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Washington Araújo

Jornalista, escritor e professor. Mestre em Cinema e psicanalista. Pesquisador de IA e redes sociais. Apresenta o podcast 1844, Spotify.

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Tsinghua, fábrica de mentes que governam o Gigante Asiático

Além de estadistas, a universidade formou gigantes nas ciências

Universidade de Tsinghua, em Pequim, China (Foto: Reuters)

Em um mundo onde a inteligência artificial redefine os limites do pensamento humano e a informação circula à velocidade de um clique, a educação tornou-se o alicerce indispensável para navegar as complexidades do século XXI. Não é mais suficiente acumular dados ou dominar técnicas; a verdadeira educação deve forjar mentes críticas, corpos resilientes, emoções equilibradas e caráter inabalável. A formação integral — da mente ao coração, do físico ao ético — é o que capacita indivíduos a liderar, inovar e viver plenamente em uma era de transformações vertiginosas.

A educação, nesse contexto, não pode ser fragmentada. Ensinar é mais do que transmitir conhecimento; é ensinar a viver. É cultivar a curiosidade que desbrava fronteiras, a disciplina que constrói nações e a empatia que une povos. Universidades como a Tsinghua, em Pequim, personificam essa visão holística, unindo ciência, tecnologia, humanidades e liderança para formar não apenas profissionais, mas cidadãos globais que moldam o futuro.

Nesse cenário, a Tsinghua não é apenas a melhor universidade da China, mas um símbolo de como a educação integral pode transformar sociedades.

Fundada em 1911 como Tsing Hua Imperial College, a Tsinghua University nasceu de um momento de crise nacional, após a Rebelião dos Boxers, quando indenizações impostas pelos Estados Unidos foram parcialmente redirecionadas para criar uma escola preparatória que enviaria estudantes chineses ao exterior. Hoje, consolidada como a 20ª melhor universidade do mundo no QS World University Rankings 2025, ela transcende suas origens, tornando-se o coração da elite tecnocrática chinesa.

Com um orçamento de US$ 3 bilhões em 2024 (cerca de R$ 16 bilhões), a Tsinghua supera em quatro vezes os recursos das maiores universidades federais brasileiras, como a UFRJ (R$ 4,3 bilhões) e a UFMG (R$ 3 bilhões). Suas 21 escolas, 59 departamentos e mais de 300 centros de pesquisa — incluindo laboratórios nacionais de tecnologia da informação e televisão digital — sustentam uma oferta acadêmica robusta: 51 cursos de bacharelado, 139 mestrados e 107 doutorados, abrangendo engenharia, ciências, artes, medicina, direito e economia.

Formando líderes com visão integral - A Tsinghua é um celeiro de líderes que combinam excelência técnica com uma visão estratégica para o desenvolvimento nacional. Seus ex-alunos incluem Xi Jinping, presidente da China, formado em engenharia química em 1979, e Hu Jintao, ex-presidente, graduado em engenharia hidráulica em 1964. Zhu Rongji, ex-primeiro-ministro, e Wu Bangguo, ex-presidente do Congresso Nacional do Povo, também passaram por seus corredores. Desde 2016, graduados de Tsinghua ocupam cargos políticos de alto escalão em proporção significativamente maior que os de outras universidades chinesas, evidenciando sua influência no poder.

Além de estadistas, a universidade formou gigantes nas ciências, como Chen-Ning Yang, Nobel de Física em 1957 por sua descoberta sobre a não-conservação da paridade, e Shiing-Shen Chern, laureado com o Prêmio Wolf em matemática. No setor privado, ex-alunos como Sun Hongbin, magnata imobiliário, e Jiang Bin, presidente da Goertek, lideram indústrias inovadoras. Essa capacidade de formar líderes multifacetados reflete a abordagem integral da Tsinghua, que valoriza tanto o rigor intelectual quanto o compromisso com o bem coletivo.

Como ensina um sábio persa, exilado no século XIX na cidade-prisão ‘Akká (na antiga Palestina), “o homem é uma mina rica em gemas de inestimável valor, e apenas a educação pode revelar esses tesouros” para o bem da humanidade. A Tsinghua exemplifica essa missão ao cultivar não apenas competências técnicas, mas também virtudes como integridade e serviço. Harmonizando ciência e ética, a universidade forma líderes que transformam conhecimento em ação, promovendo progresso e unidade global.

Comparada a gigantes ocidentais como o MIT, Stanford e a Universidade de Oxford, a Tsinghua destaca-se por sua escala e alinhamento estratégico.

O MIT, referência em engenharia, oferece 44 cursos de graduação e 110 programas de pós-graduação, com 11.500 alunos.

Stanford, berço do Vale do Silício, tem 70 cursos de graduação, 200 programas de pós-graduação e 17.500 estudantes.

Oxford, com sua tradição humanística, conta com 50 cursos de graduação, 350 programas de pós-graduação e 26.000 alunos.

A Tsinghua, com 51 cursos de graduação, 246 programas de pós-graduação e cerca de 50.000 estudantes — incluindo 3.700 internacionais de mais de 100 países —, rivaliza em diversidade e impacto.

Enquanto MIT e Stanford impulsionam a inovação tecnológica por meio de parcerias com a indústria, e Oxford forma líderes políticos e intelectuais com ênfase nas humanidades, a Tsinghua integra tecnologia e política em prol dos objetivos nacionais da China. Seus graduados não apenas criam startups, como no Vale do Silício, mas também assumem ministérios e estatais, guiando o país rumo à liderança global.

Um campus vivo e histórico - O campus de Tsinghua, no distrito de Haidian, é uma fusão de tradição e modernidade. Jardins da dinastia Qing convivem com edifícios de inspiração ocidental, ecoando sua herança americana. A vida estudantil é vibrante, com mais de 200 associações, de clubes de artes cênicas a grupos de voluntariado. Eventos como a maratona anual e o Festival Cultural Internacional reforçam o senso de comunidade. A universidade também fomenta o empreendedorismo por meio do x-lab e do iCenter, conectando estudantes a startups e indústrias.

Uma peculiaridade é sua integração com o Partido Comunista Chinês. Em 2024, a Tsinghua subordinou seu escritório presidencial ao comitê do partido, reforçando sua ligação com o governo. Essa proximidade, porém, gerou controvérsias, como as alegações de envolvimento em ciberespionagem relatadas pelo Financial Times em 2018, que a universidade nega.

A Tsinghua prova que a educação deve ser uma árvore frutífera, voltada ao serviço da humanidade. Conhecimento sem propósito é estéril; educação sem ética é perigosa. Ao integrar ciência e espiritualidade, como duas asas que elevam a inteligência humana, a Tsinghua forma líderes que não apenas dominam tecnologias, mas as aplicam para promover justiça, paz e unidade. Em um mundo dividido, sua missão ressoa: educar é construir um futuro em que o saber sirva à vida.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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