Ben Norton: EUA não conseguirão deter o avanço do BRICS

247 – O avanço do BRICS é inevitável e representa uma nova fase na reorganização econômica e política do mundo, mesmo diante das ameaças feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Essa é a avaliação do jornalista e analista geopolítico Ben Norton, em vídeo publicado no canal Geopolitical Economy Report, no YouTube. Norton defende que o BRICS se fortaleceu após a cúpula realizada no Brasil em julho de 2025, reunindo um número recorde de países e consolidando a transição para um mundo multipolar.

 “O BRICS tem crescido em tamanho e influência, e isso tem assustado alguns políticos ocidentais, em particular o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump”, disse Norton, destacando que Trump não entende sequer a composição do bloco e faz ameaças infundadas.

Trump ameaça, BRICS se expande

Segundo Ben Norton, as bravatas de Donald Trump contra o BRICS se intensificaram após sua volta à Casa Branca para o segundo mandato. O presidente norte-americano chegou a afirmar que teria “destruído o BRICS”, ameaçando tarifas de até 100% sobre os países do bloco.

 “Trump afirmou: ‘O BRICS morreu desde o momento em que mencionei isso’. Mas isso não poderia estar mais distante da realidade”, rebate Norton. “O oposto está acontecendo: o BRICS está crescendo.”

A expansão ficou evidente na cúpula do Rio, realizada em julho de 2025, que reuniu pela primeira vez 20 países — os 10 membros oficiais, incluindo os fundadores Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e outros cinco novos membros — Egito, Etiópia, Indonésia, Irã e Emirados Árabes Unidos — além de 10 parceiros adicionais, como Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.

 “Esses 20 países representam mais de dois quintos da economia global, 44% do PIB mundial em paridade de poder de compra, e 56% da população mundial, com 4,5 bilhões de habitantes”, explicou Norton.

Reação do Sul Global contra a hegemonia

Ben Norton também enfatizou o significado político da entrada de países como Cuba e Irã no BRICS, ambos alvos de sanções dos Estados Unidos, e a presença inédita de nações como o México, maior parceiro comercial dos EUA, que participou da cúpula mesmo sem ser membro formal.

 “Isso mostra como os países rejeitam o bullying dos Estados Unidos”, apontou. “Nem os parceiros mais próximos dos EUA querem se submeter a essa política agressiva.”

Para Norton, a inclusão de países historicamente afetados pela intervenção dos EUA é um claro sinal de resistência à hegemonia norte-americana.

Lula lidera defesa da desdolarização

Um dos destaques da cúpula, segundo Ben Norton, foi o protagonismo do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu abertamente a desdolarização das trocas comerciais globais.

“O mundo precisa encontrar uma forma de que nossas relações comerciais não tenham que passar pelo dólar”, declarou Lula. “Se não encontrarmos uma nova fórmula, terminaremos o século XXI da mesma forma que começamos o século XX, o que não beneficiará a humanidade.”

O jornalista destacou que Lula também defendeu a criação de uma nova moeda comercial, um projeto de longo prazo, mas cuja implementação inicial já ocorre com o incentivo ao comércio em moedas locais, especialmente entre Brasil e China.

Dilma Rousseff impulsiona o Novo Banco de Desenvolvimento

Norton também destacou o papel da ex-presidenta Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que vem priorizando financiamentos em moedas locais e sem as exigências políticas impostas por instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

 “Dilma enfatizou que qualquer governo que toma empréstimos em moeda estrangeira se torna refém das decisões dos bancos centrais dos países desenvolvidos”, afirmou Norton.

A adesão de países como Colômbia e Uzbequistão ao NDB foi apontada como mais um sinal do fortalecimento do BRICS como alternativa concreta ao sistema financeiro dominado pelos Estados Unidos.

O BRICS como herdeiro do movimento anticolonial

Ben Norton também ressaltou o resgate do espírito do movimento não-alinhado e da Conferência de Bandung de 1955, mencionados por líderes como Lula e o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, durante a cúpula.

 “O BRICS é herdeiro do movimento dos não-alinhados”, afirmou Lula. “É um ator indispensável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico.”

O analista geopolítico considerou fundamental o papel do BRICS na denúncia da nova corrida armamentista liderada pela OTAN e das injustiças do sistema financeiro global, que submete o Sul Global aos interesses das potências colonizadoras.

Uma reação contra o império norte-americano

Para Norton, o crescimento do BRICS é a resposta direta aos abusos cometidos pelo império norte-americano. Ele cita o aumento da violência econômica promovida pelos EUA, como sanções, bloqueios e guerras híbridas, como catalisadores da expansão do bloco.

 “O BRICS não é apenas um instrumento de desdolarização. É uma ferramenta de descolonização”, afirmou. “É um esforço dos povos do Sul Global para se libertarem da opressão de um sistema internacional desigual.”

Segundo ele, mesmo com a resistência agressiva dos Estados Unidos, o avanço do BRICS é irreversível.

“Quanto mais Trump ameaça o BRICS, mais ele demonstra ao mundo a importância do BRICS”, concluiu Norton.

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