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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: [email protected]

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Danilo Pereira Júnior assume Vice-Diretoria do Fórum da Justiça Federal em Curitiba sob a sombra de escândalos não esclarecidos

A solenidade, que teve a presença de Sergio Moro, escancarou a continuidade de vínculos obscuros entre figuras centrais da Operação Lava Jato

Moro (à direita) na abertura da solenidade (Foto: Reprodução)

A recente posse do juiz federal Danilo Pereira Júnior como vice-diretor do Fórum da Justiça Federal em Curitiba, em cerimônia que contou com a presença do senador e ex-juiz Sergio Moro, reacende uma série de suspeitas e episódios mal explicados envolvendo os bastidores da Justiça Federal no Paraná.

A solenidade, marcada pela formalidade, escancarou, no entanto, a continuidade de vínculos obscuros entre figuras centrais da Operação Lava Jato e práticas judiciais e extrajudiciais que, desde 2019, vêm sendo denunciadas sem que as autoridades competentes tomem providências efetivas.

Sergio Moro se tornou ministro da Justiça, depois se elegeu senador pelo Paraná, sua esposa, Rosângela, se elegeu deputada federal por São Paulo, e ex-procurador da república Deltan Dallagnol foi eleito deputado federal e acabou cassado, mas hoje recebe dinheiro público do Fundo Partidário, por meio do Partido Novo.

A lista da infâmia é maior. O procurador Januário Paludo, citado pelo doleiro Dario Messer como beneficiário de propina, continua livre, leve e solto. A pena de demissão decidida pelo Conselho Nacional do Ministério Público ao procurador Diogo Castor de Mattos, que foi estagiário de Deltan Dallagnol, virou letra morta, pela inação da Procuradoria Geral da República.

O mentor da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, foi para um escritório de advocacia que recebeu R$ 28 milhões da Eletrobras, empresa investigada pela franquia da operação no Rio de Janeiro. Acredite: Carlos Fernando vende serviços de compliance para corporações como a Eletrobras.

Danilo Pereira Júnior, agora alçado a um dos cargos mais simbólicos da Justiça Federal na capital paranaense, tem um passado que destoa da imparcialidade esperada de um magistrado.

Antes de ingressar na magistratura, ele atuou como advogado do consórcio Garibaldi, alvo de intervenção do Banco Central após a descoberta de um esquema fraudulento — do qual o próprio Danilo teria sido beneficiário, conforme relatório da autoridade monetária. Segundo apurações, a esposa do agora vice-diretor chegou a ser contemplada irregularmente com um carro.

O episódio, longe de ser página virada, ganha contornos mais graves quando se considera a sequência de acontecimentos após sua nomeação como juiz federal. Em 2003, Danilo teria pressionado um ex-gestor do Garibaldi a prestar depoimento falso ao então juiz Sergio Moro, culminando na prisão do empresário Antônio Celso Garcia, o Tony. Esse último viria a se transformar em uma espécie de “agente infiltrado” de Moro — prática ilegal, uma vez que o papel de um juiz é julgar, não investigar.

Como agente infiltrado, Tony Garcia teria sido usado para atrair empresários e autoridades para armadilhas jurídicas, todas sob a jurisdição da 13ª Vara Federal de Curitiba, chefiada por Moro.

A manipulação da jurisdição e a instrumentalização de delatores para fins de investigação fraudulenta evidenciam um desvio funcional que, mesmo depois de vir à tona por meio de denúncias feitas por Tony Garcia ao Brasil 247, não resultou em responsabilizações. O inquérito aberto pela Polícia Federal há quase dois anos segue engavetado na Procuradoria-Geral da República, revelando um preocupante quadro de inércia institucional.

A presença de Moro na cerimônia de posse de Danilo Pereira Júnior não é casual. Ambos estão entrelaçados em uma teia de ações judiciais marcadas por denúncias de abuso de autoridade, manipulação de provas e uso político da magistratura.

O relacionamento entre juiz e senador também é citado em outro episódio obscuro: a chamada “festa da cueca”, ocorrida no Hotel Bourbon, em Curitiba, onde desembargadores do TRF-4 teriam sido filmados em confraternização com prostitutas.

O registro das imagens, segundo fontes que tiveram acesso ao depoimento do advogado Sérgio Costa, prestado há cerca de 15 anos — colaborador de um dos processos conduzidos por Moro — teria sido sonegado da investigação por Danilo, quando este assumiu a 13a. Vara Federal, em 2023.

Por dever de ofício, esse depoimento teria de ser encaminhado à Corregedoria do TRF-4 tão logo prestado. Mas não há registro de que isso tenha ocorrido. Moro teria utilizado o material como moeda de influência sobre a segunda instância da Justiça Federal no sul do país.

Mesmo tendo sido transferido temporariamente para o TRF-4, no ano passado, Danilo escapou de um afastamento que era considerado iminente nos bastidores, sob a relatoria do ministro Dias Toffoli. Havia, segundo fontes do próprio tribunal, forte pressão para que o juiz fosse responsabilizado por obstrução de investigação e ocultação de provas, mas a medida nunca se concretizou.

A ascensão de Danilo Pereira Júnior a um cargo de liderança na Justiça Federal escancara não apenas a impunidade de personagens centrais do lavajatismo, mas também a degradação de garantias institucionais. A Justiça, que deveria ser a última trincheira da democracia, segue manchada por práticas de lawfare, manipulações políticas e silêncio cúmplice dos órgãos de controle.

Enquanto o inquérito repousa em alguma gaveta da PGR e vídeos comprometendo magistrados permanecem “perdidos”, a cerimônia no Fórum de Curitiba não celebra a justiça. Celebra a sequência da impunidade.

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