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UE corre para salvar Airbus e montadoras alemãs de tarifa de 50% nos EUA

Negociadores tentam proteger Airbus, montadoras alemãs e setor de bebidas antes do aumento tarifário previsto para 1º de agosto

Airbus (Foto: Reuters)
Luis Mauro Filho avatar
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247 - A poucos dias do prazo final para evitar uma escalada tarifária nos Estados Unidos, a União Europeia acelera as negociações para selar um acordo comercial provisório. 

Segundo informações publicadas pela agência Bloomberg, o foco imediato da Comissão Europeia — responsável pela política comercial do bloco — é blindar setores estratégicos europeus, como o aeroespacial, o automotivo e o de bebidas, diante do risco de tarifas que podem saltar para 50% a partir de 1º de agosto.

Airbus no centro do esforço europeu

Entre os pontos centrais do entendimento em construção está a exclusão de tarifas adicionais sobre aeronaves comerciais, uma medida que beneficiaria diretamente a Airbus SE, considerada símbolo da cooperação industrial europeia. “É absolutamente o porta-estandarte da fabricação de aeronaves na Europa”, afirmou John Strickland, analista da JLS Consulting. Para ele, o impacto das tarifas nos preços finais poderia reduzir a demanda e comprometer a viabilidade financeira da empresa.

A Airbus, com sede em Toulouse (França) e centros de montagem em Hamburgo (Alemanha), Tianjin (China), Mobile (EUA) e Mirabel (Canadá), tem apostado na produção local como estratégia de penetração nos principais mercados mundiais. Essa distribuição geográfica pode oferecer uma vantagem competitiva diante da Boeing, rival sediada em Arlington, nos EUA, que mantém toda a produção em território americano.

O comissário europeu de Indústria, Stephane Sejourne, foi categórico em declaração à Bloomberg no mês passado: “A Airbus não pode estar sujeita a uma concorrência desleal”, ao se referir ao imposto adicional de 10% enfrentado pela empresa europeia.

Montadoras alemãs na disputa por isenções

Outro setor fortemente impactado é o automobilístico. As discussões em curso preveem exceções tarifárias que favoreceriam principalmente montadoras com fábricas nos Estados Unidos — como BMW, Mercedes-Benz e a marca principal da Volkswagen. O modelo proposto prevê um “mecanismo de compensação”, que permitiria exportações isentas até um certo volume, desde que os veículos sejam fabricados em solo americano.

Com essa proposta, marcas como Porsche e Ferrari — que não possuem plantas nos EUA — seriam excluídas dos benefícios. A medida atende principalmente aos interesses da Alemanha, país que liderou as exportações de automóveis da UE para os EUA em 2024, com US$ 24,8 bilhões.

O chanceler alemão Friedrich Merz já declarou apoio à criação de mecanismos de compensação, enquanto o ministro das Finanças, Lars Klingbeil, adotou tom mais duro: “Queremos um acordo com os americanos. Mas ele deve ser justo — e, se não conseguirmos, a UE terá que adotar contramedidas para proteger nossa economia”.

Pressão do relógio

O atual impasse é resultado direto da imposição de tarifas por parte dos EUA sobre cerca de €380 bilhões em exportações da UE — o equivalente a 70% do total. As tarifas já elevam em até 25% os custos de automóveis e peças, e em 50% os de aço e alumínio.

Caso não haja acordo até o dia 1º de agosto, entrará em vigor um aumento generalizado de tarifas para 50%, o que aprofundaria a guerra comercial em curso e comprometeria ainda mais as projeções econômicas do bloco europeu. Em maio, a Comissão Europeia já havia revisado para baixo sua estimativa de crescimento para 2025, de 1,5% para 1,1%, citando diretamente o impacto das tensões comerciais.

A retomada do acordo de 1979 — que isentava da cobrança tarifas sobre aviões e peças — é defendida inclusive por integrantes do governo norte-americano. Durante o Paris Air Show, o secretário de Transportes dos EUA, Sean Duffy, afirmou que “devemos tirar a aviação da mesa de negociações”, voltando ao pacto original.

O desfecho das negociações, ainda em curso nesta semana, será decisivo para o futuro de setores industriais-chave da Europa — e poderá redefinir os rumos da relação comercial transatlântica.

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