Podcast 'Afluentes' revela riqueza da música amazônica a partir das margens dos rios
Série idealizada por Zek Picoteiro e apoiada pela Funarte percorre comunidades ribeirinhas e quilombolas para mapear sons do Beiradão ao Tecnobrega
247 - Com apoio do Programa Funarte Retomada 2023, o DJ, pesquisador e produtor cultural Zek Picoteiro lançou a série de podcast Afluentes, um trabalho sonoro que mergulha nas profundezas da diversidade musical amazônica. A Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cultura, selecionou o projeto entre os contemplados no edital voltado à retomada das atividades artísticas no país.
Gravado a bordo de embarcações que cruzaram rios como o Amazonas, Tapajós, Guamá e Jari, o podcast percorre comunidades ribeirinhas e quilombolas para registrar, mapear e celebrar os ritmos locais. A primeira temporada conta com seis episódios, dos quais dois já estão disponíveis. Cada um é dedicado a um gênero musical: Beiradão, Tecnobrega, Carimbó, Boi Bumbá, Lambada e Marabaixo.
“O projeto nasceu da minha necessidade, como DJ, de catalogar a diversa música amazônica. A concepção veio ao perceber que o rio é o elemento que conecta todos os gêneros musicais da região, servindo como uma rota para a sua disseminação. O podcast busca mapear esses fluxos”, explica Zek Picoteiro.
Rios como rotas musicais e territoriais - A musicalidade da Amazônia, como revela o projeto, não se dissocia dos rios. Eles são os vetores culturais e logísticos da região, transportando não apenas embarcações, mas também histórias, ritmos e aparelhagens. A logística fluvial é, inclusive, determinante para a organização de turnês de artistas e festas populares.
“A música também é consumida durante as longas viagens de barco, tornando-se a trilha sonora que conecta as comunidades ribeirinhas”, acrescenta o produtor.
Além do podcast, o projeto conta com um site interativo que oferece um mapeamento da bacia amazônica, reunindo artigos, playlists, diários de bordo, conteúdos mixados e informações sobre artistas e movimentos culturais da região.
Da tradição ao digital: escuta, oralidade e resistência - Com linguagem sensível e cuidado na edição sonora, Afluentes articula o formato digital do podcast com os fundamentos da tradição oral. A escuta atenta às falas e aos sons naturais valoriza o tempo da fala dos mestres e mestras locais, permitindo ao ouvinte uma imersão respeitosa no universo musical amazônico.
Zek Picoteiro acredita que a tecnologia pode ser uma ferramenta para a preservação e a difusão das narrativas amazônicas:
“Acredito muito no uso da tecnologia para criação e também na disseminação de múltiplas narrativas através de plataformas digitais. Esse formato de podcast tem sido muito importante para compartilhar o nosso ponto de vista amazônico sobre a nossa cultura”.
Ele também destaca a relevância do projeto para combater o preconceito contra gêneros marginalizados:
“O projeto amplifica a voz dos próprios criadores e busca visibilizar outras manifestações, como a cultura afro-amapaense do Marabaixo, que é uma forma de compreender a construção da identidade cultural preta da Amazônia”.
Gêneros em destaque: Beiradão e Tecnobrega - O episódio inaugural explora o Beiradão, gênero nascido às margens do Rio Amazonas, com forte presença do saxofone e conexão direta com festas tradicionais como a Festa do Mamão. O podcast aborda o contexto histórico do estilo, vinculado à exploração da borracha e aos fluxos migratórios.
O segundo episódio mergulha no universo do Tecnobrega, som eletrônico que surgiu nas periferias urbanas e nas aparelhagens. O programa mostra como esse ritmo se espalhou pelos rios e alcançou o interior da Amazônia, criando uma ponte cultural entre o centro e a margem.
Políticas públicas e descentralização da cultura - O projeto foi viabilizado com recursos do Programa Funarte Retomada 2023 – Música, parte de um conjunto de editais voltado às artes visuais, teatro, dança, circo e música, que destinou R$ 23,4 milhões ao setor cultural. A produção é assinada pelo Instituto Regatão Amazônia.
Para Zek, editais como esse são vitais:
“Eu consegui realizar expedições fluviais reais que nunca teria condições de fazer com recursos próprios. Além de possibilitar a descentralização da produção cultural e permitir que a Amazônia conte suas próprias histórias”.
A presidente da Funarte, Maria Marighella, destaca a importância de fomentar a produção artística fora dos grandes centros urbanos:
“A música brasileira e sua diversidade é uma riqueza do nosso país. Iniciativas como essa articulam criação, pesquisa e reflexão no desenvolvimento dessa que é a linguagem mais popular das artes brasileiras, a nossa música, e neste caso envolvendo diferentes ritmos e sonoridades produzidas por comunidades ribeirinhas da região Amazônica”.
Ela completa:
“Desde 2023, temos formulado programas que pudessem estar de mãos dadas com quem tece a rede produtiva das artes e promove o acesso da população aos bens artísticos e culturais em todas as regiões do Brasil. [...] É o que estamos realizando e avançando agora mesmo com as diretrizes da Política Nacional das Artes”.
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