Após derrota, líder do governo na Câmara defende "ajuste geral da base" no Congresso
José Guimarães critica articulação política e pede reorganização após Câmara derrubar decreto que elevava o IOF
247 - A derrubada do decreto presidencial que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) expôs a maior derrota do governo Lula (PT) em seu terceiro mandato e provocou uma reação imediata do líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE). Em entrevista ao jornal O Globo, Guimarães defendeu uma recomposição ampla da base aliada no Congresso Nacional e apontou a necessidade de reavaliar as relações com os presidentes das duas Casas, Hugo Motta (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado).
“Defendo que seja feita recomposição. Eu defendo um ajuste geral da base, inclusive, da relação aqui dentro. Tanto da Câmara como do Senado, porque o problema hoje ocorre nas duas Casas”, declarou Guimarães, em tom de autocrítica e alerta.
Choque político e reação imediata - A derrota ocorreu em uma votação remota, sem debate em plenário, o que acentuou o desconforto do governo. O decreto que aumentava o IOF foi rejeitado com apoio de parlamentares que, em tese, integram a base governista. O líder apontou a falta de aviso prévio e criticou o comportamento de Motta Alcolumbre.
“Eles resolveram levar a voto sem comunicar a nós. Essa é a minha insatisfação e a minha queixa política. Porque, numa relação, é sempre muito bom ter transparência, lealdade e compromisso com a verdade”, afirmou Guimarães.
Pressão por reorganização e corte de gastos - O parlamentar cearense também reconheceu que a articulação política enfrenta problemas estruturais e admitiu lentidão em processos do governo, como a execução orçamentária. No entanto, rechaçou a ideia de erro por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O presidente trata institucionalmente. Faz as reuniões com os dois presidentes ou individualmente. É isso que tem que fazer”, disse, afastando a possibilidade de uma presença mais incisiva de Lula nas articulações rotineiras.
Guimarães sugeriu que o governo vai ter que contingenciar recursos e rever gastos. “O governo vai ter que arrochar, vai ter que contingenciar, vai ter que bloquear a todos e a tudo. Isso não significa ameaça de nada. É a realidade da economia”, pontuou.
Ele também defendeu cortes nos chamados "incentivos de exoneração tributária", que somam R$ 800 bilhões, e ajustes em programas como o AtestMed e o Seguro Defeso, bem como a introdução de biometria no BPC. “Temos que moralizar”, reforçou.
Desalinhamento interno e disputa por protagonismo - Questionado sobre a movimentação de Hugo Motta e Alcolumbre para acelerar a votação contra o decreto, Guimarães reconheceu a existência de uma ação política articulada. "Os dois se unificaram muito. Eu vinha saudando que essa união era muito importante para estabelecer o diálogo com o governo, mas, neste caso, foi um desserviço ao governo".
Ele revelou que só soube da pauta no dia da votação e que, apesar de ter conversado com Motta na véspera, não foi informado da intenção de levar o tema a plenário. “Foi um erro grave e um precedente ruim para a Casa”, disse.
Reorganização da base e eleição de 2026 - O líder admitiu que o ambiente no Congresso já está tomado pelo debate da sucessão presidencial. “Não se fala de outra coisa aqui dentro a não ser reeleição. Eleição de 2026. Ligaram o botão automático da eleição”, afirmou. Ele também criticou partidos com cargos no governo que já sinalizam apoio a outros nomes.
Guimarães ainda antecipou que defenderá uma proposta para que o PT articule uma federação com partidos da esquerda. “Eu vou defender uma tese que eu vou colocar no PT a partir do dia 6, com o presidente eleito, que é tomar federação do PDT ao Psol. Nós vamos ser uma federação política".
Críticas ao discurso ‘nós contra eles’ - Para Guimarães, a crise atual não deve alimentar uma narrativa de confronto entre o governo e o Congresso. “Isso está errado, não tem que ser discurso de nós contra eles. O discurso que tem que ser é a defesa dos pobres e dos ricos pagarem imposto, os super-ricos. Esse é o discurso”, destacou. E concluiu: “o Brasil está numa encruzilhada, chegou a hora da onça beber água. Os de cima precisam pagar uma conta que nunca pagaram".
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