Freira brasileira afastada na Itália por carta anônima processa autores e denuncia assédio
Irmã Aline Ghammachi, que chegou a ser a abadessa mais jovem do país, acusa superior e colegas de calúnia
247 - Uma disputa interna envolvendo mosteiros italianos e acusações graves tem colocado o nome de uma freira brasileira no centro de uma batalha judicial no Vaticano e na Justiça comum da Itália. A informação foi revelada pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo (29).
Aos 34 anos, em 2018, a carioca Aline Ghammachi alcançou um feito inédito: tornou-se a abadessa — autoridade máxima — de quatro mosteiros femininos em diferentes regiões italianas, sendo a mais jovem a ocupar o cargo no país. Mas, segundo ela, sua rápida ascensão gerou descontentamento dentro da hierarquia religiosa, especialmente por sua aparência.
“Desde sempre, a questão de ser jovem, de ser bonita, tudo isso já pesava. E só foi somando. ‘A tua beleza não ajuda, não é boa...’. Era um contexto mais para ridicularizar”, contou a religiosa ao Fantástico.
O estopim para o afastamento da freira aconteceu em janeiro de 2023, quando uma carta anônima foi enviada diretamente ao papa Francisco. No documento, ela era acusada de maus-tratos, manipulação de outras religiosas e desvio de recursos dos mosteiros. Apesar da falta de autoria e de provas concretas, a denúncia deu início a uma série de investigações e visitas ao mosteiro de Vittorio Veneto, onde viviam 19 monjas em regime de clausura.
Amigas e religiosas próximas à ex-abadessa saíram em sua defesa. “Para mim, Madre Aline é uma mãe da Igreja, é equilibrada, não é manipuladora”, afirmou a irmã Agnese, que viveu sob sua liderança.
As suspeitas sobre as finanças do mosteiro também caíram por terra após uma perícia solicitada pelo próprio abade geral Mauro Giuseppe Lepori, responsável pela ordem. Segundo irmã Aline, o resultado foi categórico. “O perito deu os parabéns pela transparência das contas dos nossos mosteiros”, garantiu.
Ela acusa, ainda, a freira responsável pelas noviças, junto com outras três religiosas, de terem redigido a carta anônima enviada ao Vaticano. Segundo Aline, ela possui provas de que essa mesma freira acessava sites de conteúdo pornográfico usando o computador e o celular da comunidade religiosa.
Além disso, Aline afirma que o abade geral, principal autoridade da ordem, a assediou, mas optou por não detalhar o episódio à reportagem. Entre as medidas de sua gestão que teriam incomodado o superior está a venda de uvas dos mosteiros para a produção de prosecco — prática, segundo ela, comum em instituições religiosas ao redor do mundo para garantir a sustentabilidade econômica.
“Tudo o que fizemos foi para buscar a autonomia econômica do mosteiro”, explicou a freira.
O clima de tensão se intensificou após a morte do papa Francisco, em abril deste ano. Oito dias depois do falecimento do pontífice, irmã Aline deixou o mosteiro. No dia seguinte, cinco freiras romperam o regime de clausura e a acompanharam.
“Nós nos sentimos tratadas como se fôssemos mafiosas, vigiadas como num campo de concentração”, disse a freira Maria Stella.
Agora, irmã Aline e suas companheiras recorrem ao Tribunal Eclesiástico e à Justiça do Vaticano para contestar as decisões que consideram ilegítimas. Paralelamente, um processo penal por calúnia e difamação foi aberto no tribunal da cidade de Treviso contra o abade geral e as autoras da carta anônima. Aline também anunciou que pretende processar o religioso por assédio sexual e moral.
Determinada a limpar seu nome, a freira diz que seguirá na disputa jurídica até o fim. “Lutar pela verdade é algo cristão. Pretendo ir adiante até provar que essas acusações não são verdadeiras”, declarou.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: