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Mauro Vieira: BRICS amplia influência global com diplomacia pragmática e defesa do multilateralismo

Sob a liderança do Brasil em 2025, bloco consolida expansão e reforça papel do Sul Global em meio a múltiplas crises internacionais, avalia o chanceler

Mauro Vieira (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Guilherme Levorato avatar
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247 - Em artigo publicado na revista do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, apresentou um balanço e uma defesa contundente da atuação do BRICS em 2025, ano em que o Brasil exerce a presidência rotativa do bloco. O chanceler parte de duas premissas para contextualizar o momento atual: o agravamento das crises globais e a consolidação do BRICS como uma resposta diplomática criativa e eficaz.

Segundo Vieira, "a premissa do mundo em crise nos assalta a cada momento", com a escalada de conflitos armados em pelo menos 59 países no último ano — o maior número desde o fim da Segunda Guerra Mundial, de acordo com a Universidade de Uppsala. Ele menciona explicitamente as guerras na Ucrânia, Mianmar e Sudão, o genocídio palestino na Faixa de Gaza e a espiral de violência no Haiti, como demonstrações da falência do atual sistema multilateral de segurança.

“Em encontro recente, em Madri, de países comprometidos com a solução de dois Estados para o conflito no Oriente Médio [...] lembrei que ninguém poderá alegar ignorância, agora ou no futuro, quanto às atrocidades e agressões que têm sido cometidas cotidianamente não apenas em Gaza, mas também na Cisjordânia”, afirmou.

Esgotamento das instituições globais e riscos sistêmicos - O chanceler brasileiro alerta para a paralisia da ONU e de seu Conselho de Segurança, instituições que, em sua visão, não acompanham as transformações geopolíticas do século XXI. A crise também atinge o sistema de comércio global: medidas protecionistas adotadas pelos Estados Unidos, como tarifas unilaterais, fragilizaram ainda mais a Organização Mundial do Comércio, já em declínio.

Vieira também denuncia o impacto da desinformação nas democracias, alimentada por redes sociais dominadas por "engenheiros do caos", termo cunhado por Giuliano da Empoli. A manipulação política por meio de plataformas digitais estaria corroendo os fundamentos democráticos, aponta o chanceler.

O BRICS como espaço criativo e estratégico de concertação - Para além das crises, Mauro Vieira exalta a trajetória do BRICS como um instrumento de diplomacia inovadora. O grupo, nascido da proposta teórica do economista Jim O’Neill em 2001, se consolidou por meio de encontros entre ministros das Relações Exteriores, culminando na Cúpula de Ecaterimburgo (2009), com a posterior entrada da África do Sul em 2010.

A heterogeneidade do grupo, vista inicialmente como um obstáculo, acabou sendo um diferencial positivo. Sem uma estrutura burocrática formal, como um secretariado, o BRICS priorizou a flexibilidade e o consenso. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), com sede em Xangai e hoje liderado por Dilma Rousseff, foi um marco. A instituição já aprovou 120 projetos, somando US$ 40 bilhões, em áreas como infraestrutura, saneamento e energia renovável.

A nova configuração do BRICS e os desafios da ampliação - Com a adesão de novos membros, como Irã, Egito, Etiópia, Indonésia e Emirados Árabes Unidos, o BRICS passou a ter 21 integrantes, entre membros plenos e parceiros. A presidência brasileira assumiu a tarefa de reorganizar o funcionamento do grupo, preservando os princípios fundacionais: apoio à reforma das instituições multilaterais, como a ONU, e a rejeição a sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança.

“A sintonia fina da construção de consensos no formato ampliado vai requerer um tempo de adaptação, mas a primeira reunião de chanceleres da presidência brasileira já indicou uma grande coincidência de pontos de vista”, explicou Vieira.

Brasil busca avanços concretos em comércio, saúde e clima - O governo brasileiro estabeleceu três prioridades para o BRICS em 2025: aprofundamento da cooperação na área da saúde, convergência de posições sobre mudanças climáticas (com foco na COP30) e o desenvolvimento de mecanismos para facilitar o comércio e os investimentos entre os membros.

Ao defender o protagonismo do bloco, Vieira rebate acusações de viés antiocidental: “por geografia, por laços culturais e por trajetória, o Brasil está claramente identificado com o Ocidente, mas não abre mão de seu papel crítico em relação à atual desordem mundial”.

Rumo à cúpula do Rio de Janeiro e à consolidação do Sul Global - O chanceler destaca que o BRICS ampliado representa 39% do PIB global, metade da população mundial e grande parte da produção energética do planeta. Com esses números, o grupo se fortalece como interlocutor legítimo do Sul Global frente aos desafios planetários — da desigualdade à crise climática.

A presidência brasileira também coordena os trabalhos do G20, espaço que, segundo o ministro, tem se mostrado eficaz na construção de consensos, como no lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, apoiada por mais de 80 países.

“O foco no pragmatismo e na obtenção de resultados concretos demonstrará a viabilidade da cooperação e do diálogo político no bloco”, conclui Mauro Vieira.

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