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Dalai Lama anuncia que haverá sucessor após sua morte e China exige aprovação estatal

China denuncia manipulação separatista da figura do Dalai Lama

O líder espiritual tibetano, Dalai Lama, oferece bênçãos aos seus seguidores em sua residência no Himalaia, na cidade montanhosa de Dharamshala, no norte da Índia, em 20 de dezembro de 2024 (Foto: REUTERS/Priyanshu Singh)
Luis Mauro Filho avatar
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247 - Por ocasião de seu 90º aniversário, o 14º Dalai Lama anunciou nesta quarta-feira (2) que haverá um sucessor após Dsua morte, mantendo viva a tradição espiritual tibetana. A declaração, feita no mosteiro de McLeod Ganj, na Índia — onde vive exilado desde 1959 — reacende a disputa geopolítica em torno da sucessão do líder budista. A informação foi divulgada pela agência AFP.

“Afirmo que a instituição do Dalai Lama continuará”, afirmou o líder religioso, acrescentando que recebeu “numerosos pedidos” vindos da diáspora tibetana e de budistas do Himalaia, da Mongólia, da China e da Rússia. “Em particular, recebi mensagens por diferentes canais de tibetanos no Tibete com o mesmo chamado”, declarou em vídeo exibido durante reunião com religiosos.

A reação da China foi imediata. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, reiterou que a reencarnação de grandes figuras do budismo tibetano deve seguir protocolos estabelecidos em território chinês.

Ela também reforçou a exigência de aprovação pelo governo. “A reencarnação do Dalai Lama, do Panchen Lama e de outras grandes figuras budistas deve ser escolhida por sorteio em uma urna de ouro e aprovada pelo governo central”, afirmou.

Contexto político e histórico da sucessão

A discussão sobre a reencarnação do Dalai Lama vai além de uma divergência teológica: trata-se de uma disputa pela soberania sobre a região chinesa de Xizang (conhecida no Ocidente como Tibete). Segundo a cônsul-geral da China no Rio de Janeiro, Tian Min, o grupo liderado pelo 14º Dalai Lama representa os remanescentes da aristocracia teocrática e escravocrata que dominava a região até 1951. “Eles constituem uma facção política separatista, apoiada e instrumentalizada por forças hostis internacionais, cujo verdadeiro intento é promover a chamada ‘independência do Xizang’”, afirmou em coluna publicada recentemente.

Essa acusação ganha respaldo histórico em documentos do Departamento de Estado dos EUA, divulgados em 1998, que confirmam o apoio da CIA ao movimento separatista tibetano nas décadas de 1950 e 1960. Conforme revelou o Los Angeles Times, a agência de inteligência norte-americana destinou cerca de 1,7 milhão de dólares por ano ao movimento tibetano no exílio e repassou ao próprio Dalai Lama um subsídio anual de 180 mil dólares ao longo de toda a década de 1960. A CIA também financiou guerrilheiros tibetanos no Nepal, campos de treinamento no Colorado e campanhas políticas pró-Tibete em Nova York e Genebra.

Essas ações faziam parte da estratégia de contenção do comunismo adotada pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria, visando minar governos como os da China e da então União Soviética. Ainda segundo o LA Times, a CIA encerrou sua atuação direta no início dos anos 1970, mas os efeitos políticos e simbólicos dessa intervenção perduram até hoje.

Reencarnação sob regulação estatal

A reencarnação dos Budas Vivos — título conferido a grandes mestres do Budismo do Xizang — é uma tradição com mais de sete séculos. Desde a dinastia Qing, o reconhecimento de tais figuras passou a seguir rituais específicos, como o sorteio da urna dourada, sempre sob supervisão do poder central. O próprio Tenzin Gyatso, atual Dalai Lama, foi entronizado em 1940 com a aprovação do governo central chinês da época.

Em 2007, o governo da China promulgou o Regulamento sobre a Gestão da Reencarnação dos Budas Vivos do Budismo do Xizang, que formalizou o processo e reiterou a autoridade exclusiva do Estado sobre a sucessão espiritual. Desde então, cerca de uma centena de reencarnações já foram reconhecidas dentro dessas normas, com apoio da comunidade religiosa local.

Para o governo chinês, a tentativa do Dalai Lama de antecipar sua sucessão e conduzir esse processo fora da China representa uma manobra para deslegitimar as regras históricas e legais em vigor. “Nenhuma força externa pode interferir”, afirma Pequim.

Uma questão de soberania

A China vê com preocupação o uso da figura do Dalai Lama por setores ocidentais como instrumento político. Pequim denuncia a manipulação da questão espiritual como estratégia para fomentar instabilidade em Xizang, região que passou por profundas transformações desde sua integração plena à República Popular da China. Segundo dados oficiais, o PIB local saltou de 130 milhões de yuans em 1951 para mais de 276 bilhões em 2024. A expectativa de vida dobrou, passando de 35 para 72 anos, e mais de 628 mil pessoas foram retiradas da pobreza extrema.

A diplomacia chinesa destaca que o Brasil reconhece e apoia a posição da China sobre a região de Xizang, num contexto de relações bilaterais fortalecidas. “Quem não conhece a verdade é mais facilmente alvo das mentiras”, escreveu Tian Min, convidando observadores internacionais a visitarem a região para conhecerem “um Xizang verdadeiro, belo, desenvolvido e harmonioso”.

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