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“Brasil precisa investir mais em pesquisa para lidar com novas pandemias”, diz especialista

A degradação ambiental não apenas amplia a presença de vírus transmitidos por mosquitos, como também favorece o surgimento de novas zoonoses

Biomédica, neurocientista e divulgadora científica Mellanie Fontes-Dutra (Foto: Agência Brasil | Divulgação)
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Beatriz Bevilaqua, 247 - A crise climática não é apenas ambiental: ela é também sanitária. A biomédica, neurocientista e divulgadora científica Mellanie Fontes-Dutra é categórica ao afirmar que o Brasil precisa ampliar urgentemente seus investimentos em ciência e vigilância para estar preparado para a próxima pandemia que, segundo ela, pode estar mais próxima do que se imagina.

“No frio, as pessoas tendem a ficar mais em ambientes fechados e mal ventilados, o que favorece a circulação de vírus respiratórios como a Covid, a influenza e o VSR. Ainda estamos vivendo os efeitos da pandemia, e a Covid continua sendo um problema sério de saúde pública”, afirma Mellanie.

Além de integrar iniciativas como a “Rede Análise Covid” e o movimento “Todos Pelas Vacinas”, Mellanie tem sido uma das vozes mais ativas no combate à desinformação e na defesa da ciência como eixo central das políticas públicas de saúde. “Ainda vemos muitas fake news circulando sobre vacinas, inclusive dizendo que causam câncer ou modificam o DNA. São absurdos que já foram desmentidos diversas vezes, mas continuam sendo reciclados com nova roupagem. Isso coloca vidas em risco”, alerta.

A crise climática como vetor de doenças

A relação entre saúde e clima, para Mellanie, é direta e urgente. Ela explica que o aumento das temperaturas e a alteração nos padrões de chuva favorecem a proliferação de vetores como o Aedes aegypti, responsável por epidemias de dengue, chikungunya e zika. “O surto de dengue de 2024 foi o maior da nossa história. E isso não é coincidência pois tivemos um inverno atípico, mais quente, e um padrão de chuvas intercalado com calor intenso. É a ‘receita perfeita’ para surtos”, explica.

Mas o risco vai além dos vírus transmitidos por mosquitos. A degradação ambiental também favorece o surgimento de novas zoonoses. “Quando destruímos ecossistemas, forçamos animais silvestres a se aproximarem de zonas urbanas. E com isso aumentamos o risco de contato com patógenos antes desconhecidos. Foi assim que, provavelmente, o vírus da Covid-19 conseguiu se adaptar para circular entre humanos.”

Embora não haja como prever com exatidão quando ocorrerá uma nova pandemia, Mellanie afirma que os sinais já estão no radar da comunidade científica. Um deles é a gripe aviária, que já atinge mamíferos e, pela primeira vez no Brasil, chegou a granjas comerciais. “Pode ser nosso próximo grande desafio. Mas há também o avanço preocupante de bactérias multirresistentes e fungos como a Candida auris, que, com o aumento da temperatura, têm se tornado mais resistentes e perigosos.”

“A crise climática cria um ambiente propício para o surgimento e agravamento de mais de 200 doenças infecciosas já conhecidas, como mostra um estudo recente. É uma crise de saúde pública, econômica, política e social. Uma multi-crise que atravessa toda a sociedade e ainda não estamos falando o suficiente sobre isso.”

Políticas públicas e vigilância científica

Para enfrentar esse cenário, Mellanie defende o fortalecimento de políticas públicas baseadas na ciência e o investimento contínuo em tecnologias de vigilância genômica. “Durante a pandemia da Covid, essa vigilância se expandiu. Hoje, conseguimos rastrear a evolução genética de vírus em humanos, animais domésticos e selvagens. Isso precisa ser mantido e ampliado.”

Ela também reforça a importância de levar essa vigilância para além dos centros urbanos: “Precisamos observar o que está circulando na vida selvagem. A prevenção é sempre o melhor caminho. Desenvolver vacinas e medicamentos antes de uma crise é muito mais eficiente  e menos doloroso do que agir no meio do caos.”

Apesar dos desafios, Mellanie mantém a esperança de que a ciência, quando apoiada por políticas públicas sérias, pode evitar novas catástrofes sanitárias. “A tecnologia está avançando. A questão é: vamos dar o suporte necessário para que ela nos proteja?”

Assista na íntegra aqui:

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