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Miriam Leitão diz que tiro contra o Brasil atingirá a direita brasileira

Se as tarifas americanas subirem para 50%, bolsonarismo terá de arcar com os danos causados à economia, aponta a jornalista

Miriam Leitão, Bolsonaro e bolsonarista (Foto: Reprodução/TV Globo | REUTERS/Ueslei Marcelino | Reprodução/Youtube)
Redação Brasil 247 avatar
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247 – A jornalista Miriam Leitão afirmou que a ofensiva tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil é um tiro que pode acabar atingindo em cheio a própria direita brasileira. Em artigo publicado no Globo, Miriam aponta que a medida, anunciada com viés claramente político, penaliza a economia nacional e impõe à ala bolsonarista o peso da responsabilidade pelos danos causados. “Se as tarifas subirem para 50% em agosto, a economia brasileira sofrerá. E o grupo bolsonarista será o responsável pelos estragos”, escreveu.

Segundo a colunista, o anúncio de Trump — feito por meio de carta ao presidente Lula — é “bizarro” por seu conteúdo e motivação. O líder americano informou que adotará tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros, alegando interferência do governo federal nos processos contra Jair Bolsonaro e em ações judiciais envolvendo grandes plataformas digitais. Miriam ressalta que Trump ignora completamente a separação de poderes existente no Brasil e distorce os fatos para justificar uma retaliação comercial de cunho ideológico.

 “O anúncio de que, para defender Jair Bolsonaro e proteger as grandes empresas de tecnologia, ele abriria guerra comercial contra o Brasil é bizarro”, afirma a jornalista.

Do ponto de vista econômico, o impacto pode ser significativo, conforme explica o consultor de comércio internacional Welber Barral. Ele destaca que os setores mais prejudicados serão os de metais — como aço, alumínio e cobre — que já vinham sofrendo sobretaxas anteriores. “No caso de alumínio e aço, já havia as sobretaxas anteriores de 25% e há duas semanas essa tarifa passou para 50%”, lembra Barral. Se a nova tarifa de 50% se somar às já existentes, o resultado poderá ser a inviabilização das exportações de metais para os Estados Unidos.

Além dos metais, há risco para produtos como carnes, frutas, açúcar e laranja — alguns já sujeitos a tarifas elevadas. O comércio de peças e componentes da cadeia automotiva também pode ser afetado, especialmente em razão do comércio intrafirma, ou seja, entre unidades brasileiras e matrizes americanas de uma mesma empresa. “São as próprias empresas americanas que vendem para lá. É o comércio intrafirma que vai ser muito afetado”, alertou Barral.

Outro ponto destacado por Miriam Leitão é o impacto da medida para o próprio mercado americano. “Há um comércio intrafirmas, de multinacionais americanas instaladas aqui que exportam para suas matrizes”, observa. Produtos brasileiros ficarão mais caros, e os consumidores dos EUA também sentirão o aumento nos preços. Além disso, o Brasil importa carvão mineral americano, essencial para a indústria siderúrgica que, por sua vez, exporta aço — criando uma cadeia que será desorganizada pela política tarifária.

Apesar de o Brasil ser menos dependente do mercado americano do que no passado — apenas 13% das exportações nacionais vão para os EUA —, a medida ainda é danosa. Miriam lembra que, ao longo dos últimos 15 anos, os Estados Unidos acumularam superávit comercial de US$ 410 bilhões com o Brasil, contrariando a alegação de Trump de que haveria prejuízo aos interesses americanos.

 “Nossa balança comercial é equilibrada, mas com vantagens para eles”, afirma.

A jornalista aponta também a responsabilidade da direita brasileira pelo episódio. Segundo ela, setores bolsonaristas atuaram junto ao governo dos EUA para alimentar a narrativa de que Bolsonaro é vítima de perseguição política e que o Brasil estaria vivendo sob ameaça à liberdade de expressão. Essa articulação teria encorajado Trump a agir. “Eles pediram o ataque americano”, denuncia.

O episódio, ainda sem desfecho definitivo, já provocou reações dentro do próprio campo conservador. A bancada ruralista, de maioria bolsonarista, solicitou ao governo federal uma “resposta firme” ao gesto do presidente americano, preocupada com os efeitos sobre o agronegócio. A cobrança expõe a contradição: ao apoiar Trump incondicionalmente, essa ala política brasileira agora sente na prática o impacto de suas escolhas.

Ao concluir sua análise, Miriam destaca que a direita brasileira, por não se desvincular do bolsonarismo, terá de arcar com o ônus político e econômico do ataque americano: “Como a direita brasileira não se afastou do bolsonarismo, fica com o ônus de ter pedido que o Brasil fosse bombardeado.”

A medida de Trump, que visa agradar seu eleitorado interno, pode acabar desorganizando setores estratégicos da economia e desmoralizando ainda mais os grupos que se alinham a ele, como já ocorreu em outros países que também foram alvos de sua política externa agressiva e errática.

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