Escola para criança com TEA: além da reputação é necessário avaliar a inclusão real
A escolha da escola muitas vezes é guiada por critérios como tradição ou desempenho em rankings, mas, para crianças com TEA, esses fatores são secundários
A volta às aulas é um período de expectativa e planejamento para todas as famílias, mas para pais de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), essa fase exige uma atenção especial. Escolher a escola certa não se resume a analisar grades curriculares ou infraestrutura física; trata-se de encontrar um ambiente que acolha, entenda e promova o desenvolvimento integral da criança. Como psicólogo infantil com especialização em Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness e experiência no setor de psiquiatria infantil da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, acompanho famílias nesta jornada há anos.
A minha colega Dra. Tatiana Moya, psiquiatra Infantil e doutora pela USP é categórica: “A primeira prioridade é verificar se a escola realmente tem uma política inclusiva e se ela ocorre de fato na prática”. Não basta que a instituição afirme ter projetos de diversidade; é preciso observar como eles se materializam. Na minha experiência clínica, reforço: os pais devem ir além do discurso institucional e buscar evidências concretas. Perguntas-chave incluem:
• Há adaptações no método de ensino e avaliação para alunos com necessidades especiais?
• A criança com TEA é incentivada a participar de todas as atividades, sem segregação?
O segundo ponto, segundo a psiquiatra, é buscar depoimentos de outros pais: “Conversar com famílias que já vivenciaram o processo na escola revela como a inclusão funciona no dia a dia”. Concordo plenamente e, em meu consultório, sempre enfatizo: a voz de quem viveu a realidade da escola é insubstituível. Ela alerta: “Priorizar a reputação da escola em detrimento da capacidade real de inclusão é um erro comum. Uma instituição renomada acadêmicamente pode não estar preparada para lidar com singularidades do TEA”.
Da Teoria à Prática: Como Evitar Armadilhas - A escolha da escola muitas vezes é guiada por critérios como tradição ou desempenho em rankings, mas, para crianças com TEA, esses fatores são secundários. Como costumo orientar os pais em sessões de orientação familiar, a adaptação começa antes mesmo da matrícula. A Dra. Tatiana reforça: “A inclusão precisa ser palpável. Se a escola não permite que os pais vejam como as adaptações são feitas, desconfie”. Visitas presenciais, diálogo com professores e observação de como os alunos interagem são essenciais.
Na minha prática com mindfulness para crianças, percebo que ambientes que equilibrem estímulos sensoriais e ofereçam momentos de pausa — como salas de acolhimento ou atividades de respiração — são ideais para crianças com TEA, que podem ser sensíveis a sobrecargas do cotidiano escolar. Sugiro aos pais que perguntem se a escola inclui práticas de mindfulness em sua rotina ou se está aberta a colaborar com terapias complementares, algo que, em parceria com a equipe escolar, já vi transformar processos adaptativos.
A adaptação não é responsabilidade apenas da criança. Na minha experiência de parcerias com o setor de educação infantil, trabalhei com escolas para desenvolver planos individualizados, e é isso que recomendo: escolas preparadas entendem que incluir significa ajustar-se às necessidades do aluno, e não o contrário. Peça para conhecer o plano de adaptação individualizado:
• Entrada gradual: Horários reduzidos nas primeiras semanas.
• Apoio especializado: Presença de um mediador ou psicólogo escolar.
• Comunicação constante: Reuniões periódicas entre família, equipe pedagógica e terapeutas.
A Dra. Tatiana destaca: “A participação da criança em todas as atividades é um termômetro da inclusão real. Se ela é excluída de festas, excursões ou trabalhos em grupo, algo está errado”. Essa é uma bandeira que levanto em palestras e workshops para educadores — inclusão não é sobre tolerar diferenças, mas sobre integrá-las.
A educação de uma criança com TEA não se resume a cumprir etapas curriculares, mas a construir um caminho de respeito às suas potencialidades. Como profissional dedicado ao tema, afirmo: escolas verdadeiramente inclusivas não apenas aceitam diferenças, mas celebram a diversidade como parte do aprendizado coletivo.
Aos leitores desta coluna, reforço: a decisão deve ser guiada por observação crítica, diálogo com especialistas e escuta ativa às necessidades da criança.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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