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Relatório do Parlamento francês defende fim da vassalagem diante dos EUA e parceria com a China

Deputada Sophia Chikirou propõe nova estratégia para a União Europeia, com foco na soberania industrial, transição ecológica e cooperação com Pequim

Os presidentes Macron e Xi (Foto: Xinhua )
Redação Brasil 247 avatar
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247 – Em um momento de redefinição das alianças globais, um relatório contundente apresentado na Assembleia Nacional da França propõe uma mudança radical na política europeia em relação à China. Elaborado pela deputada Sophia Chikirou e publicado pela Comissão de Assuntos Europeus em 17 de junho de 2025, o documento denuncia a submissão da União Europeia aos Estados Unidos e defende uma aliança estratégica com Pequim, baseada na soberania, na justiça econômica e na transição ecológica. A reportagem é baseada na íntegra do relatório parlamentar.

“O atlantismo ideológico que molda a política externa da União Europeia está nos afastando de nossos próprios interesses”, afirma Chikirou no texto. Segundo ela, desde que a Comissão Europeia passou a tratar a China como “rival sistêmico” em 2019, os laços bilaterais vêm se degradando rapidamente. A deputada critica o engajamento europeu em uma “guerra comercial absurda” impulsionada por Washington e alerta que a UE se tornou refém de uma lógica de confrontação que enfraquece sua própria autonomia.

Europa enfraquecida e dependente

O relatório traça um diagnóstico severo da situação da Europa: perda de influência diplomática, desindustrialização, dependência tecnológica e fragmentação política. Chikirou aponta que essas fragilidades decorrem de um modelo econômico baseado no “dogmatismo liberal” e na abertura irrestrita dos mercados. Em resposta, propõe uma estratégia de reindustrialização ancorada em princípios de soberania e solidariedade: controle de importações, exigência de contrapartidas tecnológicas, apoio a setores estratégicos e proteção do mercado interno.

O texto também antecipa os riscos de uma reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos, cujo discurso agressivo contra a China e a própria União Europeia já se intensifica. “A União Europeia é, em muitos aspectos, pior do que a China”, declarou Trump em coletiva à imprensa na Casa Branca, em maio de 2025 — frase citada pelo relatório como exemplo do desprezo do republicano pelas instituições europeias.

China como parceira indispensável

Contra essa lógica de enfrentamento, Chikirou defende que a China deve ser tratada como uma potência parceira, com a qual é possível construir uma relação baseada em respeito mútuo e interesses comuns. “Toda tentativa de intimidação está fadada ao fracasso”, afirma. Ela ressalta que Pequim tem papel central no multilateralismo, na redução da pobreza global e na liderança da transição energética. O relatório condena a narrativa de confronto promovida pelos “falcões” norte-americanos e afirma que a Europa precisa romper com o ocidentalismo para traçar seu próprio caminho.

Nesse sentido, Chikirou propõe uma série de iniciativas conjuntas com a China: reforma da governança mundial, criação de uma moeda global alternativa, estabelecimento de uma agência internacional de desenvolvimento no âmbito da ONU, acordos ecológicos e um fundo climático financiado com impostos sobre os lucros das empresas fósseis.

Papel singular da França

O texto sublinha o papel histórico e estratégico da França nessa reorientação. Herdeira da tradição diplomática gaullista, Paris foi o primeiro país ocidental a reconhecer a República Popular da China, em 1964. “Cabe à França retomar sua vocação de potência de equilíbrio e voz independente”, diz a deputada. Ela sugere aprofundar parcerias em áreas como o setor espacial, veículos elétricos, biossegurança, ensino da língua chinesa e inteligência artificial.

Entre as 50 propostas apresentadas, destacam-se a criação de joint ventures franco-chinesas em mobilidade elétrica, programas educacionais em cooperação, acordos sobre proteção de dados e propriedade intelectual, além do fortalecimento do diálogo interparlamentar entre os dois países.

Transição ecológica com a China

Chikirou também destaca o papel fundamental da China na transição ecológica global. Segundo o relatório, Pequim lidera a produção de painéis solares, baterias e veículos elétricos, e mantém compromissos firmes com os objetivos do Acordo de Paris — em contraste com os Estados Unidos, que abandonaram e depois reingressaram no pacto sob diferentes governos. “A transição energética não será possível sem a China”, adverte.

Uma visão soberana para o século XXI

A mensagem central do relatório é clara: a Europa precisa libertar-se da vassalagem estratégica aos Estados Unidos e reconstruir sua autonomia política, econômica e diplomática. “A ausência de uma política coerente da UE exige da França uma posição independente e soberana”, conclui Chikirou, que convida os demais países europeus a aderirem a uma estratégia pragmática, aberta ao diálogo e voltada para o multilateralismo real.

O documento será debatido nas comissões parlamentares nas próximas semanas e já provoca repercussão nos meios diplomáticos e acadêmicos. Mais do que uma análise das relações com a China, trata-se de uma proposta abrangente para a redefinição do papel europeu no século XXI — entre a submissão e a soberania, entre o confronto e a cooperação.

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