BRICS contorna impasse com Irã e deve condenar ataques, mas sem citar Israel e EUA
Teerã cobra tom mais duro, mas Brasil articula linguagem moderada para preservar consenso na Declaração do Rio
247 - Após intensas negociações que se estenderam até a tarde deste sábado (5), os representantes do BRICS chegaram a um consenso para a redação da Declaração de Líderes da Cúpula do Rio, prevista para ser divulgada neste domingo (6). O acordo foi costurado após superar impasses envolvendo principalmente o posicionamento do grupo em relação aos recentes ataques ao Irã.
Segundo o Estadão Conteúdo, diplomatas envolvidos no processo confirmaram que haverá uma condenação aos bombardeios sofridos pelo Irã, ainda que com um tom mais brando do que o desejado por Teerã. "Às vezes é preciso tempo", lamentou um dos representantes iranianos, ao expressar insatisfação com a decisão de não escalar o discurso contra os Estados Unidos e o governo do presidente Donald Trump.
Um dos diplomatas ouvidos ponderou que, caso a presidência do grupo neste ano estivesse com a Rússia — e não com o Brasil —, o resultado teria sido diferente, com críticas mais contundentes ao papel norte-americano no Oriente Médio. A mudança no rodízio da presidência, motivada pela realização da COP-30 no Brasil, transferiu a condução do bloco para o Itamaraty.
A delegação iraniana insistia para que o comunicado oficial incluísse uma “condenação veemente” aos ataques promovidos por “EUA e Israel” e que fossem citadas de forma exclusiva as destruições causadas à infraestrutura civil do Irã. No entanto, o Brics resistiu a essa formulação, especialmente por ignorar os impactos dos mísseis iranianos contra Tel Aviv, ponto sensível para o equilíbrio diplomático da redação.
Outro ponto de fricção foi o uso da expressão “entidade sionista” ou “regime sionista” para se referir a Israel, conforme costuma adotar a propaganda oficial de Teerã. Termos considerados ofensivos no meio diplomático foram descartados da declaração final, respeitando a praxe de linguagem adotada pelo bloco.
Ainda de acordo com a reportagem, negociadores que acompanharam de perto as conversas destacaram que, como o texto será endossado por chefes de Estado e governo, e não apenas por chanceleres, a cautela na escolha das palavras é ainda maior. O entrave com o Irã evidenciou o desafio adicional que a presidência brasileira vem enfrentando: avançar nos temas estratégicos apesar da ausência de alguns líderes.
A chancelaria tem buscado assegurar que o comunicado final seja um gesto firme pela “preservação do multilateralismo” e uma demonstração de força política do bloco. Em outra frente, o Itamaraty se esforça para garantir apoio explícito à proposta de reforma do Conselho de Segurança da ONU, que inclui a reivindicação do Brasil e da Índia por assentos permanentes.
A expectativa é de que o documento da Cúpula do Rio traga um sinal mais forte do que aquele registrado na Cúpula de Kazan, em 2024, quando resistências da Etiópia e do Egito impediram a menção conjunta a Brasil, Índia e África do Sul. Na ocasião, o texto final trouxe apenas uma referência genérica ao apoio às aspirações dos “países do Brics da América Latina, Ásia e África”, o que desagradou fortemente o Itamaraty.
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