Igrejas evangélicas encolhem presença na TV aberta após queda de arrecadação e crescimento modesto no Censo
Universal mantém domínio no setor, mas outras denominações reduzem drasticamente o tempo e o investimento em grandes emissoras
247 - O espaço ocupado por igrejas evangélicas na TV aberta brasileira vem diminuindo de forma significativa, reflexo de um cenário de retração econômica, mudanças no consumo de mídia e um crescimento religioso abaixo das expectativas. Segundo dados revelados pela Folha de S.Paulo, em 2019, antes da pandemia, as igrejas somavam 48 horas semanais de programação nas principais emissoras da Grande São Paulo — o maior e mais estratégico mercado televisivo do país. Hoje, esse número caiu para 32 horas e 15 minutos.
A redução coincide com o crescimento abaixo do esperado dos evangélicos apontado pelo Censo 2022. A menor arrecadação com dízimos e ofertas, sobretudo durante e após a pandemia de Covid-19, também forçou as denominações a reverem seus contratos com emissoras, reduzindo o investimento e, consequentemente, o tempo no ar.
A Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, continua sendo a exceção. A denominação mantém amplo domínio no setor e investe pesado em espaços de TV, destinando cerca de R$ 1 bilhão por ano apenas para esse fim. Grande parte desse montante é direcionado à Record, emissora do próprio grupo, onde a igreja ocupa 4 horas e 15 minutos nas madrugadas, ao custo aproximado de R$ 900 milhões, segundo o último balanço financeiro da empresa.
Além da Record, a Universal também mantém presença em outras emissoras. São quatro horas de programação na RedeTV! e impressionantes 13 horas semanais na TV Gazeta, além de horários adquiridos em canais de menor audiência, como Rede 21 e CNT, onde a denominação soma 46 horas de conteúdo religioso semanal.
Enquanto a Universal sustenta seu projeto de comunicação, outras igrejas têm diminuído drasticamente sua presença nas grandes redes. O pastor R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, por exemplo, reduziu o tempo de exibição de 11 para 7 horas e meia semanais. A queda veio acompanhada de renegociação dos contratos, com valores muito abaixo do que era pago no passado.
Atualmente, o contrato de Soares com a Band, válido até julho de 2026, prevê um investimento de cerca de R$ 4,5 milhões mensais — praticamente metade dos R$ 8 milhões pagos até 2022, quando a emissora tirou o religioso do horário nobre para dar espaço ao apresentador Faustão.
Outro nome tradicional do setor, o pastor Silas Malafaia, também diminuiu sua participação na TV aberta. Ele deixou a Band e hoje mantém apenas 30 minutos na programação da RedeTV! aos sábados, pagando aproximadamente R$ 600 mil pelo espaço.
Já Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, praticamente desapareceu das grandes emissoras por não conseguir arcar com os altos valores cobrados. Atualmente, limita-se a veicular conteúdo em TVs de baixíssima audiência, conhecidas como "nanicas", mas enfrenta dificuldades até nesses espaços. A Ideal TV, que ocupa a antiga frequência da MTV Brasil, chegou a retirá-lo do ar por inadimplência.
Apesar do cenário de retração, uma novidade chama a atenção: a Igreja Cristã Maranata, originária do Espírito Santo, tem ocupado parte do espaço deixado por outros grupos. A denominação pentecostal soma três horas semanais de programação na Band e na RedeTV!, e já chegou a veicular anúncios até mesmo nos intervalos da GloboNews, o canal de notícias da Globo.
Especialistas do setor apontam que a migração dos pastores para o ambiente digital é inevitável. Valdemiro Santiago, por exemplo, acumula 1,2 milhão de inscritos em seu canal no YouTube, número que, segundo sua igreja, só seria possível atingir com um investimento milionário em TV há poucos anos.
A perda de espaço na TV aberta também se explica pela baixa cobertura de algumas emissoras, o que, somado aos altos custos, tem tornado o investimento menos atrativo para as igrejas. Redes como a NGT, que têm alcance limitado, deixaram de interessar aos grandes grupos religiosos e passaram a negociar horários com igrejas locais de menor porte.
O encolhimento da presença evangélica na TV aberta revela, além dos reflexos econômicos da pandemia, uma mudança no comportamento das igrejas e no próprio perfil de consumo dos fiéis, cada vez mais conectados e atentos ao conteúdo digital.
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