Bolsonarismo afunda após ato flopado na Paulista
Clima entre os seguidores de Jair Bolsonaro é de velório e caça às bruxas
247 – A manifestação convocada por Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (29), na avenida Paulista, gerou uma crise interna entre seus aliados, ao atrair um público significativamente menor do que o esperado. O clima nos bastidores do bolsonarismo se assemelha ao de um velório, com recriminações mútuas, acusações de traição e aprofundamento das disputas familiares e partidárias. Segundo levantamento do Monitor do Debate Político do Cebrap, apenas 12,4 mil pessoas compareceram ao ato — número muito inferior aos 44,9 mil registrados em abril e aos 185 mil que se reuniram em fevereiro de 2023.
As informações são da Folha de S.Paulo, que ouviu diversos interlocutores do campo bolsonarista. A ausência de figuras de destaque, como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), acirrou tensões já existentes. Embora até a véspera os dois fossem dados como presenças certas no ato, ambos justificaram ausências por compromissos prévios. Michelle alegou agenda do PL Mulher em Roraima, enquanto Nikolas afirmou ter sido padrinho de casamento de uma prima.
Rachaduras e desconfiança
Entre os aliados mais próximos do ex-presidente, cresceu a desconfiança e a busca por culpados. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente e atualmente nos Estados Unidos, publicou vídeo enigmático nas redes sociais, afirmando que era necessário prestar atenção em "quem compareceu, quem não compareceu, como é que foram os discursos, quem é que faz o embate".
"Essa é uma grande oportunidade para você aprender, porque foi ali um palco, não somente por um grito de liberdade, mas também um evento que não deixa de ser político. Então é para você acompanhar a política de perto, porque quem não escuta 'cuidado', depois ouve 'coitado'", declarou Eduardo.
Eduardo e Michelle travam, nos bastidores, uma disputa velada pela indicação de Bolsonaro como seu sucessor em 2026. Como o ex-presidente está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a definição de um novo nome para representar o grupo nas eleições virou motivo de tensão familiar e estratégica.
Fogo amigo
As críticas também atingiram figuras do centrão que orbitam o bolsonarismo, como os presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antônio Rueda, ambos ausentes no ato. A ausência foi interpretada por aliados como sinal de afastamento e oportunismo. A presença do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não foi suficiente para apaziguar os ânimos: seu discurso tímido, limitado a dois "fora, PT" e sem ataques ao STF, foi visto como tentativa de se descolar do núcleo mais radical do bolsonarismo.
Aliados de Bolsonaro também apontaram falhas na divulgação do evento. Embora o pastor Silas Malafaia, organizador da manifestação, tenha promovido o ato com antecedência, críticos afirmaram que influenciadores bolsonaristas com grande alcance nas redes sociais ignoraram a convocação. Parte do grupo atribui isso a rivalidades internas e disputas de protagonismo.
Um integrante do PL ouvido pela Folha revelou que muitos políticos não quiseram ir à Paulista por não terem acesso ao trio elétrico de Bolsonaro — palco controlado por Malafaia e usado como vitrine nas redes. “Se não vão aparecer ao lado do chefe, preferem nem ir”, resumiu.
Efeito Moraes
Dois participantes ouvidos pela reportagem atribuíram o esvaziamento do ato também à postura de Bolsonaro no recente depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, o ex-presidente surpreendeu seus apoiadores ao adotar um tom ameno, referindo-se aos manifestantes acampados em frente aos quartéis como “malucos”. O gesto foi interpretado como uma quebra de lealdade por parte da base mais radical, que esperava um enfrentamento simbólico contra o STF e uma defesa dos que estão presos por envolvimento na tentativa de golpe de 8 de janeiro.
Apesar disso, pessoas próximas a Bolsonaro minimizaram a leitura de que o movimento está em declínio. Segundo esse núcleo, o esvaziamento do ato teria sido provocado mais por erros de articulação do que por perda de apoio popular.
A reportagem da Folha buscou contato com Ciro Nogueira, Antônio Rueda e Michelle Bolsonaro, mas não obteve resposta. Já Nikolas Ferreira respondeu:
“Fui padrinho de casamento de uma prima, que morou comigo minha infância toda. Casamento marcado há meses. Não faltei a nenhuma outra manifestação. E com discursos contundentes.”
Crise de identidade
O fiasco do ato escancarou o dilema do bolsonarismo: sem Bolsonaro nas urnas, sem unidade interna e com líderes em disputa, o campo conservador enfrenta dificuldade para se reorganizar. A frustração com o público diminuto e a ausência de nomes simbólicos deixou evidente que o movimento, outrora coeso e combativo, vive uma fase de dispersão e incerteza.
A pergunta que paira no ar: quem liderará o bolsonarismo em 2026? Por ora, a única certeza é de que o último domingo aprofundou as divisões e enfraqueceu a imagem de força que o ato pretendia transmitir.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: