Celso Amorim reconhece veto à entrada da Venezuela no BRICS, mas nega exclusão da cúpula
Ex-chanceler e assessor de Lula destaca que outros países também não foram convidados para o encontro
247 - Durante entrevista ao jornalista Breno Altman, editor do site Opera Mundi, o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, esclareceu a posição do governo brasileiro em relação à Venezuela no contexto da ampliação do BRICS e da última cúpula do bloco, realizada no Rio de Janeiro. Amorim confirmou que o Brasil não apoiou o ingresso formal da Venezuela como membro do BRICS, mas rechaçou a versão de que teria havido um veto à presença do país como observador na reunião, destacando que outros países da região tampouco foram convidados.
“Não houve um veto”, disse Amorim sobre a ausência de convite à Venezuela para participar da cúpula. Segundo ele, a seleção dos países observadores foi orientada por critérios de afinidade política e equilíbrio interno do grupo. “Queríamos um BRICS equilibrado em todos os sentidos para ele poder ter o efeito que nós queremos”, explicou. Ele ainda citou que Argentina, Peru e Equador também não estiveram presentes no encontro, sinalizando que não se trata de um caso isolado nem de discriminação à Venezuela.
Amorim reforçou que o Brasil reconhece Estados, não governos, e que mantém relações diplomáticas normais com Caracas. “O Brasil não reconhece governos, reconhece Estados, e estamos mantendo com a Venezuela uma relação normal”, afirmou. Ele sublinhou ainda que a política externa brasileira se baseia no princípio da não intervenção, mas também no respeito aos acordos internacionais firmados.
No diálogo com Altman, o assessor especial criticou sanções unilaterais impostas à Venezuela e relembrou o envolvimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em esforços de mediação na região. “Eu concordo que a Venezuela é vítima de ações unilaterais. O Brasil sempre se opôs, talvez tenha sido o país que se opôs não só da boca para fora, mas efetivamente”, disse Amorim. Ele também destacou que, durante o governo Bolsonaro, o Brasil chegou a cogitar uma “intervenção humanitária” no país vizinho, o que classificou como uma ameaça de guerra.
Sobre o processo eleitoral venezuelano, Amorim fez críticas ao que considera o descumprimento de etapas previstas em acordos como o firmado em Barbados. “Na nossa opinião, aquele processo não foi seguido”, afirmou. Ele ressaltou, no entanto, que a crítica não configura interferência: “não é ingerência nos negócios internos. Havia uma previsão de etapas a serem cumpridas, e essas condições não foram totalmente cumpridas”.
O assessor ainda relatou sua atuação pessoal como testemunha no processo de mediação: “fui três vezes à Venezuela nesse período”, disse. Em tom descontraído, também comentou sua imagem pública controversa entre os dois países: “sou o único cara que aqui no Brasil sou chamado de antiamericano, e aí na Venezuela sou persona non grata porque era agente americano. Então eu devo estar com equilíbrio razoável”.
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