“O sionismo é o grande mal do século 21", diz Boaventura de Sousa Santos
Sociólogo português comparou o sionismo ao nazismo, em entrevista concedida a Gustavo Conde, na TV 247
247 – Em entrevista concedida à TV 247, o renomado sociólogo português Boaventura de Sousa Santos traçou paralelos entre o sionismo contemporâneo e os horrores do nazismo, denunciando o que chamou de “naturalização do horror” na Faixa de Gaza. A conversa com o jornalista Gustavo Conde foi marcada por uma contundente crítica à geopolítica atual, especialmente à atuação dos Estados Unidos e de Israel no Oriente Médio.
Logo no início da entrevista, Boaventura não poupou palavras ao comentar a proposta de que Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, possa vir a receber o Prêmio Nobel da Paz no futuro: “Dar o Prêmio Nobel ao Trump? Francamente… um indivíduo que lança bombas de 13 toneladas sobre territórios estrangeiros, que não ameaçam os Estados Unidos, é um criminoso de guerra. E o Prêmio Nobel tem sido ridicularizado exatamente por premiar esse tipo de figura. Já premiou Obama, depois das guerras que ele patrocinou. Isso deslegitima totalmente o prêmio”.
A banalização da barbárie
Boaventura lamentou que o mundo tenha se acostumado com a brutalidade diária contra os palestinos, especialmente em Gaza. “A gente já chega à noite e diz: ‘Quantos palestinos morreram hoje? Ah, só 80? Ontem foram 180’. Isso é a naturalização do mal. Matar pessoas famintas numa fila de ajuda humanitária, isso é inominável”, declarou, em tom indignado.
Ao comparar a conduta do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu a Adolf Hitler, o sociólogo foi enfático: “Netanyahu faz-me lembrar Hitler. A desumanização do outro é comparável ao que se viu nos comboios da morte, quando judeus eram transportados para os campos de concentração sem ar, sem espaço, muitos já mortos”.
Para Boaventura, “se o nazismo foi o grande mal do século 20, o sionismo é o grande mal do século 21”.
Crítica à ONU e à Europa
O sociólogo também denunciou o silêncio cúmplice de instituições internacionais e da União Europeia frente ao genocídio em Gaza. “Mais de 200 funcionários da ONU já foram assassinados em Gaza, e Israel não sofre nenhuma consequência. Isso desacredita completamente a ONU. E a Europa é pior ainda. Uma ministra da União Europeia foi a Israel e chamou o país de 'grande parceiro comercial', sem sequer mencionar Gaza. Isso é vergonhoso”.
Boaventura qualificou Israel como “um Estado pária”, em consonância com a percepção da maioria global — conceito usado por países como Rússia e China para descrever a aliança euro-americana em declínio.
A guerra como laboratório
A entrevista também abordou o papel da inteligência artificial na chamada “decapitação seletiva” de lideranças: “A IA está sendo usada para identificar e matar líderes. Já foram assassinados vários cientistas nucleares iranianos assim. Isso tem um significado histórico profundo. Amanhã pode ser um político de esquerda. Ou um intelectual crítico. Estamos sendo treinados para aceitar isso”.
Segundo ele, guerras como a de Gaza e os ataques ao Irã funcionam como “laboratórios para experimentação de novas armas”, com aval do complexo industrial-militar e da elite sionista que, segundo Boaventura, controla tanto Israel quanto o establishment político nos EUA.
BRICS como alternativa
Apesar da gravidade do cenário, Boaventura expressou esperança numa nova ordem mundial, sustentada por um mundo multipolar. “Os BRICS representam 49% da população mundial e 40% do PIB. São países com poder econômico real. Se esses países se unirem com base na tolerância, na paz e na igualdade — como propõe o pensamento de Confúcio — podemos ter uma alternativa real à barbárie ocidental”.
Ele destacou o trabalho de Dilma Rousseff à frente do Banco do BRICS, que tem promovido operações bilaterais em moedas locais, minando lentamente a hegemonia do dólar. “É uma estratégia silenciosa e sábia. Se for detectada cedo demais, os BRICS podem ser destruídos. Mas se consolidarem sua força, serão atores centrais de uma nova ordem”.
Boaventura também criticou o veto à entrada da Venezuela no BRICS, decisão que atribuiu à pressão dos EUA sobre o governo Lula. E sugeriu a criação de um “Fórum Social Mundial dos Povos dos BRICS”, para garantir que as vozes populares influenciem o projeto multipolar.
A política americana e a hesitação de Trump
Ao comentar o cenário interno nos Estados Unidos, Boaventura observou que Trump foi pressionado por setores sionistas e da indústria armamentista para atacar o Irã, contrariando sua promessa de campanha de evitar guerras. “Ele hesitou. Avisou os iranianos sobre o ataque. E agora está irritado com Israel porque percebeu que eles querem a mudança de regime em Teerã. Mas ele não quer uma guerra total — quer a guerra comercial”.
Segundo Boaventura, o presidente norte-americano corre risco de perder apoio popular, já que “as sondagens indicam que a maioria dos americanos é contra a guerra com o Irã”. Ele concluiu: “Estamos diante de um país à beira da guerra civil, com um presidente que não cumpriu nenhuma promessa, exceto a de cortar impostos dos ricos”.
A entrevista completa está disponível na TV 247 e reafirma o papel central de Boaventura de Sousa Santos como uma das vozes mais lúcidas, combativas e humanistas do pensamento contemporâneo. Seu apelo à resistência não violenta, à construção de alternativas e ao fim da naturalização do mal é um chamado urgente para o nosso tempo. Assista:
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