar pelas perguntas na linha de Perry Anderson, a conclusão a que você chegasse - ao aplicar esse teste - fosse de que a imensa maioria das pessoas com quem convive, inclusive aquelas que porventura tenham batido continência para a bandeira americana ou vestido a “amarelinha”, são, no fundo, de esquerda ou de centro-esquerda.
Penso que a sociedade brasileira se localiza, majoritariamente, nesse campo. O que falta, talvez, é que essa maioria seja ativada de forma adequada. Concordam com o conteúdo defendido pela centro-esquerda e pela esquerda. O que não compreendem - ou com o que não se identificam - é a forma como esse conteúdo é apresentado. Seja porque o método esteja ultrapassado, seja porque a linguagem e os códigos criam ruído, impedindo que a mensagem ultrapasse a primeira linha.
Talvez esteja aí o nó a ser desatado. E que, convenhamos, pode ser mais fácil de desfazer do que se imagina.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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