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Derrota no IOF foi gota d'água para relação já estremecida entre Haddad e Hugo Motta

Decisão da Câmara de derrubar decreto sobre o IOF escancara crise entre ministro da Fazenda e presidente da Casa, antes aliados

Fernando Haddad e Hugo Motta (Foto: Diogo Zacarias/MF)
Guilherme Levorato avatar
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247 - A relação entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), atingiu seu ponto mais crítico após a derrota do governo Lula (PT) com a derrubada do decreto que alterava regras do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, o episódio expôs um racha entre os dois, que até pouco tempo atrás eram considerados aliados próximos na articulação política e econômica do governo.

A crise se agravou após Motta anunciar, de forma inesperada e pelas redes sociais, que colocaria em votação a proposta que revogava o decreto do Executivo. No dia seguinte, a Câmara aprovou a matéria por ampla maioria: 383 votos favoráveis e 98 contrários, impondo nova derrota ao Palácio do Planalto e ao titular da Fazenda.

De “noite histórica” a críticas públicas - A ruptura não veio do nada. No início de junho, Motta chegou a chamar de “histórica” a reunião com Haddad para discutir mudanças no IOF. No entanto, dois dias depois, passou a fazer duras críticas à proposta da equipe econômica, o que já havia sinalizado o início de um desgaste.

Questionado sobre a mudança de postura do parlamentar, Haddad declarou em entrevista à Folha:

“Eu não sei o que aconteceu depois daquele domingo [dia da reunião]. Eu não briguei com ninguém, eu nem posso brigar com ninguém, tenho uma agenda para cumprir e tenho um compromisso com o país, com o presidente da República".

Aliados de Motta afirmam que, nos bastidores, ele se sente traído por Haddad. O deputado teria atribuído ao ministro da Fazenda a origem de críticas veiculadas na imprensa sobre sua conduta nas negociações. Esses relatos indicam que Motta passou a considerar a relação como abalada por uma “quebra de confiança”.

Elogios a Lira acirraram o clima - Outro fator que contribuiu para o distanciamento foi a fala de Haddad durante um jantar em São Paulo, onde o ministro elogiou o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), sem mencionar Motta. O gesto foi interpretado pelo atual presidente da Casa como uma crítica velada.

Na semana passada, a tensão foi tema de uma reunião com lideranças da Câmara e representantes do governo, como a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), e o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). Conforme relato de participantes, Motta se queixou do que chamou de “fogo amigo” por parte do governo durante as tratativas no Congresso.

Haddad, ao ser informado da insatisfação de Motta, tentou contornar a situação. Gravou uma mensagem de áudio ao deputado negando ter feito qualquer crítica indireta, alegando que não tem o hábito de fazer esse tipo de insinuação. Segundo fontes, Motta respondeu de forma evasiva, sugerindo que ambos “deixassem a poeira baixar”. Apesar da tentativa de reconciliação, o presidente da Câmara passou a ignorar as ligações do ministro.

O próprio Haddad confirmou à Folha que buscou desfazer o mal-entendido.

“Não fiz essa referência que chegou ao presidente da Câmara. E ele foi informado disso por mim”, disse, sem entrar em mais detalhes.

Aliados falam em diálogo, mas relação está rompida - Interlocutores de Motta afirmam que hoje a relação com Haddad “é inexistente”. Ainda assim, alguns congressistas, como o líder do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), considerado próximo de ambos, devem atuar como mediadores para tentar restabelecer o diálogo.

Motta, procurado via assessoria de imprensa, não respondeu à reportagem.

Apesar das divergências, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem mantido apoio ao ministro da Fazenda. O presidente avalia positivamente a estratégia de Haddad de cobrar mais impostos dos mais ricos, sob o argumento de que o governo está comprometido em ampliar os investimentos sociais. Internamente, no entanto, houve incômodo com os ruídos na articulação política.

Antes mesmo do recuo inicial sobre o IOF, Haddad havia demonstrado otimismo a Lula em relação ao apoio no Congresso. Quando Motta surpreendeu o governo ao anunciar a votação nas redes sociais, essa confiança se esvaiu. Ministros próximos ao presidente, em conversas reservadas, classificaram a atitude do titular da Fazenda como 'ingênua', ao apostar no aval de um Congresso que continua majoritariamente opositor.

Com a nova derrota no plenário e o clima de desconfiança instaurado, a interlocução entre o Ministério da Fazenda e a presidência da Câmara se torna um desafio adicional para o governo, que tenta avançar com pautas fundamentais para sustentar sua agenda econômica e social.

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