Um Congresso de milionários que legisla para milionários
Quem afirmar que não existe luta de classes estará mentindo. A sub-representação dos pobres no parlamento mata a luta pela igualdade
Desnecessário buscar explicações profundas, tampouco “bastidores”, para justificar o golpe no governo e nos pobres que o Congresso Nacional acaba de aplicar ao derrubar o decreto que aumentava a alíquota do IOF. A elite brasileira predomina no parlamento, e o parlamento brasileiro incorpora os princípios históricos dela. Empareda o Executivo, chantageia-o. E busca muito mais que emendas que lhe garantam a reeleição: objetiva manter o Brasil no topo do ranking da desigualdade.
Quem afirmar que não existe luta de classes estará mentindo, e nessa luta a classe alta mostra-se cada vez mais forte, já que constitui o Congresso Nacional.
É bem fácil constatar as razões que levam deputados e senadores a trabalhar em prol dos endinheirados e contra os pobres: 60% dos deputados federais e 70% dos senadores declararam patrimônio superior a 1 milhão de reais ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições de 2022.
Boa parte dos congressistas possui renda adicional ao salário (39,3 mil reais) entre 20 mil reais e 100 mil reais. Vinte e cinco por cento deles declaram-se donos de fazendas, construtoras, transportadoras, clínicas, escolas privadas, rede de lojas e outros. O restante são profissionais liberais bem-sucedidos, pastores, bispos, apresentadores de rádio e TV.
Uma análise combinada de patrimônio, profissão e nível de instrução revela que a absoluta maioria dos parlamentares pertence à classe alta ou à classe média alta. Os representantes da faixa mais vulnerável da sociedade são numericamente irrelevantes.
As casas legislativas, por conseguinte, não refletem a disparidade de renda - e de oportunidades - da sociedade brasileira, portanto não estão aptas a representá-la. A sub-representação dos pobres no parlamento mata a luta pela igualdade. A única solução é que o nosso sistema político e eleitoral deixe de constituir uma barreira à ascensão política de representantes da classe baixa.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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