Bytedance investirá em data center no Brasil com foco em IA e energia limpa
Empresa chinesa que controla o TikTok planeja expansão no país e segue estratégia semelhante à da Huawei, com parcerias locais e ênfase em sustentabilidade
247 - A gigante chinesa Bytedance, proprietária do TikTok, está prestes a anunciar um robusto investimento no Brasil voltado para a construção de um centro de dados de larga escala. Segundo a Folha de S. Paulo, a empresa pretende intensificar suas operações em território brasileiro, apostando na infraestrutura local para impulsionar seus serviços de inteligência artificial (IA). A iniciativa acompanha o movimento de outra gigante chinesa do setor, a Huawei, que já firmou parcerias com a Dataprev e com universidades brasileiras, além de uma colaboração estratégica com o Edge UOL para fornecimento de serviços de nuvem.
O governo federal também estaria desenvolvendo um programa para incentivar a criação de data centers no país, numa tentativa de atrair ainda mais investimentos estrangeiros no setor de tecnologia e digitalização. Os interesses das empresas chinesas convergem com o foco do Executivo em promover o desenvolvimento da infraestrutura digital, especialmente no Nordeste brasileiro.
Intercâmbio com a China mira em IA, dados e energia renovável - Representantes de bancos e empresas chinesas, como o Banco de Desenvolvimento da China (CDB), o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) e a Corporação de Capital Internacional da China (CICC), têm intensificado diálogos com autoridades brasileiras. Durante um recente encontro em Pequim, a executiva Wu Xiaobin, do CICC, questionou Lucas Bispo, oficial de investimentos do AIIB, sobre a viabilidade de empresas de IA chinesas estabelecerem bases de dados no Brasil.
“Uma das razões por que o Brasil está chamando atenção [em data center] é que já existe uma infraestrutura que, acredito, permite transferência de dados da América do Sul para a Ásia”, afirmou Bispo, destacando a vantagem geopolítica do país em relação à rota de dados, que pode evitar o tráfego por Estados Unidos e Europa.
No mesmo evento, Daniel Engel, do escritório Veirano Advogados, esclareceu que, “no Brasil você não está sujeito às sanções, a não ser uma empresa que emite títulos ou tenha acionistas nos Estados Unidos”. A fala é uma referência às restrições norte-americanas à venda de chips gráficos (GPUs) para empresas chinesas, essenciais para o treinamento de modelos de IA.
Moeda chinesa e risco cambial estão no radar de investidores - As barreiras cambiais também foram discutidas. Um executivo do CDB mencionou os desafios enfrentados em investimentos anteriores com o uso do yuan no Brasil. Em resposta, Bispo afirmou que o AIIB poderá oferecer financiamentos diretamente na moeda chinesa, desde que isso faça sentido para as empresas envolvidas, além de estudar alternativas futuras de hedge cambial.
A atração principal para os chineses é o acesso à energia renovável, especialmente solar e eólica, cujos custos podem ser vantajosos para operações intensivas em computação, embora existam riscos relacionados à intermitência no fornecimento. “O armazenamento é outra oportunidade muito relevante no Brasil”, avaliou Engel. “A China é o fabricante de baterias mais relevante no mundo. E o armazenamento seria muito importante hoje no Brasil, para resolver a questão da operação [intermitente] da rede elétrica".
Segundo Bispo, 72 dos 318 projetos financiados pelo AIIB envolvem o setor de energia, com destaque para iniciativas eólicas no Uzbequistão, hidrelétricas na Indonésia e usinas solares na Índia — o que indica uma forte prioridade para projetos sustentáveis também na América Latina.
Huawei aprofunda relações com o setor público e privado brasileiro - Outro encontro relevante aconteceu em Dongguan, no sul da China, promovido pela Huawei. O evento reuniu autoridades e executivos brasileiros, como o secretário de Governo Digital do Ministério da Gestão, Rogério Mascarenhas, e o diretor de Produtos do UOL Host, Ricardo Leite.
Durante o fórum, o presidente da Huawei Cloud para a América Latina, Mark Chen, declarou: “nós estamos querendo ser a ponte entre a China e América Latina, para compartilhar nossa experiência, compartilhar a excelência industrial de toda a China”. Ao seu lado, Rodrigo Lobo, COO do Edge UOL, reforçou o compromisso: “a ideia é juntar forças para expandir o mercado no Brasil, especialmente em infraestrutura, modernização, cibersegurança e IA”.
A influência chinesa se expande não apenas sobre o Brasil. O mexicano Eric Velazquez, cofundador da fintech STP, afirmou que pretende levar o conhecimento adquirido à sua terra natal. “No México, na América Latina, tendemos a ver só um caminho, que é o norte, o caminho americano. [...] Mas a STP acredita que devemos ver outros caminhos, com estratégias e tecnologias diferentes, e que o melhor a observar é a China".
Perspectivas e desafios - A chegada da Bytedance e a expansão da Huawei no Brasil evidenciam um novo capítulo na relação sino-brasileira, marcado por investimento em tecnologia de ponta, redes de dados e energia verde. Com o avanço dessas parcerias, o Brasil se posiciona como um polo estratégico para infraestrutura digital no Hemisfério Sul.
Se confirmadas as intenções de financiamento direto em yuan e os investimentos em sistemas de armazenamento, o país poderá não apenas melhorar sua infraestrutura tecnológica, como também ampliar sua autonomia energética e digital. O sucesso, no entanto, dependerá da capacidade de mitigar os riscos cambiais, garantir estabilidade regulatória e promover políticas públicas coerentes com as demandas de um setor em rápida transformação.
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