"Tnks Trump": o inimigo mostrou o rosto
"As cartas estão na mesa, as máscaras caíram e os setores democráticos do país não podem mais fingir neutralidade", escrevem Rey Aragon e Sara Goes
Por Reynaldo Aragon e Sara Goes
Trump rompeu o silêncio e declarou apoio aberto a Bolsonaro, atacando diretamente o sistema de Justiça e a soberania brasileira. A extrema direita global mostrou suas cartas e agora não há mais espaço para ilusões, vacilos ou neutralidade. O golpe é internacional e resistência precisa ser total.
O dia em que as cartas foram lançadas
No dia 7 de julho de 2025, o presidente Donald Trump fez o que muitos analistas já apontavam como inevitável e o que a ala psiquiátrica do fascismo brasileiro ansiava, declarou apoio explícito e agressivo a Jair Bolsonaro, afirmando que o ex-presidente brasileiro “não é culpado de nada” e está sendo vítima de uma “caça às bruxas”. A frase, que poderia ter saído de qualquer perfil bolsonarista nas redes sociais, foi o disparo simbólico de uma ofensiva internacional em curso para blindar Bolsonaro, sabotar sua responsabilização judicial e fragilizar as instituições brasileiras diante das eleições de 2026. A escolha do momento não foi aleatória, a declaração veio logo após o encerramento da 17ª Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, evento que reafirmou a centralidade diplomática do Brasil na construção de um eixo multilateral alternativo ao domínio ocidental. Lula recebeu chefes de Estado do Sul Global, celebrou o fortalecimento do bloco e demonstrou que o Brasil pode atuar no mundo com autonomia e dignidade. Essa demonstração de soberania foi um gatilho direto para Trump e seus aliados.
Trump está acompanhando de perto a articulação internacional do BRICS. A confirmação veio de sua porta-voz, Karoline Leavitt, que declarou que o ex-presidente não vê os países do bloco como mais fortes, mas sim como atores que estariam tentando minar os interesses dos Estados Unidos — algo que, segundo ela, “não é aceitável para ele”. A fala evidencia o incômodo com a ampliação do bloco, que passou a incluir países como Irã, Egito, Etiópia, Argentina, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Trata-se de uma reação a uma nova configuração geopolítica em formação. Nesse contexto, o ataque de Trump não mira apenas Bolsonaro, mas o Brasil que ousa se tornar sujeito da política global, mediar conflitos, defender a multipolaridade e sediar o BRICS. O trumpismo global tenta reverter sua derrota simbólica nas urnas brasileiras e reativar a lógica da tutela. Quando a extrema direita internacional fala em “perseguição”, o que projeta é o medo de um Sul Global articulado, soberano, com justiça social e vocação diplomática. Não é sobre Lula, é sobre o Brasil que escapa ao script colonial.
A resposta do governo brasileiro foi direta e correta diante da tentativa de interferência externa. Gleisi Hoffmann lembrou que o tempo da subserviência aos Estados Unidos acabou com Bolsonaro, o presidente que prestava continência à bandeira americana enquanto sabotava os interesses nacionais. Lula, por sua vez, respondeu como chefe de Estado, reafirmando que o Brasil é soberano, que suas instituições são sólidas e que ninguém está acima da lei. Na própria Cúpula do BRICS, Lula desarmou a chantagem simbólica do trumpismo, recusando a lógica da ameaça digital como forma de interlocução entre nações. “Nós não queremos um imperador, nós somos países soberanos”, afirmou, deixando claro que, no xadrez da nova ordem multipolar, quem quiser dialogar com o Brasil terá que respeitar sua soberania — inclusive na nuvem. A frase “esse país tem um dono chamado povo brasileiro” não foi apenas uma defesa interna, foi um sinal ao mundo de que o Brasil não aceitará tutela disfarçada de opinião. A resposta foi firme e necessária. Mas é só o começo.
Este artigo nasce justamente desse ponto de inflexão. As cartas estão na mesa, as máscaras caíram e os setores democráticos do país não podem mais fingir neutralidade. Ou enfrentamos essa ofensiva com inteligência, estratégia e firmeza, ou seremos esmagados por ela em 2026. Nos próximos tópicos, vamos demonstrar que o gesto de Trump integra uma engrenagem muito maior, com raízes profundas, financiadores poderosos e um projeto internacional de recolonização econômica e cultural do Sul Global. Mas também mostraremos que há força, tempo e caminhos reais para resistir e vencer.
A internacionalização da extrema direita: o eixo Trump-Bolsonaro
Bolsonaro sempre teve em Trump uma referência de poder. Submeteu o Brasil aos interesses estratégicos dos Estados Unidos, entregou o pré-sal e a base de Alcântara, atacou o STF, o Congresso, os direitos humanos e os mecanismos de controle democrático. Sua subordinação era explícita, vocal e coreografada. Para Trump, Bolsonaro foi funcional. Um instrumento para manter a América do Sul sob vigilância geopolítica e como zona de influência dos Estados Unidos.
A vitória de Lula em 2022 rompeu esse ciclo. Mais do que um triunfo eleitoral, foi a afirmação de que o Brasil poderia retomar sua soberania, reconstruir alianças fora da lógica de subserviência e exercer um papel protagonista no rearranjo global. A resposta veio antes mesmo da posse. A guerra híbrida se intensificou, com campanhas de desinformação, ataques institucionais, sabotagem econômica e chantagens articuladas por dentro e por fora do país.
Durante esse período, Trump observava tudo de longe, com um misto de indiferença e desdém. Não era segredo para ninguém que Bolsonaro jamais despertou nele a menor empatia. Nem o desprezo de verdade, daqueles que se gasta com iguais, mas algo mais próximo do tédio. Quando Trump foi preso em Nova York, Bolsonaro correu para defendê-lo. Não ganhou sequer um like. Quando lançou sua candidatura, a família Bolsonaro implorou por um aceno. Recebeu gelo. Eduardo, o embaixador informal da extrema direita brasileira nos Estados Unidos, fez de tudo. Viajou, puxou saco, tentou se infiltrar nos bastidores trumpistas. Saiu com fotos mal enquadradas e olhares de lado. Na posse de Trump, quando tudo ainda parecia promissor, a família que hoje depende da proteção de passaportes estrangeiros ficou do lado de fora, na neve, tentando se esquentar com selfies. Foi a mais patética metáfora da irrelevância.
Mas o jogo virou. Com Lula crescendo no cenário internacional e Trump encurralado por processos, o Brasil voltou a ser uma peça útil. A declaração recente de Trump em defesa de Bolsonaro escancara uma nova etapa dessa ofensiva. Não se trata de solidariedade pessoal, mas de reposicionar o trumpismo no tabuleiro brasileiro. É uma intervenção direta nos assuntos internos do Brasil, com cálculo estratégico e objetivos claros: deslegitimar o sistema de justiça, enfraquecer o governo Lula e manter viva a chama do golpismo. A extrema direita internacional perdeu o medo de parecer golpista, porque confia na força de sua rede.
Esse eixo opera sustentado por estruturas como a Heritage Foundation e a Atlas Network, com presença consolidada na América Latina, e conta com o financiamento de figuras como Elon Musk e Peter Thiel, que investem em plataformas digitais de desinformação, tecnologias de vigilância e discursos libertários de fachada. No Brasil, esse sistema se enraíza em setores do Judiciário, do Ministério Público, das polícias, das Forças Armadas e do Congresso, que seguem sabotando o governo por dentro.
A novidade é que o que antes se desenhava nos bastidores agora se apresenta em cena aberta. E isso muda o jogo. Ao sair das sombras, a aliança se torna identificável, combatível e politicamente vulnerável. Não há mais espaço para o negacionismo analítico. O inimigo se mostrou.
Cabe à democracia brasileira responder com inteligência, coragem e iniciativa. Porque o golpismo é internacional, mas a resistência também pode ser. E deve ser.
A retórica como arma do imperialismo e a engrenagem transnacional do golpismo
A defesa de Trump a Bolsonaro não é gesto de amizade, mas movimento calculado numa guerra simbólica e estratégica. “Caça às bruxas”, expressão usada por Trump, blinda a si e a Bolsonaro e revela a tática: transformar processos judiciais em perseguições, criminosos em mártires, golpistas em vítimas. A linguagem atua na saturação do debate público, no vitimismo performático, na inversão moral. Quando Bolsonaro vira vítima, a Justiça vira inquisidora. Quando o golpe é opinião política, a democracia passa a ser o problema. O objetivo: interditar o Judiciário, intimidar procuradores, corroer a legitimidade das eleições, justificar nova ofensiva contra as urnas.
Não é invenção. A Lava Jato foi ensaio. A “corrupção sistêmica” justificou a destruição do sistema político, a prisão de Lula, o colapso de empresas estratégicas. Agora, o script se repete com nova maquiagem: o “golpe legítimo”, a “manifestação pacífica”, o “patriotismo injustiçado”. A corrosão institucional começa pela linguagem. Quando as palavras perdem o sentido, o Estado perde o alicerce.
O ataque de Trump ao sistema de justiça brasileiro, em nome de Bolsonaro, reafirma o velho código imperial: o Brasil só serve quando submisso. A retórica se atualiza — parcerias estratégicas, combate à corrupção, defesa da liberdade — mas a lógica permanece. O bolsonarismo representou sua forma mais explícita: entrega do pré-sal, desmonte do Itamaraty, lobby direto da Chevron, destruição do BNDES. Não se trata de proteger Bolsonaro, mas de restaurar o modelo de subordinação, com acesso irrestrito a recursos, controle informacional e submissão diplomática. Bolsonaro não como líder, mas como método.
Parte das elites brasileiras segue aplaudindo. Banqueiros, juristas, empresários e militares continuam preferindo um Brasil colonizado, desde que mantenham seus privilégios. Aplaudiram Moro, promoveram Dallagnol, elegeram um capitão expulso do Exército. Agora, fingem espanto com Trump, mas foram parte do projeto que o trouxe até aqui.
Por trás dessa lógica, opera uma engrenagem transnacional de desestabilização: financiamento internacional, think tanks ideológicos, tecnologias de desinformação, articulação institucional. O dinheiro vem de bilionários como Musk, Thiel, Koch. A doutrina, de fundações como Heritage, Hoover, Instituto Millenium. A manipulação tecnológica conta com bots, algoritmos, deepfakes, impulsionamento massivo, sabotagem da moderação e incentivo ao discurso de ódio. E a infiltração atinge Judiciário, Forças Armadas, Congresso, imprensa. A Lava Jato, articulada com o Departamento de Justiça dos EUA, foi só um exemplo.
Nada disso desapareceu com a derrota de Bolsonaro. Recuou, reorganizou-se, mergulhou nas redes e prepara 2026. O gesto de Trump sinaliza que a engrenagem voltou a girar. A guerra está em curso: geopolítica, informacional, tecnológica. Não se vence com discursos esperançosos, mas com estratégia, comunicação, coragem. O inimigo não se esconde mais. Age. E espera que ninguém reaja.
A resposta do governo Lula à ingerência de Trump foi um marco de soberania e enfrentamento. Lula manteve a institucionalidade sem ceder à provocação, enquanto Gleisi Hoffmann fez o gesto político essencial de nomear o inimigo, deixando claro que a defesa de Bolsonaro por Trump não é um gesto isolado, mas parte de uma ofensiva transnacional contra a democracia brasileira. O governo demonstra disposição inédita de resistir a essa ameaça híbrida, mas a firmeza institucional precisa se transformar em estratégia ampla de mobilização social, combate narrativo e depuração do próprio Estado.
Não estamos diante de um embate ideológico convencional, mas de uma guerra declarada por uma extrema-direita que despreza a democracia e age para destruí-la. A falsa neutralidade virou cumplicidade, e o discurso moderado passou a funcionar como cobertura para a sabotagem em curso. O gesto de Trump rasga qualquer véu de ambiguidade: ou se está do lado do pacto democrático, com coragem e ação, ou se contribui para o avanço golpista. A escolha está posta. E não há mais tempo para ilusão centrista ou covardia institucional.
Com o apoio explícito de Trump ao golpismo brasileiro, não restam dúvidas, a ameaça à democracia é articulada, transnacional e estruturada. Já não basta punir os executores, é preciso desmontar a engrenagem que organiza, financia e protege o projeto autoritário, enraizado em think tanks, plataformas digitais, lobbies internacionais e setores tutelados do Estado. O inimigo agora é visível, o silêncio não protege e a resposta precisa ser estratégica, institucional e popular. Ou se mira na cabecinha, ou o Brasil volta à condição de colônia sob nova fachada.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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