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O Irã — e também o Brasil — deveriam ter armas nucleares, defende Paulo Nogueira Batista Jr.

Economista critica política externa brasileira nos BRICS, condena ataque dos EUA ao Irã e afirma que apenas países armados nuclearmente são respeitados

(Foto: Reuters | Reprodução )
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247 – Em entrevista concedida ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, o economista Paulo Nogueira Batista Júnior fez duras críticas à condução da política externa brasileira no contexto dos BRICS, comentou os desdobramentos da ofensiva dos Estados Unidos contra o Irã e defendeu que tanto o Irã quanto o Brasil deveriam possuir armas nucleares como forma de dissuasão. “Eu compreendo perfeitamente que o Irã desenvolva armas nucleares. O mundo está mostrando que países desarmados nuclearmente — como Líbia, Iraque e Síria — são destruídos pela combinação Israel–Estados Unidos”, afirmou.

Durante a conversa, o ex-diretor do FMI e do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) avaliou que a atual presidência brasileira dos BRICS é marcada por “timidez” e falta de protagonismo estratégico. Segundo ele, “me espanta o pouco engajamento de ministros-chave”, citando nominalmente o ministro Fernando Haddad, cuja ausência em reuniões relevantes teria sido sentida. “Tem muita gente infiltrada no governo Lula que acredita que o Brasil deve estar mais alinhado ao Ocidente do que aos BRICS”, observou.

BRICS e geopolítica global: crítica à ambiguidade brasileira

Paulo participou recentemente, ainda que remotamente, do Fórum de São Petersburgo, onde apresentou palestra sobre o futuro dos BRICS. Na entrevista, relatou que há um risco de desengajamento por parte do Brasil na liderança do grupo: “O próprio presidente da República, no meu entender, não está dando devida ênfase à questão dos BRICS”.

O economista destacou o erro estratégico de tratar a presidência dos BRICS como uma plataforma de equilíbrio entre Ocidente e Sul Global. Para ele, essa ambiguidade não se sustenta no longo prazo. “O Brasil não é Ocidente político, é apenas geográfico. E não será aceito como membro principal do Ocidente. No BRICS, o Brasil pode ter protagonismo”, afirmou.

Guerra, petróleo e dissuasão nuclear

Ao ser questionado sobre a escalada de tensões entre Estados Unidos e Irã, Nogueira Batista condenou de forma contundente a ofensiva norte-americana: “É um absurdo, uma violação da lei internacional e da própria Constituição americana”. Segundo ele, os custos para Washington e Tel Aviv podem ser altos, já que o Irã não é comparável a Gaza, Síria ou Líbano: “O Irã é outro bicho. Vamos ver o preço que Estados Unidos e Israel pagarão por essa guerra”.

Comentando os riscos de uma crise energética, ele alertou para a possibilidade de o Irã fechar o Estreito de Ormuz, o que poderia provocar uma escalada nos preços do petróleo. “Isso afetaria o mundo inteiro, inclusive a China — e paradoxalmente beneficiaria a Rússia, grande exportadora de energia”.

Em seguida, reafirmou sua visão de que o Irã está plenamente justificado em desenvolver armas atômicas e foi além: “O Brasil cometeu um grande erro estratégico ao abdicar da capacidade nuclear. Deveríamos ter mantido a possibilidade de dissuasão. A declaração do presidente Lula, de que ‘só é respeitado quem tem café no bule’, está perfeita”, declarou, referindo-se à fala feita pelo presidente enquanto estava preso, em referência ao poder nuclear.

Política monetária e crise fiscal

Na parte final da entrevista, o economista comentou a condução da política monetária brasileira, avaliando que os juros estão altos demais e que o atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, enfrenta um quadro de limitações herdadas de seu antecessor, Roberto Campos Neto. “Ele teve que fazer concessões para chegar ao cargo. Isso gera amarras”, analisou. Nogueira defendeu a adoção de quarentena rigorosa para diretores do BC que pretendam atuar no sistema financeiro após deixarem o cargo, evitando conflito de interesses.

Sobre a crise entre o governo e o Congresso em torno da reforma tributária, foi taxativo: “O Congresso representa os interesses da plutocracia. A reforma que atinge os mais ricos está sendo sabotada. A alternativa é ampliar o debate público, como Haddad tem feito com inteligência”, defendeu. Ele também sugeriu que, embora complexa juridicamente, a realização de plebiscitos sobre temas tributários poderia ser uma ferramenta política útil caso a correlação de forças no Legislativo siga desfavorável ao governo.

Ao final, reafirmou que o Brasil precisa entender que vive em um mundo perigoso, onde “prevalece a lei da selva” e que “um país desarmado, psicologicamente e militarmente, como o Brasil, torna-se vulnerável”. Assista: 

 

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