Aliados dos EUA recuam diante de incertezas sobre novas tarifas setoriais de Trump
Países como Japão, Índia e União Europeia exigem clareza antes de fechar acordos comerciais sob ameaça de novas sobretaxas em setores estratégicos
247 - As negociações comerciais com o governo do presidente Donald Trump enfrentam novos entraves. De acordo com reportagem da Bloomberg News, países como Japão, Índia e os integrantes da União Europeia resistem em assinar acordos tarifários com os Estados Unidos diante da iminente aplicação de tarifas setoriais que devem incidir sobre produtos considerados estratégicos, como semicondutores, medicamentos e aço. A ausência de clareza sobre essas novas sobretaxas, previstas na Seção 232 da Lei de Expansão Comercial, tem gerado desconfiança entre os parceiros comerciais de Washington.
Nos próximos dias, o Departamento de Comércio dos EUA deve anunciar os resultados de investigações sobre a segurança nacional em setores como minerais críticos e produtos farmacêuticos. A expectativa é que a conclusão leve à imposição de tarifas adicionais sobre bens estrangeiros nessas áreas, o que poderá comprometer acordos bilaterais já em curso ou prestes a serem concluídos.
Clima de incerteza prejudica avanço das tratativas
Desde 2 de abril, Trump anunciou tarifas país a país que foram temporariamente suspensas até 9 de julho. No entanto, os governos interessados em reduzir essas tarifas temem que acordos bilaterais sejam imediatamente prejudicados por novas taxações setoriais. “Imagine você ser Vietnã, Japão ou Coreia e aceitar concessões dolorosas em tarifas recíprocas, apenas para no dia seguinte ser atingido por novas tarifas 232”, alertou Deborah Elms, diretora de política comercial da Hinrich Foundation. “O último desejo desses países é fechar um acordo para serem penalizados logo em seguida.”
Um exemplo que serve de alerta é o acordo parcial firmado entre Reino Unido e EUA, que deixou pendente a definição de cotas e regras de origem para o aço britânico. Enquanto isso, as tarifas de 25% sobre o produto permanecem em vigor, frustrando a meta do governo britânico de eliminá-las.
Para Wendy Cutler, ex-negociadora comercial dos EUA e atual vice-presidente do Asia Society Policy Institute, “não há clareza sobre como todas essas tarifas vão interagir, o que tem causado grandes preocupações entre nossos parceiros”.
Um representante da Casa Branca reforçou que as tarifas da Seção 232 são voltadas à reindustrialização de produtos vitais à segurança nacional — como metais e medicamentos — e, portanto, não devem ser confundidas com os objetivos mais amplos das tarifas anunciadas em abril.
Tarifas como instrumento de barganha
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, admitiu em depoimento recente ao Senado que as tarifas 232 também têm sido utilizadas como alavanca de negociação. Segundo ele, parte do acordo com o Reino Unido envolveu a não aplicação de tarifas sobre produtos aeroespaciais britânicos — que estão sob investigação — em troca da compra de US$ 10 bilhões em aeronaves da Boeing. “Se outros países jogarem conforme nossas regras, essa será a oferta — desde que estejam comprando nossos aviões”, disse Lutnick.
Europa e Ásia adotam cautela
Para a União Europeia, que já enfrenta tarifas de 25% sobre automóveis e 50% sobre aço, as conversas sobre as novas tarifas setoriais estão travadas e dificilmente avançarão antes do prazo de 9 de julho. Em Bruxelas, autoridades avaliam que o melhor cenário possível é alcançar um consenso mínimo para permitir a continuidade das negociações.
O Japão, por sua vez, busca consolidar em um único acordo todas as pendências tarifárias com os EUA — desde automóveis até metais. Contudo, a tarifa de 25% sobre carros e autopeças segue como principal obstáculo. Washington concentra-se nesse setor por representar a maior fatia do déficit comercial com Tóquio, enquanto o Japão considera a indústria automotiva um pilar econômico, responsável por 10% do PIB e 8,3% da força de trabalho do país.
“Para o Japão, o setor automotivo é de interesse nacional. Faremos o que for necessário para protegê-lo”, afirmou o primeiro-ministro Shigeru Ishiba, após reunião com Trump durante a cúpula do G7 no Canadá. Já o negociador japonês Ryosei Akazawa declarou que o Japão não está preso ao prazo de julho e espera que um eventual acordo com os EUA isente o país de novas tarifas sobre automóveis, ainda que outros países sejam atingidos.
Índia exige reciprocidade e segurança jurídica
A Índia também endureceu sua posição, recusando-se a firmar qualquer tratado que não contemple simultaneamente as tarifas setoriais e recíprocas. Autoridades indianas querem garantias de que receberão o mesmo tratamento concedido aos demais países e expressam preocupação com a competitividade de seus exportadores caso os EUA mantenham taxas adicionais.
Além disso, a insegurança jurídica aumentou após uma corte federal dos EUA declarar ilegais algumas dessas tarifas no mês passado. Embora uma instância superior tenha concedido liminar favorável a Trump, a incerteza permanece.
“Essas tarifas afetam diretamente as exportações de engenharia da Índia aos EUA, que somam mais de US$ 20 bilhões por ano”, afirmou Pankaj Chadha, presidente do Conselho de Promoção das Exportações de Engenharia. “Esperamos que as tarifas setoriais sejam adequadamente tratadas no acordo bilateral.” As negociações comerciais com o governo do presidente Donald Trump enfrentam novos entraves. De acordo com reportagem da Bloomberg News, países como Japão, Índia e os integrantes da União Europeia resistem em assinar acordos tarifários com os Estados Unidos diante da iminente aplicação de tarifas setoriais que devem incidir sobre produtos considerados estratégicos, como semicondutores, medicamentos e aço.
A ausência de clareza sobre essas novas sobretaxas, previstas na Seção 232 da Lei de Expansão Comercial, tem gerado desconfiança entre os parceiros comerciais de Washington.
Nos próximos dias, o Departamento de Comércio dos EUA deve anunciar os resultados de investigações sobre a segurança nacional em setores como minerais críticos e produtos farmacêuticos. A expectativa é que a conclusão leve à imposição de tarifas adicionais sobre bens estrangeiros nessas áreas, o que poderá comprometer acordos bilaterais já em curso ou prestes a serem concluídos.
Clima de incerteza prejudica avanço das tratativas
Desde 2 de abril, Trump anunciou tarifas país a país que foram temporariamente suspensas até 9 de julho. No entanto, os governos interessados em reduzir essas tarifas temem que acordos bilaterais sejam imediatamente prejudicados por novas taxações setoriais. “Imagine você ser Vietnã, Japão ou Coreia e aceitar concessões dolorosas em tarifas recíprocas, apenas para no dia seguinte ser atingido por novas tarifas 232”, alertou Deborah Elms, diretora de política comercial da Hinrich Foundation. “O último desejo desses países é fechar um acordo para serem penalizados logo em seguida.”
Um exemplo que serve de alerta é o acordo parcial firmado entre Reino Unido e EUA, que deixou pendente a definição de cotas e regras de origem para o aço britânico. Enquanto isso, as tarifas de 25% sobre o produto permanecem em vigor, frustrando a meta do governo britânico de eliminá-las.
Para Wendy Cutler, ex-negociadora comercial dos EUA e atual vice-presidente do Asia Society Policy Institute, “não há clareza sobre como todas essas tarifas vão interagir, o que tem causado grandes preocupações entre nossos parceiros”.
Um representante da Casa Branca reforçou que as tarifas da Seção 232 são voltadas à reindustrialização de produtos vitais à segurança nacional — como metais e medicamentos — e, portanto, não devem ser confundidas com os objetivos mais amplos das tarifas anunciadas em abril.
Tarifas como instrumento de barganha
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, admitiu em depoimento recente ao Senado que as tarifas 232 também têm sido utilizadas como alavanca de negociação. Segundo ele, parte do acordo com o Reino Unido envolveu a não aplicação de tarifas sobre produtos aeroespaciais britânicos — que estão sob investigação — em troca da compra de US$ 10 bilhões em aeronaves da Boeing. “Se outros países jogarem conforme nossas regras, essa será a oferta — desde que estejam comprando nossos aviões”, disse Lutnick.
Europa e Ásia adotam cautela
Para a União Europeia, que já enfrenta tarifas de 25% sobre automóveis e 50% sobre aço, as conversas sobre as novas tarifas setoriais estão travadas e dificilmente avançarão antes do prazo de 9 de julho. Em Bruxelas, autoridades avaliam que o melhor cenário possível é alcançar um consenso mínimo para permitir a continuidade das negociações.
O Japão, por sua vez, busca consolidar em um único acordo todas as pendências tarifárias com os EUA — desde automóveis até metais. Contudo, a tarifa de 25% sobre carros e autopeças segue como principal obstáculo. Washington concentra-se nesse setor por representar a maior fatia do déficit comercial com Tóquio, enquanto o Japão considera a indústria automotiva um pilar econômico, responsável por 10% do PIB e 8,3% da força de trabalho do país.
“Para o Japão, o setor automotivo é de interesse nacional. Faremos o que for necessário para protegê-lo”, afirmou o primeiro-ministro Shigeru Ishiba, após reunião com Trump durante a cúpula do G7 no Canadá. Já o negociador japonês Ryosei Akazawa declarou que o Japão não está preso ao prazo de julho e espera que um eventual acordo com os EUA isente o país de novas tarifas sobre automóveis, ainda que outros países sejam atingidos.
Índia exige reciprocidade e segurança jurídica
A Índia também endureceu sua posição, recusando-se a firmar qualquer tratado que não contemple simultaneamente as tarifas setoriais e recíprocas. Autoridades indianas querem garantias de que receberão o mesmo tratamento concedido aos demais países e expressam preocupação com a competitividade de seus exportadores caso os EUA mantenham taxas adicionais.
Além disso, a insegurança jurídica aumentou após uma corte federal dos EUA declarar ilegais algumas dessas tarifas no mês passado. Embora uma instância superior tenha concedido liminar favorável a Trump, a incerteza permanece.
“Essas tarifas afetam diretamente as exportações de engenharia da Índia aos EUA, que somam mais de US$ 20 bilhões por ano”, afirmou Pankaj Chadha, presidente do Conselho de Promoção das Exportações de Engenharia. “Esperamos que as tarifas setoriais sejam adequadamente tratadas no acordo bilateral.”
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