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Lejeune Mirhan alerta: Trump sinaliza o fim da civilização

Professor critica beligerância do presidente dos Estados Unidos e descreve cenário internacional como um faroeste global

Donald Trump, Benjamin Netanyahu e Lejeune Mirhan (Foto: Reuters | Divulgação)
Redação Brasil 247 avatar
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247 – Em entrevista ao jornalista Leonardo Sobreira, no Boa Noite 247, o sociólogo e professor Lejeune Mirhan analisou os desdobramentos do conflito entre Irã e Israel e a postura de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, em seu segundo mandato iniciado em 2025. Na conversa, Mirhan classificou a retórica de Washington como “agressiva” e alertou para a escalada de tensões que, segundo ele, ameaça a própria sobrevivência da ordem civilizatória.

“A civilização humana está nos seus estertores; já é bang-bang”, afirmou o professor, ao criticar a declaração de Trump de que “o Irã foi dizimado” e suas “três instalações nucleares malignas foram obliteradas”. O comentário do chefe da Casa Branca foi lido no programa pouco depois de ter sido publicado em suas redes sociais, reacendendo o debate sobre quem saiu vitorioso do confronto de dez dias que sacudiu o Oriente Médio.

Mirhan sustenta que “militarmente o Irã venceu”, lembrando que “quem pediu o cessar-fogo foi Israel”. Para ele, o custo político e econômico da operação israelense — que incluiu mais de 200 aeronaves e o uso de munições bunker buster contra instalações a 90 metros de profundidade — produzirá “desgaste interno” no governo de Benjamin Netanyahu e poderá levar a eleições antecipadas. “Há 15 500 famílias desabrigadas; o impacto na opinião pública é enorme”, destacou.

O professor também questionou o “padrão moral” de Israel ao relatar a morte de “15 comandantes da cúpula militar iraniana” e “10 cientistas nucleares com suas famílias”. Segundo Mirhan, a ofensiva fortaleceu a decisão do Parlamento iraniano de iniciar o processo para se retirar do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e reduzir a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Ele acusa o diretor-geral da agência, o argentino Rafael Grossi, de “comportamento desviante” e de “facilitar” ataques ao fornecer informações sensíveis sobre cientistas iranianos.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de um cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza, Mirhan avaliou que a pressão internacional sobre Israel tende a crescer. Donald Trump, lembrou o professor, declarou que um acordo “poderia ser alcançado em uma semana”, mas estaria menos motivado por preocupação humanitária e mais pela “Riviera de Gás”, projeto que visaria explorar recursos energéticos na costa palestina. “Já passou da conta; a aura que protegia Israel se quebrou”, disse ele, apontando para denúncias de genocídio que ganharam força na Europa, inclusive com críticas do primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez.

Mirhan enxerga, porém, limites à comparação de Israel com o regime de apartheid sul-africano ou com a Alemanha nazista, porque “Estados Unidos e Israel são irmãos siameses”. Ele recordou que, nos 630 dias de campanha militar em Gaza, apenas a Colômbia rompeu relações diplomáticas com Tel-Aviv. “Não vejo hoje a menor possibilidade de isolamento total”, concluiu.

Sobre o Líbano, o sociólogo observou que o Hezbollah aceitou retirar-se da fronteira sul, agora patrulhada pelo Exército libanês e por capacetes azuis da ONU, mas alertou que ataques israelenses a bases do grupo persistem. “Israel está em guerra com cinco países”, afirmou, citando ainda Síria, Iêmen, Palestina e Irã. Para Mirhan, o risco é de “uma conflagração regional” caso Tel-Aviv mantenha sua “política de agressões preventivas”.

No encerramento do programa, o professor fez um balanço da crise humanitária provocada pelos conflitos no Oriente Médio e lamentou a decisão dos Estados Unidos de revogar o status de proteção temporária (TPS) de milhares de imigrantes haitianos e afegãos. “O país que se apresenta como defensor da democracia expulsa um milhão de pessoas por ano”, criticou.

Com uma linguagem direta e sem eufemismos, Lejeune Mirhan pinta um quadro sombrio: de um lado, um Irã que, apesar das perdas, exibe resiliência tecnológica; de outro, um Israel com poderio militar mas isolado moralmente; e ao centro, um presidente norte-americano cuja “agressiva” retórica pode incendiar ainda mais a região. Para o professor, “o mundo virou um faroeste” — e caberá à comunidade internacional decidir se manterá o gatilho apertado ou buscará, finalmente, um caminho diplomático. Assista:

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