Tarifaço de Trump deve encarecer o hambúrguer no Estados Unidos
Medida afeta importadores e consumidores norte-americanos, com impacto direto no preço da carne e aumento da pressão sobre a cadeia de suprimentos
247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, o que, segundo analistas e importadores, deve impactar fortemente o mercado de carne bovina usada na produção de hambúrgueres no país. A informação foi publicada pela agência Reuters nesta quinta-feira (10).
A decisão ocorre em um momento em que a indústria alimentícia norte-americana já enfrenta dificuldades com a escassez de gado, provocada por uma prolongada seca que reduziu drasticamente o rebanho bovino dos EUA – hoje no menor nível em mais de 70 anos. Como resposta, os produtores de alimentos intensificaram as importações, especialmente de carne magra do Brasil, utilizada para misturar com o suprimento interno na produção de hambúrgueres.
Segundo dados oficiais, as importações de carne brasileira pelos Estados Unidos mais que dobraram nos cinco primeiros meses de 2025, alcançando 175.063 toneladas métricas — o equivalente a 21% do total importado pelo país. No entanto, com o novo imposto, a tarifa total sobre a carne brasileira chegará a aproximadamente 76% até o final do ano.
"Se isso não for modificado, simplesmente deixaremos de importar carne bovina do Brasil", afirmou Bob Chudy, consultor de empresas norte-americanas que trabalham com importação de carne. "Nenhuma libra será economicamente viável nesses níveis."
A medida se insere na ampliação da guerra comercial promovida por Trump, que já havia imposto uma tarifa de 10% sobre produtos brasileiros em abril. Essa primeira rodada de tarifas já havia provocado uma desaceleração nas importações de carne no mês de junho. Agora, com a nova elevação, o setor teme consequências mais severas.
"Está absolutamente congelando o comércio hoje", declarou Chudy. "Nós, como comunidade importadora, não sabemos o que fazer."
A Casa Branca, por sua vez, defende a iniciativa. Segundo a porta-voz Anna Kelly, "Trump mostrou que os Estados Unidos podem aplicar tarifas que equilibrem as condições para trabalhadores e agricultores americanos, enquanto reduzem custos."
No entanto, na prática, a consequência imediata é o aumento nos preços de alimentos básicos, como carne, café e suco de laranja — todos produtos que podem ser afetados por novas tarifas sobre as importações brasileiras. Thomas Gremillion, diretor de políticas alimentares da Federação do Consumidor dos EUA, foi direto: “Essa tarifa provavelmente aumentará o preço da carne, um alimento básico para muitos, logo após o Congresso votar pela redução da assistência alimentar para os consumidores mais vulneráveis.”
Com a nova taxa, empresas norte-americanas que dependem da carne brasileira precisarão buscar alternativas em países como Austrália, Argentina, Paraguai e Uruguai — muitas vezes com custos ainda mais altos. “É necessário elevar os preços para racionar o que se tem disponível”, explicou Altin Kalo, economista-chefe da consultoria Steiner.
A dependência de fornecedores estrangeiros também preocupa o setor de restaurantes. “Aumentos tarifários dramáticos podem afetar o planejamento de cardápios e os custos com alimentos, à medida que os restaurantes tentam encontrar novos fornecedores”, alertou Sean Kennedy, vice-presidente executivo da Associação Nacional de Restaurantes.
A situação agrava-se com a recente suspensão da importação de gado vivo do México devido ao avanço do verme-da-parafina, uma praga que se alastra pela fronteira sul. Esse cenário pressiona ainda mais o setor agroalimentar norte-americano, já impactado pela redução na produção local, que deve cair 2% em 2025, totalizando 26,4 milhões de libras.
A escalada tarifária de Trump, portanto, não só amplia as tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos — o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás apenas da China — como também aprofunda as dificuldades internas dos EUA no abastecimento de alimentos essenciais, podendo transformar o tradicional hambúrguer em um produto ainda mais caro para o consumidor americano.
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