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Escritora questiona amor romântico na era digital

Professora Adriana Ventura lança livros e realiza palestras para questionar padrões afetivos e romper com tabus de gênero

Adriana Ventura publicou os livros “As relações monogâmicas só existem na cabeça da mulher apaixonada” e “A Síndrome da Escolhida” (Foto: Divulgação )
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Beatriz Bevilaqua, 247 - Como conciliar uma rotina intensa na educação pública com uma carreira como escritora, influenciadora e palestrante? No novo episódio do programa “Empreender Brasil”, em parceria com o Sebrae Nacional, a professora Adriana Ventura compartilha os caminhos que a levaram da sala de aula ao mercado editorial e como sua vivência pessoal impulsionou um projeto autoral que hoje impacta milhares de mulheres pelo país.

Com dois livros lançados, “As relações monogâmicas só existem na cabeça da mulher apaixonada” e “A Síndrome da Escolhida”, Adriana se tornou uma voz provocadora ao tratar das dores, idealizações e contradições que cercam os vínculos afetivos. Nascida e criada no extremo leste de São Paulo, em São Miguel Paulista, ela concilia uma rotina intensa como professora da rede pública com uma produção autoral e conteúdo digital que viraliza.

“Eu venho de uma família tradicional, com pais casados há quase 40 anos. Cresci em uma periferia, sendo mulher, sendo negra, mas com repertórios muito plurais. Sempre tive sede de pesquisar, de questionar, de entender o mundo”, conta ela. “A leitura sempre me acompanhou. Escrever foi consequência”.

Um livro feito para chegar onde o feminismo não chega

A ideia do primeiro livro nasceu durante a pandemia. Com a sobrecarga do trabalho remoto, o isolamento e as crises de ansiedade, Adriana mergulhou em leituras e análises do comportamento das mulheres nas redes. Em dois anos, escreveu um texto-reflexão que pretendia romper com o tom acadêmico para alcançar quem mais precisa ser ouvida: as mulheres das periferias, as mães solos, as que não conseguiram terminar os estudos.

“Meu livro não é uma tese. É uma conversa. Eu escrevi pensando na tia da esquina, na vizinha que passa por violências e nem sabe nomear o que sente. Muitas vezes, as teorias feministas não chegam nessas mulheres. Eu queria romper esse muro”, explica.

Sem editora nem financiamento, Adriana autopublicou o ebook pela Hotmart, criou uma conta no Twitter para divulgar frases de impacto acompanhadas da capa do livro e o conteúdo explodiu. Em poucos meses, ela começou a receber relatos de leitoras emocionadas. “Começou a vender. E comecei a ouvir: ‘esse livro mudou minha vida’. Eu fiquei chocada”, relembra.

Esse movimento foi, na prática, seu mergulho no empreendedorismo mesmo que ela só tenha percebido isso depois. “Publicar o livro, fazer a divulgação, lidar com as redes, pensar nas palestras, tudo isso é empreender. Foi ali que eu entendi que estava criando um serviço”. 

Amor, monogamia e o mercado afetivo

A crítica à monogamia - tema que dá título ao seu primeiro livro - não é sobre defender o poliamor, ela explica. “As pessoas acham que vou falar de relacionamento aberto, mas não é isso. A crítica é ao modelo, à lógica patriarcal que molda nossos vínculos. A mulher, para ser reconhecida, precisa ser validada como ‘escolhida’. Isso nos coloca em posição de submissão, de rivalidade, de sofrimento.”

Essa reflexão se aprofunda em “A Síndrome da Escolhida”, lançado em maio. O novo livro explora o desejo feminino de ser “a única” dentro de uma estrutura de exclusividade, e como essa lógica alimenta inseguranças, violências e silenciamentos.

“A mulher se molda, se anula, disputa. Enquanto isso, os homens seguem ditando os critérios: não estão prontos, não querem compromisso, não assumem filhos, não pagam pensão. E ainda assim a gente os vê como provedores, protetores, príncipes encantados. É um mito que ainda sustenta o mercado afetivo”.

Adriana também destaca que esse desejo de “não estar sozinha”,  alimentado desde a infância por contos de fadas, novelas e a cultura pop, é um dispositivo que mantém as mulheres presas em relações muitas vezes abusivas.

“Ser sozinha virou sinônimo de fracasso. Mas estar em um relacionamento não é sinônimo de sucesso. O número de feminicídios, os casos de abandono, a sobrecarga das mães solos estão aí para provar. A mulher está repensando o que significa estar acompanhada. E muitas têm encontrado liberdade fora do modelo tradicional”.

Um empreendedorismo que nasce da urgência

Adriana não planejou virar influenciadora, escritora ou palestrante. Mas foi empurrada pelas circunstâncias e principalmente, por sua inquietação. “Durante a pandemia, eu parei. E o parar me fez adoecer. Me deu pânico. Então eu transformei esse tempo em criação. O livro nasceu assim. As frases, os vídeos, as palestras. Tudo veio disso”.

Hoje a autora é uma referência para mulheres que se veem refletidas em suas palavras. Suas obras, suas falas e seus conteúdos têm um destino claro: chegar onde os livros acadêmicos muitas vezes não chegam. Democratizar saberes, provocar incômodo e inspirar reflexão.

“A mulher está entendendo que não existe liberdade sem liberdade financeira, e não existe liberdade afetiva sem autonomia emocional. Eu não quero que minhas ideias sejam tidas como verdades absolutas. Eu quero que sirvam de ponto de partida para que outras mulheres pensem, debatam, reelaborem. É isso que me move”.

Assista a entrevista na íntegra aqui:

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