Instituto alerta sobre extinção em massa diante da crise climática
Urbanização, desmatamento e emergência climática afetam drasticamente a biodiversidade, alerta Luiza Figueira, do Observatório de Aves da Mantiqueira
Beatriz Bevilaqua, 247 - A crise climática, intensificada por enchentes, secas severas, ondas de calor e degradação ambiental, já provoca impactos visíveis e alarmantes nas populações de aves no Brasil. O alerta vem de Luiza Figueira, bióloga, mestre em ecologia e diretora executiva do Observatório de Aves da Mantiqueira (OAMa), organização independente que há anos se dedica à pesquisa científica, conservação da biodiversidade e educação ambiental.
Criado oficialmente em 2019, o OAMa nasceu após um período de intercâmbio internacional vivido por Luiza e seu companheiro, Pedro Martins, em observatórios de aves nos Estados Unidos e na Costa Rica. Inspirados por esses modelos - alguns deles centenários -, os dois decidiram trazer para o Brasil esse formato institucional voltado à proteção da avifauna. A ideia foi adaptada à realidade brasileira, com foco na região da Serra da Mantiqueira, e ganhou força com a colaboração de outros ornitólogos e pesquisadores. Ainda em 2018, iniciaram as atividades com ações de monitoramento e comunicação. No ano seguinte, o projeto se consolidou como uma ONG sem fins lucrativos.
O trabalho do Observatório tem como base a integração entre pesquisa científica, capacitação técnica e educação ambiental. A produção de conhecimento por meio do monitoramento das aves permite entender as dinâmicas ecológicas da região e medir o impacto das mudanças ambientais sobre diferentes espécies. Além disso, cursos e oficinas formam novos profissionais e pesquisadores da área, enquanto ações educativas e de divulgação científica buscam ampliar o diálogo com a sociedade. Para Luiza, conectar ciência e sociedade é essencial para que a conservação aconteça de fato. Segundo ela, “só a boa intenção não resolve. Sem informação adequada, não há como agir de maneira efetiva. Mas a informação também precisa ser traduzida e compartilhada. A conservação precisa sair da bolha dos institutos de pesquisa”.
O cenário das aves brasileiras diante da crise climática é preocupante. A elevação das temperaturas, combinada com alterações nos regimes de chuvas, já afeta os ciclos de vida de diversas espécies. Há registros de aves mudando seus períodos reprodutivos como tentativa de adaptação ao novo clima. Mas nem todas conseguem acompanhar essas mudanças. As que não possuem essa plasticidade comportamental acabam ficando mais vulneráveis à extinção. Além disso, problemas antigos persistem: o tráfico de animais silvestres, a caça ilegal, a perda de habitat causada pelo desmatamento e a expansão urbana continuam entre os principais fatores de ameaça à biodiversidade.
Luiza destaca que a crise climática atua como um fator que potencializa todas essas ameaças. Se uma ave já enfrenta dificuldades por conta da degradação do habitat, o impacto das mudanças climáticas torna ainda mais difícil sua sobrevivência. Isso se reflete no número crescente de espécies ameaçadas. Somente na Mata Atlântica, segundo dados do ICMBio, 114 espécies de aves estão oficialmente em risco. E os registros de extinção também preocupam: nos últimos 20 anos, ao menos sete espécies de aves desapareceram oficialmente no Brasil. Esses dados fazem parte de um fenômeno global que muitos cientistas chamam de “sexta extinção em massa” - um período em que a velocidade da perda de espécies é centenas de vezes maior do que o ritmo considerado natural.
Engana-se quem pensa que a extinção de uma ave representa apenas a perda de um símbolo natural. As aves desempenham papéis ecológicos fundamentais. Elas polinizam flores, controlam populações de insetos, espalham sementes e contribuem diretamente para a regeneração e o equilíbrio das florestas. Quando uma espécie desaparece, toda a cadeia ecológica ao seu redor pode ser comprometida. A floresta perde diversidade, sua capacidade de regeneração diminui e, com isso, até mesmo sua função no controle climático é afetada. Além disso, a urbanização próxima a áreas florestais pode reduzir em até 50% o número de espécies locais, mostrando como a ocupação humana desordenada compromete severamente a biodiversidade.
Apesar dos dados preocupantes, Luiza acredita que ainda há tempo para agir e que a conservação da natureza deve ser um compromisso coletivo. “A natureza não está distante. Ela está no quintal, nas praças, nas cidades. E as aves são uma das formas mais sensíveis e belas de nos reconectar com ela”, afirma. Crianças, educadores, moradores urbanos: todos podem participar do esforço de preservação. A conservação não é uma tarefa exclusiva de biólogos, mas uma responsabilidade compartilhada por toda a sociedade.
O trabalho do Observatório de Aves da Mantiqueira é uma prova de que é possível construir pontes entre dados técnicos e mobilização social. Para conhecer mais sobre a iniciativa, acesse o site oficial: www.oama.eco.br.
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