“Israel achava que a população iraniana se voltaria contra o governo, mas o que houve foi o oposto”, diz historiador
Historiador Márcio Santos relata a reação do povo do Irã diante dos ataques israelenses e expõe erros de cálculo do Ocidente sobre o país
247 - Durante entrevista ao programa Boa Noite 247, o historiador Márcio Santos, ativista da Marcha Global por Gaza e pesquisador independente sobre a história dos povos árabes, detalhou suas impressões após sete meses vivendo no Irã. Com experiência em mais de 40 países e atuação em direitos humanos, Santos concentrou sua análise no impacto dos ataques israelenses sobre a população iraniana e na forma como o Ocidente tem sistematicamente subestimado a complexidade do país.
Segundo ele, a expectativa de que os bombardeios israelenses — com respaldo dos Estados Unidos — provocariam uma revolta interna contra o regime teocrático iraniano não se confirmou. “Israel achava que a população iraniana se voltaria contra o governo, mas o que houve foi o oposto”, afirmou. “A população se uniu, demonstrou resiliência e manteve sua rotina mesmo sob ataques. As pessoas continuam indo ao trabalho, se abrigando quando necessário e vivendo sua vida com uma sabedoria impressionante.”
O historiador enfatizou que essa resistência surpreendeu os formuladores da política externa ocidental. “Israel estava informado sobre os protestos de três anos atrás, achava que poderia reativá-los com uma ofensiva militar. Esperava uma revolução popular contra o governo religioso. Isso não aconteceu.”
Márcio Santos também criticou a forma como o Ocidente constrói imagens distorcidas do Irã. “O Irã é frequentemente retratado como um país bárbaro, de terroristas e deserto. Essa imagem foi fabricada pela mídia ocidental, especialmente a partir da Revolução Islâmica de 1979. Mas ao chegar lá, você encontra um país sofisticado, seguro, com um sistema de saúde funcional e uma população educada.”
Durante a entrevista, ele relatou ainda como os iranianos reagem historicamente às ameaças externas: “Quando eu dizia que havia o risco de uma guerra, eles respondiam: ‘Sempre vivemos com essa ameaça. Desde que nascemos, convivemos com a possibilidade de conflito’. É um povo que convive com a tensão, mas não se rende ao medo.”
Santos também destacou as diferenças internas do Irã. “Existe uma contradição clara entre o Estado, que é clerical e moralista, e uma sociedade moderna, urbana, culta e com baixa taxa de pobreza visível. Isso é perceptível ao caminhar pelas grandes cidades como Teerã, Esfahan e Shiraz.”
O pesquisador alertou ainda para o valor simbólico dos ataques recentes. “É a primeira vez que Teerã é bombardeada. Durante a guerra com o Iraque nos anos 1980, isso não ocorreu. Agora, há vídeos e relatos de moradores com janelas balançando e explosões audíveis. Isso é inédito.”
Ao final, Santos reforçou que o Irã é um dos últimos países da região que ainda resiste à hegemonia ocidental e à lógica de dominação militar. “O que tentaram fazer agora foi remover o governo iraniano por uma ação externa, não por uma decisão do povo. O Irã é o último baluarte de resistência contra esse processo de invasão cultural e econômica.” Assista:
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: