Global Times: bombas de Trump abalam os alicerces da ordem internacional
Em editorial, jornal chinês condena duramente a agressão dos Estados Unidos ao Irã
247 – O jornal estatal chinês Global Times publicou neste domingo (22) um editorial contundente contra o ataque militar ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra instalações nucleares no Irã. A ação, que marca a entrada direta dos EUA na escalada militar entre Israel e Irã, foi classificada pelo periódico como uma ameaça grave à ordem internacional e à segurança global. “As bombas dos EUA impactaram as fundações da ordem de segurança global”, afirma o texto, publicado logo após o bombardeio de três instalações iranianas, inclusive o complexo subterrâneo de Fordo.
O Global Times, conhecido por refletir a linha diplomática do governo chinês, destacou que a agressão viola “os propósitos e princípios da Carta da ONU e do direito internacional”, aumentando os riscos de uma crise mais ampla no Oriente Médio. A condenação chinesa foi acompanhada por outras críticas internacionais, inclusive do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que alertou para uma “escalada perigosa em uma região já à beira do colapso – e uma ameaça direta à paz e segurança internacionais”.
Precedente perigoso
Para o jornal, o bombardeio estadunidense contra instalações sob salvaguarda da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) representa um precedente extremamente perigoso, ao tentar “resolver unilateralmente a questão nuclear iraniana pela força”. O editorial também condena o uso de bombas “bunker buster” — projetadas para penetrar estruturas fortificadas — como uma tentativa deliberada de “cumprir o que Israel não conseguiu”.
“Trata-se de uma rejeição do multilateralismo e da diplomacia, que durante anos pautaram as negociações entre o Irã e a comunidade internacional”, critica o Global Times. A publicação aponta que a aliança entre Washington e Tel Aviv avança contra a moralidade internacional e arrasta o mundo para um cenário de guerra. “O que os EUA atingiram não foram apenas alvos militares, mas os alicerces do sistema de segurança internacional.”
Reação iraniana
Em resposta ao ataque, o Irã lançou neste domingo o míssil Kheibar Shekan contra Israel — a primeira vez que emprega tal armamento diretamente contra o país. Segundo o parlamentar iraniano Ismail Kowsari, o parlamento aprovou o fechamento do estratégico Estreito de Hormuz, responsável por cerca de 20% do trânsito mundial de petróleo e gás. O Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã deve tomar a decisão final nos próximos dias.
O possível bloqueio do estreito representa uma séria ameaça à estabilidade energética global. “Caso a passagem seja interrompida pela guerra, os preços internacionais do petróleo vão disparar, enquanto a segurança marítima e a estabilidade econômica global enfrentarão sérios desafios”, alerta o editorial.
Escalada regional e impacto global
A entrada direta dos EUA no conflito também provocou reações em outras frentes. Após os bombardeios, os Houthis, do Iêmen, anunciaram a retomada de ataques contra navios norte-americanos no Mar Vermelho. Segundo o Global Times, os EUA aprofundam a instabilidade na região, marcada por divisões sectárias, guerras por procuração e múltiplas intervenções externas.“Até mesmo a Associated Press classificou os bombardeios como uma ‘decisão perigosa’, enquanto o New York Times advertiu que a ação ‘traz riscos em cada etapa’”, observa o jornal. Em poucas horas, investidores globais se desfizeram de ativos de risco e os meios de comunicação começaram a falar em uma possível “sexta guerra do Oriente Médio”.
A posição da China
A China, destaca o editorial, mantém uma posição firme contra o uso da força e defende soluções políticas e diplomáticas. Em telefonema recente com o presidente russo Vladimir Putin, o presidente chinês Xi Jinping apresentou uma proposta de quatro pontos para a crise: cessar-fogo imediato; proteção de civis; abertura de diálogo e negociação; e promoção ativa da paz por parte da comunidade internacional.
“O histórico da região mostra que intervenções militares externas não trazem paz – apenas aprofundam o ódio e os traumas”, conclui o editorial. “A lógica coercitiva dos EUA é falsa e contrária à paz. Esperamos que todas as partes envolvidas, especialmente Israel, cessem imediatamente o fogo, protejam civis e retomem o caminho do diálogo para restaurar a estabilidade.”
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: