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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: [email protected]

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“Parecia que ele não tinha levado uma facada. Ele disse: ‘ganhamos a eleição’”, conta Julian Lemos sobre Bolsonaro

O ex-deputado e coordenador da campanha bolsonarista em 2018 revelou detalhes intrigantes sobre o episódio em Juiz de Fora

Julian e Bolsonaro, em encontro na praia, antes do episódio da facada (Foto: Reprodução)

Julian Lemos afirma que a facada existiu, mas revelou profundas dúvidas sobre o cenário do atentado: “Facada eu sei que teve. Eu só não sei se encomendaram na perna ou na barriga, se era pra empurrar a cabecinha ou empurrar o talo todo, eu não sei.”

Ele relata que o comportamento de Adélio Bispo de Oliveira  naquele 6 de setembro chamou sua atenção quando viu as imagens no documentário “Bolsonaro e Adélio - Uma fakeada no coração do Brasil”, mas, acrescenta, que, estranhamente, esse comportamento foi ignorado pelos seguranças.

“Dificilmente eu, Julian Lemos, não teria percebido o Adélio, porque ele era um corpo estranho no meio daquela multidão. Ele era praticamente um urubu no meio de papagaio.” Julian Lemos é empresário na área de segurança.

“Ele (Adélio) era obstinado. A galera empurrava e ele ali. Ninguém viu, cara? Isso aí me chama atenção. Não sei te explicar. Não é usual, não é assim que funciona.”

Segundo Lemos, os seguranças falharam de forma inexplicável: “A gente tá falando aqui de homens treinados para fazer segurança. E o cara foi de primeira, amigo. De segunda, pra não dizer de primeira.” E acrescentou: “Não era pra ter acontecido.” O atentado aconteceu na segunda tentativa, depois que Adélio derrubou um segurança ao tentar atingir Bolsonaro.

E ao visitar o então candidato no hospital, três dias depois, notou uma reação completamente fora do esperado:

“Quando eu chego na segunda-feira no hospital, Jair Bolsonaro só não soltou foguetão. Disse: ‘Aí não adianta ninguém fazer mais nada, a gente ganhou a eleição’. Só faltou ele fazer ‘ihu’, como ele faz.”

Perguntas sem resposta

A entrevista e o documentário apresentam uma série de pontos obscuros:

  • Adélio Bispo fez curso de tiro em junho de 2018 no Clube .38, em Florianópolis — frequentado por Carlos e Eduardo Bolsonaro.

  • Carlos Bolsonaro estava em Florianópolis naquele mesmo dia. Na entrada do clube, está  emoldurado o certificado da medalha que Carlos Bolsonaro concedeu, em nome da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, o que demonstra ligação entre o vereador e a entidade.

  • Uma imagem do documentário mostra Adélio caminhando em direção a Carlos Bolsonaro pouco antes da passeata. Carlos, ao vê-lo, se tranca no carro, evitando contato.

  • Os seguranças de Bolsonaro foram promovidos após o atentado. Três deles fundaram o que a Polícia Federal classificou como a Abin Paralela, uma central de espionagem política do governo bolsonarista.

O documentário também provocou reações entre antigos aliados de Bolsonaro. O ex-deputado Alexandre Frota, ao assisti-lo, afirmou:

“Depois que eu vi o documentário, eu repensei o episódio.”

Questionado se hoje acredita que a facada foi falsa, respondeu: “Do Bolsonaro, eu espero tudo.”

Julian Lemos também fez coro: “Depois que eu vi seu documentário, eu fiquei em dúvida. Você fez um trabalho investigativo.”

Lemos ainda comentou os bastidores do afastamento do seu grupo:

“A segurança que falhou foi promovida. Carlos Bolsonaro começou a me atacar por ciúmes, porque eu estava próximo demais. Fui afastado depois.”

E criticou a falta de apuração séria: “A investigação foi mal feita. Muita coisa foi ignorada. A mídia engoliu a versão oficial sem fazer perguntas.”

Julian Lemos revela um cenário repleto de contradições. A facada em Bolsonaro está cercada de omissões, conveniências e falhas que desafiam a versão oficial. 

Com declarações como “parecia que ele não tinha levado uma facada” e “só faltou ele soltar foguetão”, Lemos sugeriu que a reação do então candidato já indicava que a facada se transformaria na maior virada política da eleição. 

O que aconteceu depois que o documentário foi ao ar é uma demonstração do que, certamente, ocorrerá com a mídia independente em razão do julgamento do artigo 19 do Marco Civil da internet. A Justiça, provocada, se recusou a censurar, mas o YouTube, que é de uma empresa privada, o retirou da plataforma.

O episódio da facada em Juiz de Fora é um caso em aberto. Que não sejam caladas as vozes que ousam apontar suas contradições e inconsistências.

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Veja a entrevista de Julian Lemos:

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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