Galípolo e banqueiros devem apresentar a Lula alternativas para impulsionar o crédito imobiliário

247 – Em um movimento coordenado para enfrentar os desafios do crédito imobiliário no Brasil, os principais executivos do setor bancário se reuniram na manhã desta terça-feira (9) com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. A informação foi revelada pelo Valor Econômico, que apurou com interlocutores próximos os detalhes do encontro, considerado um “nivelamento” preparatório para uma reunião mais ampla com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prevista para quinta-feira.

Segundo fontes ouvidas pelo Valor, Galípolo pretende apresentar diretamente ao presidente Lula as propostas debatidas com os bancos antes de qualquer divulgação pública. A intenção é buscar uma solução conjunta para viabilizar o financiamento habitacional em meio à retração estrutural da caderneta de poupança — até então a principal fonte de recursos para o crédito imobiliário no país.

Queda da poupança acende sinal de alerta

A diminuição contínua dos depósitos em poupança, aliada ao atual patamar elevado da taxa Selic (15%), tem pressionado o modelo tradicional de funding para o setor. Por isso, o Banco Central, a Caixa Econômica Federal e representantes do mercado buscam alternativas para ampliar a oferta de crédito habitacional e manter a roda da construção civil girando.

Entre as possibilidades consideradas estão medidas de curto prazo, como a redução dos depósitos compulsórios, que liberariam recursos imediatos para os bancos. No entanto, também há discussões sobre soluções estruturais mais robustas, como o fortalecimento do mercado de securitização. Esta última, porém, encontra dificuldades para deslanchar diante do elevado custo do dinheiro no Brasil.

Participantes e articulação institucional

A reunião contou com nomes de peso do sistema financeiro. Estavam na lista de convidados Isaac Sidney (presidente da Febraban), Sandro Gamba (presidente da Abecip), Milton Maluhy (presidente do Itaú), Mario Leão (presidente do Santander), Carlos Vieira (presidente da Caixa) e Tarciana Medeiros (presidente do Banco do Brasil). Ainda que nem todos tenham comparecido efetivamente, o gesto sinaliza a importância que o tema ganhou na agenda institucional.

A Caixa, maior operadora do crédito imobiliário no país, tem papel central nas discussões. Seu presidente, Carlos Vieira, também deve participar da agenda com Lula, ainda não confirmada oficialmente pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), mas tratada como certa nos bastidores do governo federal.

Transição de modelo sob análise

Em declarações anteriores, Gabriel Galípolo já havia antecipado a necessidade de “transição do modelo de crédito imobiliário”, apontando que a dependência excessiva da poupança se tornou um entrave para a expansão sustentável do setor. “A ideia é encontrar soluções que não apenas tapem buracos momentâneos, mas que possam estruturar um novo ciclo de crédito de longo prazo”, tem defendido o presidente do Banco Central.

A expectativa do governo é de que, com apoio dos bancos e respaldo técnico do BC, seja possível anunciar medidas que assegurem o crescimento do setor da construção civil, mantenham o crédito acessível às famílias e evitem o estrangulamento da oferta de moradias, especialmente dentro de programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida.