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Charlie Hebdo: ‘Nenhuma opinião justifica o fuzilamento’, reflete Latuff sobre atentado e liberdade de expressão

O chargista brasileiro analisa os desdobramentos do ataque ao jornal francês e critica a islamofobia crescente na Europa

(Foto: Brasil247 | Reuters)
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247 - Dez anos após o ataque terrorista que vitimou 12 pessoas na redação do jornal satírico Charlie Hebdo, o chargista brasileiro Carlos Latuff, conhecido por seu trabalho crítico e politicamente engajado, analisou os desdobramentos do atentado e a atuação do jornal em questões sociais e políticas. As declarações foram feitas em entrevista ao podcast RFI Convida, da Rádio França Internacional (RFI), transmitido no último dia 6 de janeiro.Latuff relembrou sua reação ao atentado de 7 de janeiro de 2015. “Minha reação inicial foi de surpresa, porque até então eu não tinha notícia de chargistas serem alvos de ataques dessa natureza”, disse. O episódio inspirou uma de suas charges mais simbólicas, que retratava os atiradores disparando contra a sede do Charlie Hebdo, com as balas atingindo uma mesquita ao fundo. “Quis mostrar que o atentado teria consequências imprevisíveis contra a própria comunidade islâmica, alimentando a islamofobia já existente na Europa”, explicou.

Crítica ao posicionamento do jornal

Latuff, no entanto, não poupou críticas ao conteúdo editorial do Charlie Hebdo. Segundo ele, o jornal “abraçou a agenda da extrema direita” ao publicar charges que ele considera ofensivas e islamofóbicas. “Não sou fã do trabalho deles. Um jornal que se pretende progressista abraçou um pensamento anti-imigrante e antimuçulmano. Isso não é crítica política, é ataque gratuito e covarde contra a fé islâmica”, afirmou durante o podcast.

Ainda assim, Latuff condenou veementemente o ataque. “Qualquer pessoa de bom senso não pode aprovar que chargistas, ou quem quer que seja, seja fuzilado por conta de opiniões. É de se lamentar e condenar.” Ele também criticou a campanha global “Je suis Charlie”, argumentando que, para ele, a adesão implicava concordância com as charges ofensivas do jornal.

Responsabilidade na criação artística

Para o cartunista carioca, o episódio de 2015 destaca a importância da responsabilidade no trabalho de chargistas e artistas. “Uma charge mal feita pode ajudar a criminalizar um segmento, como as que reforçam preconceitos racistas, xenófobos e islamofóbicos, como faz o Charlie Hebdo na França. Isso é infantil e irresponsável”, declarou. Ele ainda apontou uma “hipocrisia da sociedade europeia” no tratamento da liberdade de expressão, destacando que críticas ao governo de Israel frequentemente são taxadas de antissemitismo, enquanto ataques a muçulmanos e imigrantes são tolerados. “É um golpe baixo e fácil”, acrescentou.

O papel da charge na sociedade

Latuff reafirmou no RFI Convida seu compromisso com o uso da charge como ferramenta de combate social e político, mas destacou os limites éticos desse trabalho. “O papel do chargista, seja numa democracia, seja numa ditadura, é de combate. Mas é preciso ter muita responsabilidade. Caso contrário, a arte pode se tornar um instrumento de opressão.”Para ele, o legado do atentado ao Charlie Hebdo deve ser debatido não apenas em termos de liberdade de expressão, mas também no contexto de como o discurso artístico pode influenciar sociedades em momentos de tensão e conflito. Fontes: Podcast RFI Convida, publicado pela Rádio França Internacional (RFI) em 6 de janeiro de 2025.

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