Lavrov participa de cúpulas da ASEAN na Malásia em gesto estratégico de reforço da multipolaridade
Presença russa fortalece parceria com o Sudeste Asiático, reafirma ascensão do Sul Global e desafia expansão da OTAN na Ásia
247 - O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, desembarcou nesta quinta-feira (10) na Malásia para participar de uma série de reuniões de alto nível promovidas pela Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). Segundo a agência estatal russa TASS, o chanceler russo participará da Cúpula Rússia-ASEAN, da Cúpula do Leste Asiático (EAS) e do Fórum Regional da ASEAN (ARF), encontros que evidenciam a intensificação da diplomacia entre Moscou e os países do Sudeste Asiático.
A visita, que se estende até o dia 11 de julho, ocorre num momento em que o mundo presencia uma reorganização das alianças geopolíticas e um fortalecimento das articulações entre os países do Sul Global. A participação russa nos fóruns da ASEAN simboliza não apenas a busca por cooperação mútua, mas também o avanço de uma ordem internacional multipolar que desafia o domínio das potências ocidentais, especialmente os Estados Unidos, liderados atualmente pelo presidente Donald Trump.
De acordo com a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, Lavrov manterá uma agenda intensa de reuniões bilaterais com chanceleres asiáticos. "Haverá uma troca de avaliações sobre a situação atual dos assuntos globais", afirmou Zakharova, acrescentando que se espera uma "discussão difícil sobre as questões mais agudas da geopolítica atual".
Segundo a diplomata, a delegação russa irá denunciar os crescentes riscos da militarização da região Ásia-Pacífico e apontar as tentativas da aliança militar ocidental OTAN de expandir sua presença para o continente asiático. “A Rússia dedicará atenção especial ao combate ao uso de tecnologias da informação e comunicação para fins criminosos”, destacou a porta-voz.
A ASEAN, composta por dez países do Sudeste Asiático — Brunei, Vietnã, Indonésia, Camboja, Laos, Malásia, Mianmar, Singapura, Tailândia e Filipinas — foi fundada em 1967 e, ao longo das décadas, se consolidou como um importante polo econômico e diplomático regional. Em 2025, a presidência rotativa do bloco está sob comando da Malásia, país anfitrião dos eventos atuais.
Para a Rússia, a aproximação com a ASEAN representa mais que diplomacia protocolar. Trata-se de uma aposta estratégica em relações horizontais, baseadas em soberania e interesses comuns. Em contrapartida, para os países do Sudeste Asiático, o fortalecimento dos laços com Moscou pode garantir maior autonomia estratégica frente às pressões geopolíticas da “região Indo-Pacífico” — conceito promovido pelos Estados Unidos e seus aliados para justificar sua presença militar e econômica no entorno da China.
O cenário reforça o movimento de ascensão do Sul Global, em que países emergentes e em desenvolvimento ampliam suas trocas econômicas, tecnológicas e diplomáticas, independentemente das agendas impostas por Washington ou Bruxelas. Essa dinâmica integra o espírito da multipolaridade: mais vozes, mais centros de poder e decisões compartilhadas de maneira mais justa.
A presença de Lavrov em Kuala Lumpur sinaliza, ainda, uma continuidade da política externa russa voltada para a Ásia, especialmente desde 2022, quando o país enfrentou severas sanções do Ocidente. Desde então, Moscou intensificou relações com países como China, Índia, Irã e, agora, reafirma seu compromisso com os países da ASEAN, que, juntos, somam mais de 600 milhões de habitantes e um PIB combinado superior a US$ 3 trilhões.
Em meio à crescente disputa entre grandes potências, os países da ASEAN se tornam protagonistas e árbitros de seu próprio destino. A recepção ao chanceler russo, portanto, representa mais que cortesia diplomática: é um sinal de que a região busca ampliar suas alianças em direção a uma nova configuração internacional, mais equitativa e representativa.
O aprofundamento das relações entre Rússia e ASEAN também pode fomentar iniciativas de infraestrutura, cooperação energética, intercâmbio tecnológico e comércio em moedas locais, reduzindo a dependência do dólar norte-americano — medida que fortalece a soberania econômica e financeira dos países do Sul Global.
Ao participar das cúpulas em Kuala Lumpur, Lavrov reforça o papel da Rússia como um dos pilares da nova ordem mundial em gestação. Uma ordem que valoriza a autodeterminação dos povos, a soberania dos Estados e o multilateralismo efetivo, distante das imposições unilaterais que marcaram a política externa das potências ocidentais nas últimas décadas.
Nesse sentido, os encontros desta semana na Malásia podem marcar um novo capítulo na cooperação entre a Rússia e o Sudeste Asiático, com impactos significativos para a consolidação de uma ordem internacional multipolar e solidária, que privilegie o diálogo e a parceria entre iguais.
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