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Ricardo Queiroz Pinheiro

Bibliotecário e pesquisador, militante do livro e leitura, doutorando em Ciências Humanas e Sociais (UFABC)

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Trump joga o luminol da hipocrisia

A tarifa é só a isca. O que está em jogo é se o Brasil cederá ajoelhado ou se levantará

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - 27/06/2025 (Foto: REUTERS/Ken Cedeno)

A decisão de Trump de impor 50% de tarifa sobre produtos brasileiros expõe, de uma vez, a farsa de várias narrativas. A extrema direita brasileira, que vive repetindo slogans sobre patriotismo e soberania, aplaude o líder estrangeiro que ataca diretamente a economia nacional. O agronegócio — que posou de aliado estratégico de Trump e Bolsonaro — agora sente no bolso o custo de ter confundido afinidade ideológica com vantagem comercial. Patriotismo de joelhos tem prazo de validade. Trump jogou o luminol que não revela marcas de sangue, mas da hipocrisia dessa gente.

O mercado, por sua vez, que enche a boca para defender “abertura”, “competitividade” e “livre comércio”, revela mais uma vez que seus princípios só valem para os outros. Os Estados Unidos sempre foram seletivamente protecionistas — Trump apenas leva isso ao paroxismo, sem disfarce. Na prática, mostra que o capitalismo real não é uma disputa de iguais em campo neutro, mas uma engrenagem de força, pressão e privilégios. A “mão invisível” só opera quando favorece os mais fortes.

Basta lembrar o que sempre dizem: que o Estado deve ser mínimo, que o Brasil precisa parar de proteger sua indústria, que subsídios são distorções, que o mundo valoriza acordos multilaterais e estabilidade institucional. Pois bem: Trump desmonta tudo isso com uma canetada — e ninguém chama de intervencionismo, de populismo ou de ameaça à ordem global. Quando a cartilha liberal é rasgada em inglês, parece que vira geopolítica madura. Já quando o Brasil ensaia qualquer movimento de defesa econômica, logo surge o coro acusando chavismo, atraso e “fuga de investidores”.

No fundo, os liberais que juram fidelidade ao mercado vivem de benesses do Estado brasileiro: crédito barato, isenções, incentivos, blindagens. E a extrema direita, que posa de nacionalista, sempre se curvou aos interesses de fora quando vieram embalados com o selo de Washington. A tarifa de Trump não contradiz esse sistema — apenas o revela. Expõe a hipocrisia de quem nunca defendeu soberania, só defendia seus próprios privilégios e um discurso farsesco para enganar incautos.

O viralatismo vai culpar Lula, Moraes, o Foro de São Paulo, a gastança, a mamadeira de pipoca, o diabo. Mas nós temos que estar preparados para responder à altura — nas ruas e nas redes. Porque a tarifa é só a isca. O que está em jogo é se o Brasil cederá ajoelhado ou se levantará.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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