EUA enfrenta impasse em negociações tarifárias com aliados
Com prazo final em 9 de julho, Washington pressiona 20 países e pode elevar impostos sobre importações além do patamar de 10%
247 - A duas semanas da data-limite imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a conclusão de novos acordos comerciais, diversos países ainda enfrentam obstáculos que dificultam a assinatura dos pactos e aumentam o risco de tarifas mais elevadas sobre seus produtos. A reportagem é da Bloomberg News.
Batizado pelo governo norte-americano como “Dia da Libertação”, o prazo final é 9 de julho. A partir dessa data, países que não tiverem firmado acordos bilaterais com os EUA passarão a enfrentar tarifas superiores aos atuais 10% cobrados pela Casa Branca. Somente o Reino Unido assegurou até o momento um entendimento com os EUA — embora parcial, já que manteve a alíquota de 10% e não solucionou impasses antigos, como os 25% cobrados sobre o aço britânico.
A administração Trump, que negocia com aproximadamente 20 países, pode adiar os prazos para aqueles considerados parceiros “de boa-fé”, segundo afirmou Adam Farrar, analista de geoeconomia da Bloomberg Economics para a região Ásia-Pacífico. “É cada vez mais provável que o governo estenda a suspensão tarifária para quem demonstra disposição real de negociar”, avaliou.
Farrar também alertou que Trump pretende impor tarifas de forma unilateral para países que, em sua avaliação, não estejam cooperando. “O governo norte-americano pretende definir as alíquotas em acordos do tipo ‘pegue ou largue’. Ainda não está claro o que os EUA exigirão ou oferecerão nesses casos”, escreveu o analista em nota técnica.
União Europeia e Japão sob pressão
Entre os parceiros mais relevantes, as negociações com a União Europeia patinam. Trump reclamou publicamente da condução das conversas e ameaçou impor tarifas unilaterais. Bruxelas espera ao menos um acordo de princípios que permita a extensão das tratativas após o prazo. Caso contrário, o bloco poderá responder com medidas compensatórias.
O Japão enfrenta impasse semelhante. O principal entrave são as tarifas sobre automóveis. O primeiro-ministro Shigeru Ishiba e Trump não chegaram a um acordo durante a cúpula do G7 no Canadá, mesmo após três conversas anteriores sobre o tema. As tarifas sobre produtos japoneses podem chegar a 24%, além dos atuais 25% sobre automóveis e 50% sobre aço e alumínio.
Índia resiste a transgênicos e busca isenções
A Índia tenta avançar num acordo provisório, mas enfrenta pressões de Washington para abrir seu mercado a produtos agrícolas geneticamente modificados, o que Nova Délhi tem recusado. O governo indiano, por sua vez, busca isenções tarifárias específicas, o que tem emperrado as negociações.
Sudeste Asiático aposta em compras e diplomacia
Na Ásia, o Vietnã intensificou os esforços para concluir um pacto com os EUA. O líder do Partido Comunista, To Lam, lidera uma comitiva aos EUA e propôs ampliar a compra de produtos norte-americanos, de aviões da Boeing a bens agrícolas. O país busca fixar tarifas entre 20% e 25%, em acordo com Washington.
A Malásia também busca proteger setores estratégicos. O primeiro-ministro Anwar Ibrahim afirmou que o país tenta garantir tarifas abaixo de 10% para os semicondutores, produto que responde por 60% das exportações malaias aos EUA. “As tarifas dos EUA são um desafio significativo”, afirmou Anwar após reunião com o secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick.
Na Tailândia, as negociações começaram com atraso, mas a proposta oficial já foi entregue a Washington. O país tenta evitar a tarifa de 36% ameaçada pelo governo Trump. “Nossa proposta é sólida e pode reduzir a tarifa ao patamar de 10%”, disse Vuttikrai Leewiraphan, secretário permanente do Ministério do Comércio tailandês.
América do Norte: entre velhas tensões e novas promessas
O Canadá tenta evitar tarifas adicionais, mas ainda diverge dos EUA em temas sensíveis como migração e tráfico de fentanil na fronteira. O premiê Mark Carney tenta chegar a um entendimento até meados de julho. Em paralelo, Ottawa prepara um plano para elevar as tarifas sobre aço e alumínio caso as tratativas fracassem.
Já o México, que enfrenta uma tarifa de 50% sobre o aço, estava prestes a firmar um acordo com Trump antes da cúpula do G7. A reunião, no entanto, foi cancelada devido à saída antecipada do presidente norte-americano. Um novo encontro com a presidente Claudia Sheinbaum está previsto, e a revisão do USMCA (acordo comercial entre EUA, México e Canadá) deve começar ainda este ano.
Coreia do Sul e Suíça enfrentam obstáculos internos
A Coreia do Sul ainda não apresentou avanços significativos. O novo ministro do Comércio, Yeo Han-koo, esteve em Washington no fim de junho para tentar assegurar isenções, mas o cancelamento do encontro entre os presidentes Lee Jae Myung e Trump no G7 esfriou os ânimos. Se não houver progresso, Seul poderá sofrer com tarifas de até 25% sobre aço e automóveis.
Na Europa, a Suíça tenta minimizar os impactos das tarifas oferecendo concessões em produtos agrícolas. O ministro da Economia, Guy Parmelin, trabalha para concluir um acordo antes do prazo. Porém, a inclusão do país na lista de observação cambial dos EUA e a recente redução da taxa de juros pelo banco central suíço evidenciam a pressão crescente sobre a economia local.
Incertezas jurídicas e riscos de retaliação
Além das negociações técnicas, o cenário é agravado por disputas legais internas nos EUA, que questionam a autoridade de Trump para impor tarifas de forma tão ampla. Isso tem gerado apreensão em empresas que, nos últimos dois meses, aumentaram antecipadamente suas importações ou apostaram que as ameaças do presidente eram meras táticas de barganha.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: